Nove gols marcados, titular absoluto, contrato renovado e destaque de um tradicional clube da Inglaterra. Se mesmo assim você não tem ouvido falar de João Pedro, nesta temporada isso com certeza vai mudar. O atacante do Watford agora joga o Campeonato Inglês, e em entrevista ao UOL Esporte fala com bastante consciência sobre a adaptação desde que saiu do Fluminense, a expectativa de jogar a Premier League e o sonho com uma vaga na seleção brasileira.

De cara, João Pedro se destaca pela espontaneidade. Tem o sorriso fácil, mas não por nervosismo, pois responde tudo com um desembaraço que chega a ser impressionante em um garoto de 19 anos —que agora joga a liga mais vista do mundo, é verdade, mas ainda assim um garoto. Ele falou ao UOL durante evento de sua patrocinadora, a Adidas.

"Na temporada passada fui muito bem, consegui mais minutagem. Agora vou enfrentar jogadores que estão entre os melhores do mundo, então tenho que evoluir, deixar de ser promessa para ser realidade", planeja João Pedro, camisa 10 do Watford e titular em 38 dos 46 jogos da campanha que rendeu o retorno do clube à Premier League.

O atacante foi contratado junto ao Fluminense por 11,5 milhões de euros e chegou à Inglaterra no começo de 2020, ainda aos 18 anos. Ele chegou a fazer três jogos na elite antes de o Watford ser rebaixado, depois se tornou um dos destaques do time e fez uma segunda divisão tão boa que o clube deu aumento e renovação. O vínculo anterior de João Pedro iria até 2025, agora vai até 2027.

É claro que o rebaixamento nunca é bom, mas jogar a Championship serviu para João Pedro entender melhor o futebol inglês. "Particularmente me ajudou bastante, porque cheguei com um estilo e mentalidade diferentes. Foi super importante para evoluir, porque hoje posso disputar na força com qualquer jogador", diz ele, que ganhou 7 kg e encorpou logo nas primeiras semanas de Inglaterra.

A estreia de João Pedro no Campeonato Inglês deve ocorrer às 11 horas (de Brasília) deste sábado (14), quando o Watford recebe o Aston Villa pela primeira rodada. É o começo da história dele em uma liga que é atalho para os atacantes brasileiros chegarem à seleção brasileira —como aconteceu com Gabriel Jesus, Richarlison e Roberto Firmino.

Do prato sem mistura ao futebol inglês

Nascido e criado em Ribeirão Preto-SP, João Pedro se mudou após ser descoberto por um olheiro do Fluminense. Ele e a mãe abriram mão de uma vida confortável no interior para se aventurar no Rio de Janeiro e perseguir o sonho de ser jogador. Tudo mudou, e os dois chegaram a compartilhar a comida que daria para uma pessoa só.

"Nunca faltou o que comer, mas minha mãe sempre me priorizava com a mistura, porque eu precisava correr", contou o jogador em um documentário feito pelo Watford. "Foi difícil, mas serviu de aprendizado porque hoje eu olho tudo de forma diferente: os momentos ruins passam."

"Eu deixava a carne para ele e comia um ovo", confirmou a mãe, Flavia Junqueira, no mesmo documentário. "Ele tomava um suco, eu ficava só na água. Foi difícil. Não tinha dinheiro para frutas, por exemplo, então eu comprava as que ele gostava e deixava para ele, porque já era um atleta e precisava de uma alimentação melhor do que a minha."

No Fluminense, as coisas eventualmente evoluíram. João Pedro despontou na base, subiu ao profissional em 2019 e fez o primeiro gol em um Fla-Flu no Maracanã. Daí em diante, foi tudo muito rápido: sete gols em quatro jogos no mês seguinte, destaque nacional e proposta da Inglaterra. O atacante chegou à Europa com menos de um ano como profissional.

Veja mais respostas da entrevista com João Pedro:

UOL Esporte: Sua trajetória até aqui é muito semelhante à do Richarlison: o mesmo caminho, do Fluminense para o Watford. Você o tem como exemplo? Como é esta relação entre vocês?

João Pedro: "Todo jogador que chega na seleção e se mantém em alto nível no futebol serve de exemplo para mim. Ele é mais próximo por ter passado no Fluminense e no Watford, então a gente conversa, busco escutar um pouco. Ele é uma pessoa importante, me tranquilizou antes de eu vir, explicando que o Watford seria um bom clube. Fico feliz por ele ter estourado, agora é minha vez de buscar meu espaço aqui na Inglaterra."

UOL Esporte: Como você se vê na disputa por vaga na seleção brasileira?

João Pedro: "Vim para fazer meu trabalho. Meus amigos e minha família ficaram chateados por eu não ir para a Olimpíada [de Tóquio], mas eu sempre digo que para chegar na seleção eu tenho primeiro que fazer aqui no clube. Busco meu espaço devagar, sem pressa porque ainda sou muito novo. Quando estiver merecendo, eu vou ter meu lugar."

"Sou jovem e tenho bastante tempo ainda. Tudo tem seu tempo. Como o Vinicius Jr. é um ano mais velho que eu e está lá, conseguiu o espaço através do trabalho dele no clube. Não penso muito em ter que ir pra seleção, penso que este momento um dia vai chegar. Para outros jogadores chegarem lá, eles tiveram que fazer no clube também. Vou continuar meu trabalho, amanhã ou depois disputar uma Champions League? Mesmo sendo muito rápido, procuro ir pensando pouco a pouco para não me sentir pressionado, porque não me sinto bem assim."

Jogar a Premier League vai te ajudar a chamar a atenção do Tite? Já houve algum contato por parte da comissão técnica?

"Nunca tive contato com a comissão técnica, ninguém da principal. Já tinha sido convocado para a seleção sub-20, mas em meio à temporada não me liberaram. Eu perderia três jogos, e o clube preferiu não liberar. Mas para mim é muito importante [estar no Campeonato Inglês]. Joguei três jogos quando cheguei, e é uma competição muito difícil; cada ponto é valioso. Quero aproveitar ao máximo, fazer gols e ajudar o time a se manter. E se Deus quiser alcançar minhas metas particulares também, como seleção, quem sabe."