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Mesmo com a Lei do Mandante, contratos fazem clubes procurarem Globo até 24

Francisco José Battistotti, presidente do Avaí e da Associação Nacional de Clubes - Alceu Atherino / AVAÍ F.C.
Francisco José Battistotti, presidente do Avaí e da Associação Nacional de Clubes Imagem: Alceu Atherino / AVAÍ F.C.

Rui Dantas

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/07/2021 04h00

Os clubes brasileiros sem contratos de transmissão de TV se apressam para planejar os próximos passos da venda dos direitos televisivos, após a aprovação da Lei do Mandante Câmara dos Deputados nesta quarta (14) e na iminência de este projeto de lei ser apreciado pelo Senado. A maior parte dos times, entretanto, está presa aos contratos que a Globo detém até 2024 com os maiores clubes brasileiros, que não dão o direito aos mandantes de venderem seus jogos, pois têm de respeitar os acordos celebrados pelos visitantes. O empecilho está fazendo o Movimento Futebol Livre, a entidade que congrega os 40 clubes das Séries A e B, a pensar na saída mais óbvia para os times que ainda precisam negociar seus direitos: fechar com a própria Globo.

A diferença é que desta vez as negociações com a emissora serão realizadas pela entidade, com os times fechados em conjunto, e não mais de maneira individualizada, que é o que vinha acontecendo até então. "Como os clubes de maior torcida já têm contrato firmados com a Globo e a Lei do Mandante caminha para passar no Senado com a Emenda que garante os contratos já firmados, entendemos que o mais natural agora seja fazermos uma negociação em conjunto com a própria Globo", afirmou Edno Melo, presidente do Náutico, atual líder da Série B.

De acordo com Melo, novos contratos para a venda de direitos de TV para os clubes ainda sem nenhum seriam assinados com duração também até 2024. Assim, todos os times estariam alinhados, o que significa que as equipes de futebol do Brasil só realmente conseguirão pôr em prática a nova Lei do Mandante daqui a três temporadas.

O presidente do Avaí e presidente da Associação Nacional de Clubes, que representa os clubes da Série B, Francisco Battistotti, corrobora o que diz Edno Melo. "Nossa sugestão é para que os clubes assinem com quer que seja até no máximo 2024, negociando sempre em bloco", frisa. "Se fizermos individualmente, como vinha sendo feito, a negociação vai depender do apelo do time e o poder de barganha dos times será menor."

A Lei do Mandante é um divisor de águas na vida financeira dos clubes brasileiros, na visão de Battistotti e de outros cartolas do futebol brasileiro, uma vez que possibilita abrir as negociações de transmissões para diversos interessados. Facebook, TikTok, Amazon, Netflix, Sky, Turner e outros, além da própria Globo e dos canais tradicionais de TV aberto, como SBT e Band, que já estudam como participar deste novo negócio.

Quem já negociou com quem

Na Série A são poucos os clubes sem contrato, mas este é o caso do Cuiabá e do Fortaleza. Entre os 7 primeiros colocados na Série B, segundo Battistotti, o líder Náutico, por exemplo, tem contrato com a Globo, o Coritiba com a Turner, o Guarani e o CRB não possuem contratos, o Goiás também está fechado com a Turner, o Sampaio Corrêa não tem contrato e o Avaí celebrou acordo com a emissora carioca. Para o executivo da ANC, a negociação da série B poderá passar dos atuais R$ 120 milhões ao ano para algo como R$ 500 milhões após a efetivação da nova lei daqui a três anos, considerando a perspectiva de concorrência entre emissoras, aplicativos e plataformas de streaming.

O consultor e especialista em análise dos balanços dos clubes de futebol do Itaú BBA, César Grafietti, é menos otimista com a previsão dos ganhos para os clubes. Ele parabeniza a união dos times em um bloco, pois, dessa forma, os times poderão evitar o que aconteceu, por exemplo, nas negociações de transmissão do Campeonato Francês. Lá, os times negociaram individualmente, o que foi prejudicial aos times de menor torcida, o que é caso de todos os clubes da Série B do Brasileirão com reais chances de subir. Grafietti acredita que a nova concorrência prevista não apresentará apetite financeiro tão alto para pagar às equipes do Brasil os valores negociados lá fora.

"Teremos, sim, interesse de novos e velhos, como Sky, Amazon, Facebook, mas não acho que a Amazon vai pagar, no Brasil, os 80 milhões de euros que a empresa desembolsou para transmitir a Champions League. E ainda tem a concorrência das piratarias", analisa. "A Lei do Mandante é melhor do que a situação que vivemos no futebol brasileiro hoje, mas temos de ter cautela com as projeções."

Até o momento da publicação desta reportagem, procurada, a Globo não se manifestou sobre o assunto.