O que é o "Fan Token" usado para pagar Messi no PSG e que já está no Brasil
Parte do salário de Messi no PSG será paga pelos torcedores.
O modo como isso vai acontecer é mais complexo do que supõe a frase que abre este texto. De acordo com o que anunciou o clube francês, a renda obtida pela venda na internet de um produto chamado "PSG Fan Token" vai bancar um pedaço do salário anual do argentino, que gira entre 35 e 40 milhões de euros (até R$ 246,1 milhões). A dúvida agora é: o que é esse tal "Fan Token"?
"Fan" é o torcedor. "Token" é a representação digital de alguma coisa. Nesse caso, uma espécie de moeda do PSG. Quem compra um "Fan Token" do PSG compra o direito a experiências exclusivas ligadas ao clube, que vai de uma votação para colocar um objeto no vestiário até ingressos para jogos, visitas ao estádio e contato com jogadores. É o que especialistas chamam de "token de utilidade", diferente das criptomoedas mais tradicionais do mercado financeiro, ainda no centro de muita controvérsia.
Um Fan Token é inclusivo para um certo tipo de comunidade. Um fã do esporte pode preferir, mesmo que de forma passional, os tokens de times em relação a uma moeda tradicional porque futebol é sua paixão e isso motiva. Os clubes engajam a comunidade do futebol em troca de benefícios. Para o torcedor, a experiência e proximidade. Para a entidade, a monetização dessa paixão que as pessoas têm."
Tasso Lago, investidor e trader profissional em criptomoedas da "Financial Move".
O "Fan Token" não é exclusividade do PSG. A moeda virtual foi criada pela plataforma "Socios.com", que tem parcerias com 32 clubes pelo mundo. Barcelona, Juventus, Milan e Manchester City entre eles. Na América do Sul têm seus tokens Independiente-ARG, Universidad de Chile e dois brasileiros: Atlético-MG e Corinthians. O Galo, inclusive, teve resultados expressivos pouco após o lançamento: 850 mil unidades vendidas por 2 dólares (R$ 10, mais ou menos). O clube embolsa metade do valor total, em torno de R$ 4,5 milhões.
Entre as experiências que os torcedores atleticanos que compraram os tokens vão ganhar estão uma votação pela escolha do layout do ônibus e da braçadeira de capitão e a música que toca no estádio durante o aquecimento dos jogadores, entre outros.
O especialista em inovação no esporte da agência "14" Bruno Maia já deu entrevista ao UOL sobre o crescimento do tema no futebol: "O mercado cripto estaria no equivalente ao ano de 1996, 1997, da vida da internet, quando tinha gente que imaginava que seria moda. Há quem pregue que a economia descentralizada chegue a esse nível de revolução. Se isso acontecer, o mundo daqui 20 anos não será o mesmo. O que pauta é o avanço social, regulamentações e a adoção por grandes empresas. O futebol tem que estar atento."
O torcedor compra o token pela internet da mesma forma como se negocia qualquer criptomoeda, sendo o Bitcoin a mais conhecida. A partir da compra o investidor fica sujeito às movimentações e especulações do mercado. Por exemplo: as moedas virtuais do PSG valorizaram com a contratação de Messi. No dia do anúncio, um token chegou a valer R$ 320, sendo que uma semana antes custava R$ 120, aproximadamente. Ontem (20) o número se estabilizou em R$ 195 segundo o portal "CoinMarket". Em compensação, as moedas do Barcelona caíram.
Isso significa que o torcedor que quiser experiências exclusivas do PSG terá que pagar mais por isso.
Essa oscilação do mercado é um dos argumentos do conservador investidor brasileiro para tratar o mercado de criptomoedas de modo geral com resistência, como diz Tasso Lago: "Segundo uma pesquisa da CVM (Comissão de Valor Mobiliários do Brasil) cerca de 43% dos golpes de mercado financeiro são atrelados a criptomoedas, então essa barreira do desconhecimento existe. Mas vejo que elas tendem a ficar menores quando grandes bancos como Itaú e BTG fazem propaganda e grandes fundos investem. A adesão à causa para pulverizar informação é porque há interesse."
Para os clubes de futebol, é uma forma de engajar torcedores e obter receitas num período em que outras, como direitos de transmissão e bilheteria, ficaram inviáveis em razão da pandemia. O Vasco é outro clube brasileiro com experiência recente neste mercado.
Em novembro de 2020 foi feita uma parceria com a empresa Mercado Bitcoin que funciona assim: o Vasco sempre recebe valores referentes ao mecanismo de solidariedade da Fifa quando algum jogador com passagem pela sua base é negociado no exterior. Então, selecionou 12 nomes com potencial de lucro, tipo Philippe Coutinho, Douglas Luiz e Paulinho, e avaliou em R$ 50 milhões o valor que teria a receber ao longo dos anos pelo pacote.
Foram gerados 500 mil tokens que são vendidos por R$ 100 no site da empresa, que comprou 100 mil (o equivalente a R$ 10 milhões) para antecipar receitas ao Vasco, comercializando o restante online.
Caso os valores de venda dos 12 jogadores ultrapassem R$ 50 milhões, quem investiu ganha o relativo à valorização desse token. Se o valor ficar abaixo, ele perde. É uma receita futura e imprevisível, porque não se sabe qual jogador vai ser vendido nem por quanto ou quando. O Cruzeiro tem uma parceria semelhante com a plataforma de tokenização de ativos Liqi pelo site BitPreço.
Outras iniciativas por parte de mais clubes tendem a povoar o mercado nos próximos anos, no Brasil e fora. Enquanto isso, os investidores do PSG aguardam a estreia de Messi, que não foi ontem e pode acontecer no dia 29, contra o Reims, pela quarta rodada do Campeonato Francês.
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