A Uefa não permitiu que a Allianz Arena, em Munique, seja iluminada com as cores da bandeira LGBTQ+ durante o jogo entre Alemanha e Hungria, que acontece hoje, pela Eurocopa, ação que seria tomada em reação à criação de uma nova lei que proíbe a exibição e "promoção da homossexualidade" no país entre menores de 18 anos, medida criticada pela própria União Europeia.
Em sua participação no programa UOL News Esporte, com Domitila Becker, Mauro Cezar Pereira comenta o veto da Uefa e vê a decisão da entidade como um agrado a Viktor Orbán, presidente da Hungria, país que foi o primeiro a receber um estádio lotado em jogos da Euro atual, em meio à pandemia. Para o jornalista, esta é mais uma demonstração de que a Uefa só é apolítica quando a convém.
"A Uefa com a Eurocopa tem uma série de contradições, de absurdos e esse é o maior deles, primeiro porque a Uefa toma essa posição nitidamente para não desagradar ao ditador de plantão na Hungria, o senhor Viktor Orbán, que há 11 anos comanda o país, é um extrema-direitista que busca mais popularidade no futebol, tem eleição no país no ano que vem e ele usa o futebol para isso. Curiosamente, a Hungria foi o estádio, o primeiro a aparecer lotado nesse período aí de pandemia com vacinação. Nos demais países você tem um certo cuidado", diz Mauro.
"Pouco se fala sobre isso e é claro que ali é uma propaganda política, jogadores fazendo uma saudação que me parece que tem um viés nacionalista muito estranho no final do jogo, para não usar uma outra palavra eu vou falar nacionalista. [?] Em um ambiente como esse, governado por elemento como esse, que aliás é um dos inspiradores de Jair Bolsonaro, diga-se de passagem, o senhor Viktor Orbán, é claro que cria toda uma situação. Por que esse lugar recebe, esse país recebe nesse momento jogos?", questiona.
Mauro afirma que no Brasil se critica muito a Conmebol nos erros cometidos pela entidade, mas considera que muitas vezes se fala menos sobre os problemas da Uefa como deveria, apontando que a entidade está permitindo o uso político do futebol por um governo de medidas questionáveis.
"A Uefa é apolítica quando interessa, quando não interessa, não é. Isso acontece com clube de futebol, acontece com confederações e a Uefa não é diferente da Conmebol com relação a isso, o que ela faz nessa Eurocopa, itinerante, por vários países em meio à pandemia, é bizarro, é absurdo, eu acho que beira a irresponsabilidade e essa reação só carimba, só chancela tudo o que a Uefa é de fato. Foi com o Platini e continua sendo porque virar as costas para isso para agradar o senhor Viktor Orbán é um deboche na cara de todo mundo", diz Mauro.
"É muito grave porque extrapola até o futebol, é o uso do futebol para fins políticos, para favorecer interesses de políticos que são no mínimo questionáveis e a Uefa chancela isso tudo e vai contra o movimento que não é político, ele é social e mundial, só não é totalmente porque alguns países ainda são comandados por elementos que resistem a isso. Existe uma lei que eles tentam aprovar na Hungria, inclusive, que é absurda, que tenta colocar no mesmo patamar de pedofilia a homossexualidade, transformar a pessoa que é homossexual em alguém equivalente a um pedófilo. Isso é coisa e um governo que se não é fascista, é algo muito parecido. É para reverenciar esse cidadão que a dona Uefa decidiu não permitir que as cores fossem colocadas no estádio de Munique", conclui.
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