Advogado explica punição ao Cruzeiro e cita impactos se dívida não for paga
Sem dinheiro no caixa e em uma situação grave do ponto de vista financeiro — com dívida global na casa dos R$ 900 milhões — o Cruzeiro sofreu a terceira punição da Fifa — transfer ban — e está impedido de registrar novos atletas por causa de aproximadamente R$ 7 milhões não pagos ao Defensor Sporting (URU), ainda pela contratação do meia De Arrascaeta, em 2015.
Em contato com o UOL Esporte por meio de sua assessoria de imprensa, o advogado Eduardo Carlezzo, que cuida dos interesses do Defensor Sporting nessa disputa jurídica com a Raposa, explicou quais podem ser novas sanções ao clube mineiro em caso da manutenção da dívida.
"A punição ficará vigente pelas próximas três janelas de transferência ou até que o Cruzeiro pague o valor devido. Com isso, o clube não poderá contratar nenhum jogador neste período, ao menos que pague a dívida. Caso não pague ao final deste período, a gravidade da sanção aumentará, podendo ser aplicável a perda de pontos ou até o rebaixamento", explicou Carlezzo ao UOL.
Arrascaeta foi comprado pelo Cruzeiro há seis anos e neste período a Raposa teve três presidentes diferentes [Gilvan de Pinho Tavares, Wagner Pires de Sá e Sérgio Santos Rodrigues] e um conselho gestor em seu comando, quando um grupo de empresários gerenciou o clube entre o fim de 2019 e o meio de 2020. Ninguém conseguiu quitar essa pendência por causa da situação caótica do ponto de vista econômico-financeiro. E não houve até o momento pronunciamento oficial por parte dos dirigentes cruzeirenses sobre mais essa punição da entidade máxima do futebol.
"Esse é um caso que está se arrastando por um bom tempo, pois trata-se de dívida antiga, de 2015. Evidentemente, em razão disso o Defensor tem pressa no recebimento. Contudo, somos conhecedores da situação do Cruzeiro e não tínhamos expectativa quanto ao pagamento. Mantemos contato com o clube e vamos aguardar o desenrolar do assunto", disse o advogado.
Ciente do calote, já que tem conhecimento do histórico do Cruzeiro, Eduardo Carlezzo ressalta que o clube entrou com vários recursos na Corte Abritral do Esporte (TAS), mas que por um pedido do Defensor a Fifa cumpriu o regulamento e impôs nova punição à equipe mineira.
"Trata-se uma ação que tramita há vários anos perante a Fifa e a Corte de Arbitragem do Esporte, na qual o Cruzeiro fez vários recursos eminentemente protelatórios. No final de maio, a Corte de Arbitragem decidiu um aspecto disciplinar objeto de recurso do Cruzeiro, confirmando decisão anterior da Fifa, favorável ao Defensor. Com isso, foi reafirmada a decisão que dava ao Cruzeiro 30 dias para pagar uma quantia próxima a R$ 7 milhões, sob pena de ser proibido de contratar novos jogadores. Como não houve o pagamento, na terça-feira (29) pedimos a aplicação da punição e no dia de hoje [ontem, 30] a Fifa proibiu que o Cruzeiro contrate novos jogadores até que pague a dívida", ressaltou.
Corrida maluca por reforços
Antes de receber o ato punitivo da Fifa, o departamento de futebol da Raposa promoveu uma espécie de "corrida maluca" por reforços e registros na CBF antes de a punição entrar em vigor. Na ânsia por contratações, o Cruzeiro contratou sete jogadores em uma semana: os zagueiros Rhodolfo e Léo Santos, o lateral direito Norberto, o lateral esquerdo Jean Victor, além dos atacantes Wellington Nem, Keké e Eduardo, esse último como uma surpresa, já que teve o nome divulgado no Boletim Informativo Diário (BID) antes de qualquer manifestação do clube.
Terceiro transfer ban
O Cruzeiro acumula três punições com impossibilidade de registros de novos atletas. A primeira punição aconteceu em setembro de 2020, quando deixou de pagar quase R$ 8 milhões ao Zorya, da Ucrânia, pela contratação do atacante Willian Bigode, em 2014 — o jogador atualmente está no Palmeiras. Para esse problema o investidor Pedro Lourenço, dono da rede Supermercados BH, ajudou e o clube foi liberado a fazer contratações à época.
A segunda punição aconteceu em novembro do ano passado, já que o Cruzeiro não repassou ao PSTC, clube paranaense, quase R$ 3 milhões — correspondente a 20% dos direitos do jogador — pela venda do zagueiro Bruno Viana ao Olympiacos, da Grécia, em 2016. Em fevereiro de 2021 houve o pagamento da dívida, e o Cruzeiro restabeleceu seu direito de inscrever atletas.
Série C
O Cruzeiro ainda corre o risco de um rebaixamento sumário à Série C do Campeonato Brasileiro, caso não pague a dívida que tem com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pela contratação do volante Denílson, também em 2016. A pendência gira em torno de R$ 5,5 milhões e no ano passado já imputou perda de seis pontos ao time celeste, que ficou com pontuação negativa na Segunda Divisão de 2020.
Já o atacante Riascos, que deixou o Cruzeiro de forma polêmica e disse à época que sofreu até ameaças de tiros, também gerou dívida de mais de R$ 5 milhões ao clube estrelado. Essa é outro compromisso a vencer em 2021 e que pode gerar novas punições caso os mexicanos do Mazatlán não recebam os valores que haviam sido acordados.
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