Botafogo, Cruzeiro e Vasco jogam 'a Série B mais difícil', alertam técnicos
"Você jamais pode dizer que pode vencer uma partida antes de jogá-la". O técnico do Coritiba, Gustavo Morínigo, define assim a Série B de 2021, liderada pelo Coxa. O campeonato, pela primeira vez com cinco campeões do Brasileirão, vive possivelmente a temporada mais disputada desde 2006, quando iniciou seu atual formato, com 20 equipes e 38 rodadas.
Ao término do primeiro turno, na noite da última quinta-feira (19), a diferença do primeiro ao 11º colocado era de oito pontos —a menor nos últimos 15 anos da competição, junto à edição de 2014. Os tradicionais Cruzeiro, Vasco e Botafogo, por exemplo, iniciaram o returno fora do G-4.
A reportagem do UOL Esporte entrevistou treinadores de algumas das principais equipes da Segundona, que definitivamente trazem boas notícias às torcidas de Botafogo, Cruzeiro e Vasco. Para eles, a dificuldade enfrentada por esses ex-campeões nacionais era mais do que esperada. Afinal, detectam uma evolução da competição nos últimos anos, a ponto de ter mais de uma dezena de equipes brigando na parte de cima da tabela.
Pegue Marcelo Cabo, por exemplo. Ele mesmo começou o campeonato no comando do Vasco —hoje está no Goiás, terceiro colocado, com seis pontos a mais que o clube de São Januário. Para ele, a competição está muito acirrada e assim continuará no mesmo ritmo até a reta final.
Disputo desde 2015 e com certeza essa é a Série B mais difícil, a mais competitiva, haja vista como terminou o primeiro turno."
A imprevisibilidade contra os técnicos
O paraguaio Gustavo Morínigo levou o Coritiba aos 39 pontos com a vitória contra o Avaí na sexta-feira (21), na abertura do returno. Desde o início do ano no Coxa, seu primeiro clube no Brasil, treinador observa um equilíbrio e muita competência mesmo das equipes na parte de baixo da tabela, "o que faz com que os resultados variem muito".
"Dos clubes mais acima àqueles mais abaixo na classificação, os jogos têm sido muito duros, de muita força mental, física. É um torneio complicadíssimo em todos os pontos de vista, com equipes com rendimento bem alto, e que você não pode jamais dizer que pode vencer uma partida antes de jogá-la. Vamos encontrar uma segunda parte da competição ainda mais forte", comenta o líder da Série B.
Quando conversou com a reportagem, Hélio dos Anjos estava no comando do Náutico, que vinha de duas derrotas mas ainda era líder da competição. Uma semana e meia depois, perdeu mais três partidas e deixou o cargo. Agora, o Timbu é o sétimo colocado.
O técnico falou sobre a evolução do torneio e, como exemplo, citou o trio de clubes mais tradicionais, que têm sofrido para ir ao G-4: "A Série B está totalmente mais competitiva. Tenho certeza que Cruzeiro, Vasco e Botafogo, quando foram fazer o planejamento para a divisão, sabiam e projetaram que seria nada fácil. Essa mudança [da competição] só vai fortalecer o futebol brasileiro com o passar dos anos".
Lisca, à frente do Vasco, possui uma avaliação similar às dos colegas de função. "É muito parelho, são 12 times brigando. Daqui a pouco o Cruzeiro vence três e entra também. O campeonato está muito diferente. A briga está muito grande. Pra conseguir o acesso, tem que ser muito guerreiro", disse o cruz-maltino na coletiva de imprensa após a vitória contra o Vila Nova, há três rodadas.
Menor cota para os 'grandes' influencia no equilíbrio
Um ponto destacado por Cabo e Felipe Surian, do Sampaio Corrêa, com um desafio a mais para os grandes rebaixados é a redução das cotas televisivas para os clubes que caiam do Brasileirão. Antes, eles recebiam os mesmos valores da Série A mesmo competindo na divisão abaixo. Segundo os técnicos, isso atinge diretamente o desempenho de equipes tradicionais como Cruzeiro, Vasco e Botafogo.
Desde 2019, houve redução dessas quantias e os clubes tiveram de fazer opções sobre o recebimento, como destacou reportagem do UOL Esporte em fevereiro.
"O que ocorre é que hoje a questão financeira equiparou bastante a Série B. E assim a contratação dos jogadores também se iguala. Nos outros anos, as equipes caíam com orçamento de Série A e tinham equipe de Série A jogando a B. Hoje se nivela. As equipes têm a camisa muito forte, mas dentro do trabalho se iguala e se nivela bastante", considera Cabo.
Surian avalia da mesma forma e pondera que, na realidade da Segundona, essa situação complica a vida dos clubes considerados grandes que caem no Campeonato Brasileiro.
"Influencia muito, é diferente para os clubes: preparação, contratações dos atletas, isso tudo é bem complicado. Tem que lapidar bem, achar um atleta que se encaixe no clube e na competição, e isso tem efeito nas equipes que são rebaixadas. Os três estão sofrendo por isso, devido aos valores das cotas e também para encaixar as contratações", afirma.
Equipes cada vez mais preparadas
Entre os técnicos ouvidos, a preparação dos clubes foi o motivo mais apontado pelo qual a Série B ganhou força recentemente.
Desde a logística para as viagens, uma vez que os clubes têm confrontos a disputar do Rio Grande do Sul ao Pará, até a composição de elencos que tenham experiência na competição, os treinadores consideram que os clubes evoluíram muito e entendem melhor como disputar a Segundona.
Felipe Surian pontua que as equipes também têm melhorado gradativamente aspectos como a estrutura de centros de treinamento, o trabalho de logística e até a suplementação dos atletas, pois são muitos jogos em sequência.
"Converso com colegas de outras equipes. Existem dificuldades, mas foram minimizadas. Essas melhoras têm feito com que os jogos sejam acirrados e mais igualitários. Difícil ver uma disparidade grande na Série B. Nos últimos anos esse aspecto mudou, e em 2021 mais ainda. Isso faz com que a competição fique gostosa: todo jogo é decisivo", comenta o treinador da Bolívia Querida.
Marcelo Cabo aponta que as características citadas por Surian são essenciais para um bom desempenho no campeonato: "O clube precisa de um elenco que conheça bem a competição, ter uma boa logística, ter reposição. São fatores para se ter resistência em uma Série B".
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