Ex-gandula e pioneiro de igreja quer ser 3ª via contra Leila no Palmeiras
Paulo Jussio, 40, considera que Leila Pereira presta um excelente serviço ao Palmeiras como patrocinadora. Apenas não acredita que ela seja a melhor opção para ser a próxima comandante do clube. "Administrar um clube é diferente de administrar uma empresa", diz ele, que pretende concorrer contra a proprietária da Crefisa nas próximas eleições para a presidência do Palmeiras. Ainda não se sabe se, além de Leila e Jussio, Luiz Pastore e Savério Orlandi também vão concorrer ao cargo.
Jussio é cria do clube social, que frequenta religiosamente desde garoto. Na época em que era estudante do Ensino Médio, saía do Colégio Emece, na fronteira entre os bairros da Pompeia e Vila Romana, e fazia suas lições nas arquibancadas do Estádio Palestra Itália, antes de ir para as quadras e piscinas. Foi gandula na primeira passagem de Luiz Felipe Scolari pelo clube e, já adulto, diretor social na gestão Paulo Nobre e diretor do interior na de Mauricio Galiotte.
"Não tenho o dinheiro de outros personagens importantes do Palmeiras. Brinco que sou o Paulo Pobre, em comparação com o Paulo Nobre", brinca Jussio. "Mas eu tenho algo que os demais candidatos não têm, que é uma vivência no clube. A Leila não frequenta o clube de verdade. E eu entendo o futebol como só uma parte do que é a Sociedade Esportiva Palmeiras. O clube é mais do que isso", diz.
Jussio, cujo finado pai Jair foi diretor das categorias da base na gestão Arnaldo Tirone e participou da captação de Gabriel Jesus, está em seu terceiro mandato como conselheiro. Obviamente palmeirense, sabe que a razão de ser do Palmeiras é o futebol profissional. Mas entende que o clube social e as modalidades olímpicas e não-profissionais ficaram abandonadas nas últimas gestões e precisam de atenção.
"Vejo clubes tradicionais de futebol da Colômbia e da Argentina com times fortes de basquete e futsal. Como é que o Palmeiras não consegue ter?", indaga. "Na semana em que o futebol pagava R$ 24 milhões para contratar o [atacante] Carlos Eduardo, uma garota da ginástica artística fazia rifa para conseguir R$ 5 mil para competir pelo Palmeiras no exterior, por exemplo", diz ele. "Um jogador de futebol de botão que vá defender o Palmeiras em um jogo, que seja, precisa ter apoio, está defendendo o clube, afinal", diz.
É em sua vivência como associado que Jussio aposta para conseguir superar os favoritos no pleito. "O Palmeiras tem mais de 18 milhões de torcedores do time, mas quem elege o presidente são cerca de 2 mil a 3 mil associados. E com esses, tenho muito bom trânsito, sem fazer festinha, sem dar presentinho, mas com meu trabalho e com o fato de que conheço a todos", diz, em alusão à estratégia de Leila Pereira de promover encontros e afagos aos eleitores.
Como candidato à presidência, Jussio já fala de três decisões importantes que sua diretoria vai ter caso ele seja eleito: as renovações contratuais de Felipe Melo, Jaílson e do diretor Anderson Barros.
"Eu renovaria com o Felipe Melo, gosto muito dele e acho que ele tem uma identificação muito grande com o clube", diz ele. "Com o Jaílson, também. O Palmeiras vai precisar de um goleiro experiente no ano que vem, caso aconteça algo com o Weverton", diz. Já quanto a Barros, Jussio pensa diferente. "Ele já prestou o serviço dele, é preciso uma alternância de poder", afirma.
Pioneiro em igreja evangélica antes de abandonar a religião
Antes de entrar na vida política do Palmeiras, Jussio era conhecido como Paulinho Crente pelas ladeiras do bairro da Vila Pompeia. A alcunha servia para o diferenciar do outro Paulo do grupo de amigos com quem jogava futebol na juventude, o "Paulo Neguinho", e fazia alusão à sua militância no movimento cristão evangélico.
Junto com o amigo Rinaldo, hoje conhecido como Apóstolo Rino, foi um dos pioneiros de uma igreja evangélica que foi febre entre os jovens protestantes nos anos 1990 e 2000. Depois, Jussio foi para a Igreja Renascer em Cristo, e ali começou sua ruptura com a religião nos moldes formais.
"Quando me perguntam se tenho religião, digo que sou cristão. Não preciso pertencer a uma igreja ou pagar para estar perto de Deus", diz ele, que sem dar detalhes, diz ter se afastado da denominação criada e comandada pelo casal Sonia e Estevam Hernandez. Os bispos da Renascer foram acusados no passado de evasão de divisas, entre outras contravenções. "Saí porque iria tirar todo mundo da igreja se por lá seguisse", diz Paulo.
