Com a pandemia da covid-19, o futebol europeu vive seu maior choque financeiro das últimas décadas. Com a ausência de público nos estádios e perdas de patrocínios, os clubes sentiram na pele a queda de receitas. Se para os principais times ainda há formas de contornar essas perdas, os menores veem o abismo para os grandes ficar ainda mais profundo.
No podcast Futebol sem Fronteiras #12 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade falaram sobre o tamanho do impacto da pandemia nos cofres de clubes e federações da Europa.
"O futebol europeu não conhecia uma crise tão grave como essa desde, pelo menos, o final da Segunda Guerra Mundial. A pandemia foi avassaladora para a sociedade como um todo e no futebol não foi diferente. O futebol não vive em uma bolha separada e está inserido na economia mundial. Para você entender o futebol europeu e até mesmo para saber o que vai acontecer com o seu time no Brasil em termos de contratações, o que ocorre na conta desses clubes europeus é absolutamente fundamental para compreender o que vai haver em campo. Vou tentar colocar de forma mais clara a dimensão desse colapso. Um cálculo feito pela própria Uefa é de que, em receitas, os clubes perderam 9 bilhões de euros [cerca de R$ 54,3 bilhões, na cotação atual] durante a pandemia. Esse é o tamanho do impacto", apontou Jamil.
Julio comparou esse número com o que houve com os clubes brasileiros. "Só para fazer um paralelo com o futebol brasileiro, para termos uma ideia. Em 2019, o último ano normal, os vinte clubes da Série A tiveram uma receita de mais ou menos R$ 7 bilhões. No ano passado, caiu para R$ 5 bilhões. Foi uma queda, principalmente se considerarmos que era uma curva de crescimento e, nesse ano, certamente essa tendência vai se manter. Olha o tamanho do buraco europeu. Assim como sempre comentamos o desnível entre futebol europeu e brasileiro, ele acaba se retratando no prejuízo também", destacou o colunista.
Para Jamil, os efeitos financeiros da pandemia devem acentuar ainda mais a distância entre os clubes mais ricos da Europa e os de menor porte. "Os pequenos tinham patrocínio da fábrica local, de empresas regionais. A primeira coisa que essas empresas cortam em momentos de crise é a publicidade. Esses clubes sofreram uma fuga de patrocinadores absolutamente dramática. Daí você tem de um lado os grandes, que mantiveram os patrocínios e a televisão e só perderam a receita do estádio, que é grande, mas não é decisiva, enquanto os médios e pequenos perderam justamente onde eles haviam garantido algum tipo de receita. A desigualdade no futebol europeu, que já era muito grave, tende a ficar pior", alertou.
Sem público, os clubes menores sentiram um impacto maior em suas finanças, já que os torcedores não gastam apenas com a compra de ingressos. "A desigualdade, que já é um grande problema da humanidade, se acentua na pandemia. No futebol é a mesma coisa. Você tem condições tão diferentes entre os principais clubes e os médios e pequenos que o buraco foi se abrindo. A pandemia amplifica o que é o maior problema da civilização. Quem já foi a algum jogo de futebol na Europa vai visualizar isso: em volta de um estádio, há um mercado que gira ali muito relevante. Imaginem o quanto os clubes perderam de dinheiro com a ausência de público no estádio. Não é só o ingresso", explicou Julio.
Jamil enfatizou que os clubes mais ricos têm como amenizar as perdas financeiras, já que contam com outras receitas. Já os pequenos... "Vimos, por muito tempo, o fim do público no estádio, mas não foi só isso. A renda desapareceu. Os clubes menores, que dependem mais do seu torcedor do que de patrocínio, foram os mais afetados. Um clube da segunda divisão da Espanha depende do seu próprio torcedor no estádio para pagar suas contas. Ele não tem aquele patrocínio milionário do Barcelona ou do Real Madrid", completou o correspondente.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também a discussão sobre como os clubes europeus pretendem recuperar tantas perdas a partir do início da temporada 2021/22.
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