Topo

Palmeiras

Borja merecia chance no Palmeiras? Há uma maldição contra centroavantes?

Colombiano Borja comemora gol em sua passagem pelo Palmeiras - Cesar Greco/SE Palmeiras
Colombiano Borja comemora gol em sua passagem pelo Palmeiras Imagem: Cesar Greco/SE Palmeiras

Diego Iwata Lima

De São Paulo

25/08/2021 04h00

Vendo o desempenho de Deyverson cair a cada rodada, sem poder contar com Luiz Adriano inteiro há muito tempo e observando que Rony não é o mesmo da temporada 2020, muitos palmeirenses se perguntam: por que não deram uma chance a Miguel Borja? O colombiano de 28 anos, hoje jogador do Grêmio, se reapresentou ao Palmeiras no início deste mês, treinou, fez um belo gol em um rachão, que viralizou, e foi embora sem pisar em campo uma mísera vez.

Em entrevista à ESPN, indagado sobre o assunto, Borja se defendeu e disse que o problema não era só com ele: "Passaram três atacantes pelo Palmeiras, três camisas 9: Barcos, Barrios e depois eu. Não sei o que acontece no Palmeiras, mas não é fácil ser o 9. Os dois que estão agora, Luiz Adriano e Deyverson, têm dificuldades. Não é só com Miguel Borja, há outros atacantes também. Não sei se é o esquema de jogo do Palmeiras, que não combina muito com os 9. Os atacantes que chegaram sofreram", disse ele.

Não faltaram chances ao jogador

Pelo temperamento retraído e pela avaliação pouco positiva que teve em três temporadas no Palmeiras, Borja nunca esteve de volta aos planos do clube, que adoraria tê-lo negociado com o Junior (COL).

A saída de Borja do Palmeiras foi sacramentada por Felipão e Alexandre Mattos em 2019, bem antes do fim da temporada e, claro, das demissões de ambos. Ao assumir o time, Mano Menezes também abriu mão do jogador. No fim das contas, nenhum dos quatro citados iniciou 2020 no Palmeiras.

A avaliação que já vem desde a diretoria anterior, portanto, é de que Borja nunca chegou sequer perto de capitalizar os cerca de R$ 70 milhões investidos para que ele vestisse a camisa do clube, só em valores relativos à transferência. E a ideia é tentar reaver parte do que foi gasto para então investir em um outro atleta.

Aqueles que clamam por uma chance ao atacante não se dão conta de que Borja teve três temporadas para convencer, pela ordem, Eduardo Baptista, Cuca, Alberto Valentim, Roger Machado e Felipão. E não conseguiu se firmar com nenhum deles. Esteve mais perto do sucesso com Roger, mas a queda do técnico lhe tirou espaço no Alviverde.

Para completar, Abel Ferreira não ficou impressionado com o jogador e não fez questão de sua permanência. Inclusive, por conta de suas características físicas e de jogo, o português se interessou mais por Deyverson, que dava a ele uma jogada aérea que seus atuais demais atacantes não têm.

Há uma maldição contra centroavantes no Palmeiras?

borja - Cesar Greco - Cesar Greco
Deyverson e Borja, do Palmeiras, na Academia de Futebol
Imagem: Cesar Greco

A declaração de Borja faz um recorte temporal que não existe. Barcos chegou ao Palmeiras em 2012, há nove anos. E depois que ele saiu, em 2013, o Palmeiras teve muitos centroavantes, antes da chegada de Barrios, em 2015. E tanto Barcos quanto Barrios, ao contrário de Borja, nunca foram muito questionados pela torcida. o "Pirata", aliás, era adorado, e deixou o clube com 31 gols em 61 jogos —Borja fez 36 em 112.

Na lista de atacantes do Palmeiras desde Barcos, há nomes que decepcionaram em campo e fora dele e transferências que o palmeirense até hoje lamenta. E houve aqueles que cumpriram bem a função e poderiam até ter permanecido por mais tempo no clube alviverde.

Já quando fala do elenco atual, Borja só está meio certo. Deyverson chegou e fez dez partidas boas, antes de realmente cair demais de produção. Já Luiz Adriano, no clube desde 2019, foi brilhante na temporada 2020, fundamental para a conquista da Tríplice Coroa. Só na atual temporada, passou a sofrer questionamentos.

Veja a lista:

Alan Kardec, o breve, deixou saudade

Em 2013 mesmo, o Palmeiras foi buscar um substituto para Barcos e encontrou Alan Kardec. O jogador revelado pelo Vasco estava no Benfica, à época também dirigido por Jorge Jesus. Kardec era adorado pela torcida, mas acabou saindo do clube pela porta de trás. Um desacordo financeiro mínimo, de R$ 5 mil mensais, deixou o jogador e seu pai furiosos, e Kardec foi para o rival São Paulo.

Henrique Dourado não brilhou, mas também não decepcionou

Autor do primeiro gol do Palmeiras no Allianz Parque —curiosamente sobre Weverton, então no Athletico-PR—, Henrique também não decepcionou, até porque não havia muita expectativa sobre ele. Exímio cobrador de pênaltis, o atacante fez 18 gols em 39 jogos pelo clube, em 2014. Foi inclusive de penal seu tento no empate em 1 a 1 com o Furacão que, combinado a outros resultados, manteve o time na Série A. Voltou brevemente em 2019, sem brilho.

henrique - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Henrique Dourado em treino do Palmeiras na Academia de Futebol
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

Churry Cristaldo foi xodó da torcida, mesmo no banco

Cristaldo veio na leva de argentinos que desembarcou na Academia de Futebol com Ricardo Gareca, em 2014. O jogador nunca encheu os olhos, mas transbordava carisma e passou a ser adorado pelo palmeirense, mesmo jogando pouco. Vestindo a camisa 9, Churry fez 20 gols em 76 jogos pelo clube antes de partir para o Cruz Azul (MEX), em 2016.

Alecsandro teve passagem positiva

Alecgol vestiu a 9 do Palmeiras e também teve uma passagem positiva. Veio para compor elenco, mas jogou bastante e foi importante na conquista do Brasileiro de 2016, temporada em que foi o vice-artilheiro do time, com 12 gols. Deixou o clube com 14 bolas na rede em 62 jogos para abrir espaço justamente para a chegada de Borja.

Leandro Pereira teve uma passagem correta

Mais um centroavante que jogou um futebol correto, mas não marcou época. Conquistou a Copa do Brasil 2015, ano em que chegou ao Palmeiras, e participou da campanha do Brasileiro de 2016, em uma breve volta por empréstimo, vindo do Brugge (BEL). Em 41 jogos, balançou as redes 12 vezes.

Lucas Barrios não se deu bem com Cuca

Muito importante na conquista da Copa do Brasil de 2015, o paraguaio nascido na Argentina foi também campeão brasileiro em 2016, mas não jogou muito na campanha do Enea. Barrios não se deu bem com o técnico Cuca, a quem chamou de mentiroso, nas entrelinhas, depois de o treinador dizer em uma entrevista que ele não estava focado. Em 45 jogos, fez 14 gols. Tinha futebol para ter jogado mais e melhor.

Gabriel Jesus dispensa comentários

gj - Manchester City FC/Getty Images - Manchester City FC/Getty Images
Gabriel Jesus celebra gol do Manchester City diante do Norwich City
Imagem: Manchester City FC/Getty Images

Há cinco anos titular da seleção brasileira, o camisa 9 do Manchester City (ENG) dispensa apresentações. Joia mais reluzente da base alviverde em décadas, o jogador segue encantando Pep Guardiola e Tite, que não abrem mão de seus préstimos. No Palmeiras, deixou um buraco gigante no coração da torcida. Em 85 jogos, fez 21 gols pelo clube e foi fundamental nas conquistas da Copa do Brasil de 2015 e do Brasileiro de 2016.

Deyverson vive sina de altos e baixos

dey - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Deyverson lamenta durante jogo entre São Paulo e Palmeiras pelo Brasileirão
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Trazido por Cuca, que justamente não gostava do futebol de Borja, em 2017, Deyverson viveu alguns bons momentos pelo Palmeiras, mas poucos diante do que custou ao Alviverde (3 milhões de Euros). Fez, por exemplo, o gol do título do Brasileiro de 2018, na última rodada, contra o Vasco. Com Felipão, aliás, viveu seu momento de maior prestígio. O técnico nega, mas circula até hoje entre muitas pessoas do clube a informação de que foi também por uma intervenção dele que o Palmeiras não negociou o jogador no fim de 2019. Deyvinho, como é conhecido, soma 27 gols em 121 jogos pelo clube.

Arthur Cabral não servia para Felipão

Veio do Ceará, onde se destacou, em 2019. Mas Felipão não gostava de seu futebol e deu pouquíssimas chances para o atacante —o que é curioso, dado que o grandalhão de 1,86 m tem o biotipo de jogadores que costumam agradar ao técnico. Pelo Verdão, fez seis jogos e só um gol. No Basel (SUI), para onde se transferiu após sete meses de Palmeiras, praticamente sem jogar, tem impressionantes 52 gols em 83 jogos é camisa 10 e ídolo.

Palmeiras