Gandula-problema, era espião informal e peça importante no "esquema" de Felipão
Jussio lembra-se com carinho da época de gandula no Parque Antárctica e de Luiz Felipe Scolari. "Ele era um cara sensacional. Nessa segunda passagem, demonstrou que não é mais o mesmo, envelheceu", disse. Foi do Gaúcho que ele recebeu um abraço tranquilizador minutos antes da final da Copa Libertadores de 1999. "Ele me viu tenso e me disse "Fica tranquilo, guri, que a gente vai ganhar isso aqui hoje"", conta.
Paulo era uma das armas secretas de Felipão. "Uma vez, ele me disse, antes de um jogo, que eu ia ser muito importante naquela partida", conta. "Ele falou "a gente vai na Argentina, eles seguram e somem com as bolas. Pois aqui, você vai fazer o mesmo. Um, dois, três segundos, não precisa mais que isso, que a defesa já se arruma"", conta Jussio, entre risos.
Nos jogos de mando do Palmeiras contra o Corinthians, no Morumbi, em 1999 e 2000, algumas das bolas que apareciam misteriosamente no campo, nos lances do ataque rival, tinham também, digamos, os dedos de Paulo Jussio. "Vira e mexe, a Federação Paulista queria me tirar da função de gandula, porque eu comemorava os gols do Palmeiras", conta.
"O Felipão me mandou ficar atrás do banco do Olímpia (PAR) em um jogo de 1999. Era para eu tentar ouvir algo e passar para ele depois. Mas eu não sei se eles falavam guarani misturado com espanhol, porque eu não entendia nada. Só que fiquei com receio de dizer isso para o Felipão, então, peguei uma cena que achei que tivesse entendido e arrisquei: 'eles vão trocar dois jogadores no intervalo'", conta Jussio. "E aconteceu isso mesmo, Felipão me agradeceu muito", diverte-se.
Terceira via, formação em gestão esportiva e embate com Galiotte
Para pleitear a presidência do Palmeiras, Paulo Jussio, que é publicitário, se preparou academicamente. Fez cursos de gestão, inclusive pós-graduação, entre outros. Alguns deles na CBF Academy. E até se formou técnico de futebol. "Fiz porque gosto, mas vai ser muito importante para mim", diz.
Embora tenha sua origem na política do clube no grupo historicamente ligado a Mustafá Contursi, hoje um oposicionista, e tenha sido da diretoria de Mauricio Galiotte, Jussio se diz um candidato de terceira via.
"Não sou nem oposição, nem situação. Não tenho nada contra a Crefisa e espero que eles façam uma verdadeira era no clube, se quiserem assim", diz ele. Mas, por via das dúvidas, sem revelar nomes, diz ter tratativas com vários empresários dispostos a patrocinar o Palmeiras em uma gestão sua, caso Leila decida tirar os milhões de dólares de campo
"O Palmeiras atrai os olhares de muitos empresários. A própria Crefisa não tinha o tamanho que tinha antes do Palmeiras. A FAM (Faculdade das Américas, também de Leila Pereira), muito menos. O mercado enxerga isso", garante.
Jussio rompeu com Galiotte depois de ter se negado a votar em uma proposição em que a situação havia acordado votar em bloco. "E eu achei que tinha de votar pelo que acreditava, não pelo que estava sendo determinado", diz. "Fui escanteado da noite para o dia".
A tal proposição tratava da extensão do mandato presidencial de dois para três anos. Com a provável reeleição de Mauricio Galiotte, que de fato aconteceu, a manobra daria tempo para Leila Pereira tentar cumprir dois mandatos como conselheira e se candidatar à presidência no pleito de dezembro de 2021. "O Galiotte mudou o estatuto e se beneficiou da mudança no mandato vigente. Isso é um absurdo", diz.
Uma vez alijado da gestão, Jussio entrou em combate. Por pedido seu, o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) chamou Mauricio Galiotte e Seraphim Del Grande, presidente do conselho, para prestação de depoimento, em março de 2019, sobre o aditivo no contrato da Crefisa com o clube, que transformou o Palmeiras em credor da empresa em 2017.
Paulo também foi candidato a deputado estadual em 2018 pelo Avante, partido de centro-direita, dissidência do PTB, criado e capitaneado por Campos Machado. O partido faz parte da base aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). E, embora alinhado à direita, o discurso político de Jussio tem pendores esquerdistas.
"Uma vez eu estava num ônibus em um trânsito enorme na subida da [Rua da] Consolação, quando disse em voz alta: quando eu for governador, isso nunca mais vai acontecer. E uma moça riu, disse que eu nunca seria governador, quando eu disse que eu era publicitário. Ela afirmava que só administradores, engenheiros e outras profissões tinham gabarito para o cargo", conta.
"Aí, eu perguntei, no ônibus, quem ali era administrador ou engenheiro, e ninguém levantou a mão. Então, eu disse a ela: uma figura dessas nunca passou por isso aqui que a gente está passando. Por isso que a gente tem que chegar no poder", diz ele.
Enquanto uma chance no Palácio dos Bandeirantes não vem, Jussio vai tentar um gabinete na Academia de Futebol. "O Palmeiras não precisa de um dono, e é por isso que eu posso ser o presidente", brada.
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