De corredor polonês a fotos apagadas: entenda rixa Palmeiras x Roger Guedes
Se Roger Guedes preferiu apagar seu passado no Palmeiras, a recíproca só não é verdadeira porque muitas pessoas ligadas ao clube não se esquecem de alguns momentos negativos da passagem do agora jogador do Corinthians pela Academia de Futebol. O UOL conversou com ex-atletas e funcionários do Alviverde da época de Guedes por lá para entender melhor o que, além de agradar sua nova torcida, poderia ter motivado o jogador a tripudiar do clube que lhe deu seu único título em solo brasileiro. E encontrou mais motivos para o Palmeiras ser ressentido com o ponta do que o contrário.
A avaliação que ficou de Guedes no Palmeiras é a de um jogador indisciplinado, de trato difícil com os companheiros, que considerava ter um futebol muito acima dos demais e que, por isso, deveria jogar sempre. Em outras palavras, como disse um dos entrevistados, Roger Guedes "pensava que era o Pelé". Foi esse sentimento, aliás, o começo do fim da passagem do bom jogador pelo Palmeiras. Sim, a qualidade dele como atleta foi poucas vezes questionada, apesar de seu comportamento.
Às vésperas de um partida contra o Peñarol, pela Libertadores, em 12 abril de 2017, Guedes, que já vinha tendo reiterados atrasos em treinos, abandonou a concentração ao descobrir que não seria titular na noite seguinte. À época, a informação que circulou dava conta de que ele havia sentira um desconforto muscular. Depois, vazou que ele tinha sido retirado da concentração por discutir com o então técnico Eduardo Baptista. Mas na realidade, foi o jogador quem abandonou os colegas. E foi essa atitude que gerou o famigerado trote sofrido por ele dois dias depois.
O grupo, capitaneado por Zé Roberto e Felipe Melo, tinha uma combinação interna, de punir com uma espécie de "corredor polonês" quem pisasse na bola com o elenco, chegando atrasado ou deixando de ir a eventos combinados entre eles, como churrascos e afins. Mas Guedes, que sofreria a punição pelo episódio do abandono, se negou a passar pelo rito. O ponta não foi ao corredor, mas o corredor o encontrou na forma de uma captura, com direito a ser arrastado, ter pernas e braços imobilizados, levar tapas e mãozadas na cara, chutes e ovadas, para arrematar. Tudo sob os olhares da comissão técnica e membros da diretoria.
Jogador foi cobrado nominal e publicamente
A verdade é que o abandono da concentração foi apenas o pretexto que o elenco queria para punir um jogador que todos percebiam claramente não estar se esforçando nos treinamentos. Entre todos os jogadores daquele grupo, apenas Tchê Tchê tinha um contato mais próximo com Guedes. Em 26 de abril, Guedes teve novo episódio público de entrevero, ao discutir com Felipe Melo no Uruguai, antes de novo jogo com o Peñarol. Segundo relatos, Guedes tentou dar um drible no meio das pernas do volante como forma de provocação. Melo não gostou e passou a chamar Guedes de moleque e pedir respeito.
Mas o atacante seguiu no clube, ao contrário de Eduardo Baptista, demitido menos de um mês depois, ao ser eliminado na semifinal do Paulista pela Ponte Preta (0 a 3) e perder para o Jorge Wilsterman (BOL), por 3 a 2, na Libertadores num intervalo de menos de dez dias. .
Cuca, que veio substituir Baptista, fora quem dera a primeira chance a Guedes no Palmeiras, um ano antes. Inicialmente, a volta do técnico, se não melhorou o clima do jogador com o grupo, ao menos fez com que ele jogasse com mais frequência. Aos poucos, porém, ele foi perdendo espaço e virou reserva, tornando assim a treinar sem o afinco que os colegas julgavam adequado.
Em outubro, com Guedes já frequentando mais o banco do que o campo, o Palmeiras recebeu o Bahia no Pacaembu, pelo Brasileirão. Abriu 2 a 0, mas levou o empate com um gol de pênalti no fim da partida. O autor da infração que culminou no 2 a 2 foi justamente Guedes, vindo do banco.
No dia seguinte, Cuca e o Palmeiras decidiram pelo fim do contrato entre as partes, informado ao elenco numa reunião convocada pelo diretor Alexandre Mattos. O técnico inicialmente participou do encontro para se despedir dos atletas. Mas a conversa, em tom áspero, de cobrança, seguiu com o diretor até que, no finzinho do encontro, Moisés pediu para falar. O camisa 10 não usou meias palavras: queria saber qual seria a postura do clube com Guedes, que não estava se empenhando nos treinamentos de modo acintoso. Mattos deu a Guedes a chance de se defender, mas o atacante disse que nada diria, embora discordasse das afirmações de Moisés.
Guedes foi afastado por três jogos após a cobrança dos colegas, e só atuou mais três vezes com a camisa alviverde, já com Alberto Valentim no comando do time. Na temporada seguinte, Roger Guedes foi emprestado ao Atlético-MG e posteriormente vendido ao Shandong Taishan (CHI) - à época chamado de Shandong Luneng. Curiosamente, na China, Moisés se reencontraria com Guedes, ao também ser negociado pelo Palmeiras com os chineses. Mas o tempo tratou de curar qualquer mágoa entre os jogadores, que se tornaram amigos.
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