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Por que Fred encanta Tite e alcançou marca de Neymar, mas mantém rejeição

Fred em campo contra a Colômbia, sua quinta partida consecutiva como titular da seleção brasileira - Lucas Figueiredo/CBF
Fred em campo contra a Colômbia, sua quinta partida consecutiva como titular da seleção brasileira Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Danilo Lavieri e Gabriel Carneiro

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/06/2021 04h00

Fred foi definido por Tite como "ponto de equilíbrio" quando voltou a ser convocado pela seleção brasileira depois de quase três anos. Ele assumiu a titularidade durante uma suspensão de Douglas Luiz e não saiu mais. São cinco jogos seguidos desde o início por Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar e Copa América, uma marca que só Danilo e Neymar detêm em meio às muitas mudanças de escalação deste mês.

Mas se o camisa 8 convenceu Tite de que é o homem certo para jogar ao lado de Casemiro no meio-campo, o que explica a rejeição que ainda sofre de parte da opinião pública e torcedores nas redes sociais? É a pergunta que o UOL Esporte tenta responder.

Como é o meio-campo da seleção

Tite varia esquemas táticos e formas de jogar, mas a base do meio-campo é Casemiro como um primeiro volante fixo na proteção da zaga — Fabinho é seu reserva imediato. Há então um segundo volante, que neste ciclo já foram Arthur e Douglas Luiz e hoje é Fred; e um meia, que na maior parte do tempo foi Philippe Coutinho e hoje é Everton Ribeiro ou Lucas Paquetá, com Neymar às vezes escalado por ali.

O técnico da seleção já foi perguntado se o time funcionaria sem esse segundo volante, mas com dois meias mais ofensivos na criação e disse que sim. No entanto, ainda não escalou o time dessa forma nos cinco jogos desse mês. Como Fred foi titular em todos, o papel de meia central coube a Paquetá (duas vezes), Firmino, Neymar e Everton Ribeiro.

A questão é que Fred foi substituído em quatro oportunidades. Deu lugar para Paquetá duas vezes (Paraguai e Colômbia), outra para Gabriel Jesus (Equador) e mais uma para Fabinho, o único teoricamente mais defensivo do que ele (Venezuela). No momento em que Fred foi substituído nestes quatro jogos o Brasil estava uma vez perdendo (Colômbia) e outra vez empatando (Equador), o que representa uma iniciativa mais ofensiva de Tite em busca do gol. Mas e se em vez da necessidade de sair ele já começasse no banco?

O "ponto de equilíbrio" da equipe

A ideia de Tite com a escalação de Fred não é que a seleção seja um time mais defensivo, e sim que jogadores mais criativos como Neymar, os pontas, o centroavante e até o lateral-esquerdo possam ir ao ataque com menos preocupações e mais liberdade. Ele é um dos maiores especialistas do elenco no perde-pressiona que o treinador tanto gosta, é bom marcador, lida bem com situações de pressão e não sofre para dar passes verticais — contra o Peru, por exemplo, é dele a assistência para o gol de Neymar, num passe que quebrou a linha de marcação adversária (veja abaixo a partir de 2min14s).

Por característica, ele não é o jogador que vai aparecer na área e dar passe ou fazer gol, mas é quem sustenta defensivamente esse movimento sem perder toda a capacidade de chegada do meio-campo ao ataque. O tal do equilíbrio.

Esse mantra é tão real dentro dos conceitos de Tite que existe até uma lógica particular: é mais fácil Renan Lodi — um lateral-esquerdo de características ofensivas — estar em campo quando Fred também está, porque assim é propiciado o equilíbrio do time pelo setor. Sendo Alex Sandro o lateral, a probabilidade de o meio-campista ao lado de Casemiro ser mais criativo é maior. A única exceção foi na virada contra a Colômbia, quando ambos foram sacados entre os 16 e os 22 minutos do segundo tempo para que o time aumentasse o volume no ataque.

Fred - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Fred durante treino da seleção brasileira
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Relação não é de hoje

Fred tem 26 convocações e chegou nesta semana a 16 partidas pela seleção brasileira. Ele sempre fez parte do radar de Tite ao longo de cinco anos de trabalho, ainda que tenha passado a maior parte deste período sem ser chamado. Sua presença na lista de convocados para a Copa do Mundo da Rússia, aliás, é motivo de contestação até hoje.

O volante se machucou em um treinamento antes do início da Copa, mas Tite optou por mantê-lo no elenco e acabou tendo uma opção a menos durante a competição, já que ele revezou-se entre treinos mais leves e mais intensos ao longo do torneio, mas nunca atingiu os 100% do tornozelo direito e simplesmente não entrou em campo.

Poderia ter sido alternativa a Paulinho em qualquer uma das cinco partidas, ou candidato a substituir Casemiro contra a Bélgica. Fernandinho, que acabou atuando, teve má atuação. Desde então que Fred não é um nome com total aceitação, como se fosse um protegido de Tite. O volume aumenta quando é levada em conta a visão de que ele teoricamente "impede" que a seleção seja mais ofensiva.

Em entrevista ao UOL em março, Fred explicou seu estilo de jogo na melhor temporada que teve pelo Manchester United: "Eu ajudo de outras maneiras, defendendo bem, fazendo a saída de bola para o ataque, isso é importante. O futebol não se resume só em gols. Muita gente me questiona, 'ah, você precisa fazer mais gols'. Cara, quero também fazer mais gols, mas não se resume só a isso. Estou vivendo uma das melhores temporadas da minha vida e sem fazer nenhum gol ainda."

Fred - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Fred durante partida da seleção brasileira contra o Peru, a única em que ele atuou o tempo todo nesta sequência
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF