Mesmo com a Lei do Mandante, contratos fazem clubes procurarem Globo até 24
Os clubes brasileiros sem contratos de transmissão de TV se apressam para planejar os próximos passos da venda dos direitos televisivos, após a aprovação da Lei do Mandante Câmara dos Deputados nesta quarta (14) e na iminência de este projeto de lei ser apreciado pelo Senado. A maior parte dos times, entretanto, está presa aos contratos que a Globo detém até 2024 com os maiores clubes brasileiros, que não dão o direito aos mandantes de venderem seus jogos, pois têm de respeitar os acordos celebrados pelos visitantes. O empecilho está fazendo o Movimento Futebol Livre, a entidade que congrega os 40 clubes das Séries A e B, a pensar na saída mais óbvia para os times que ainda precisam negociar seus direitos: fechar com a própria Globo.
A diferença é que desta vez as negociações com a emissora serão realizadas pela entidade, com os times fechados em conjunto, e não mais de maneira individualizada, que é o que vinha acontecendo até então. "Como os clubes de maior torcida já têm contrato firmados com a Globo e a Lei do Mandante caminha para passar no Senado com a Emenda que garante os contratos já firmados, entendemos que o mais natural agora seja fazermos uma negociação em conjunto com a própria Globo", afirmou Edno Melo, presidente do Náutico, atual líder da Série B.
De acordo com Melo, novos contratos para a venda de direitos de TV para os clubes ainda sem nenhum seriam assinados com duração também até 2024. Assim, todos os times estariam alinhados, o que significa que as equipes de futebol do Brasil só realmente conseguirão pôr em prática a nova Lei do Mandante daqui a três temporadas.
O presidente do Avaí e presidente da Associação Nacional de Clubes, que representa os clubes da Série B, Francisco Battistotti, corrobora o que diz Edno Melo. "Nossa sugestão é para que os clubes assinem com quer que seja até no máximo 2024, negociando sempre em bloco", frisa. "Se fizermos individualmente, como vinha sendo feito, a negociação vai depender do apelo do time e o poder de barganha dos times será menor."
A Lei do Mandante é um divisor de águas na vida financeira dos clubes brasileiros, na visão de Battistotti e de outros cartolas do futebol brasileiro, uma vez que possibilita abrir as negociações de transmissões para diversos interessados. Facebook, TikTok, Amazon, Netflix, Sky, Turner e outros, além da própria Globo e dos canais tradicionais de TV aberto, como SBT e Band, que já estudam como participar deste novo negócio.
Quem já negociou com quem
Na Série A são poucos os clubes sem contrato, mas este é o caso do Cuiabá e do Fortaleza. Entre os 7 primeiros colocados na Série B, segundo Battistotti, o líder Náutico, por exemplo, tem contrato com a Globo, o Coritiba com a Turner, o Guarani e o CRB não possuem contratos, o Goiás também está fechado com a Turner, o Sampaio Corrêa não tem contrato e o Avaí celebrou acordo com a emissora carioca. Para o executivo da ANC, a negociação da série B poderá passar dos atuais R$ 120 milhões ao ano para algo como R$ 500 milhões após a efetivação da nova lei daqui a três anos, considerando a perspectiva de concorrência entre emissoras, aplicativos e plataformas de streaming.
O consultor e especialista em análise dos balanços dos clubes de futebol do Itaú BBA, César Grafietti, é menos otimista com a previsão dos ganhos para os clubes. Ele parabeniza a união dos times em um bloco, pois, dessa forma, os times poderão evitar o que aconteceu, por exemplo, nas negociações de transmissão do Campeonato Francês. Lá, os times negociaram individualmente, o que foi prejudicial aos times de menor torcida, o que é caso de todos os clubes da Série B do Brasileirão com reais chances de subir. Grafietti acredita que a nova concorrência prevista não apresentará apetite financeiro tão alto para pagar às equipes do Brasil os valores negociados lá fora.
"Teremos, sim, interesse de novos e velhos, como Sky, Amazon, Facebook, mas não acho que a Amazon vai pagar, no Brasil, os 80 milhões de euros que a empresa desembolsou para transmitir a Champions League. E ainda tem a concorrência das piratarias", analisa. "A Lei do Mandante é melhor do que a situação que vivemos no futebol brasileiro hoje, mas temos de ter cautela com as projeções."
Até o momento da publicação desta reportagem, procurada, a Globo não se manifestou sobre o assunto.
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