Endividados, Corinthians e SPFC gastam na esperança de competir com a elite
Na tentativa de diminuir a diferença técnica para Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras, a dupla formada por Corinthians e São Paulo saiu às pressas na reta final para o fechamento da janela de transferência para conseguir reforçar seus elencos. O time do Parque São Jorge já havia contratado Giuliano e Renato Augusto quando anunciou a chegada de Roger Guedes no fim da semana passada e nesta segunda-feira (30) fechou com Willian.
O Tricolor acertou a contratação por empréstimo do meio-campista uruguaio Gabriel Neves, junto ao Nacional, do Uruguai, e do atacante argentino Jonathan Calleri, ambos até dezembro de 2022, com opção de compra.
Embora os dois clubes tenham cortado custos recentemente, a dívida elevada tanto do Corinthians quanto do São Paulo deveria fazer com que os dois clubes tivessem mais cautela na hora de sair contratando. Ao todo, a dívida total do Timão no mercado é de R$ 956,9 milhões. Já os débitos do São Paulo estão na casa dos R$ 600 milhões.
"O Corinthians não tem a menor capacidade financeira. O Corinthians aumentou sua dívida fiscal em mais de R$ 100 milhões. Só por responsabilidade, o Corinthians deveria estar pensando em reduzir dívidas e custos com o departamento de futebol, que tem valor astronômico", dispara Amir Somoggi, especialista em gestão e marketing no esporte.
Um dos argumentos da diretoria alvinegra para fazer as contratações dos quatro jogadores que vieram do exterior é justamente que fez uma redução de R$ 3,6 milhões mensais na folha de pagamento — de R$ 14 milhões para R$ 10,4 milhões aproximadamente.
Uma vantagem do Corinthians nas contratações é que todos os acertos foram com jogadores que estavam livres no mercado. Assim, não foi preciso desembolsar nenhum valor para outros clubes cederem os atletas para o Timão. Foi necessário apenas chegar a um acordo com os atletas e seus empresários.
Embora não tenha detalhado a operação, o Corinthians vai pagar a Giuliano, Renato Augusto, Roger Guedes e Willian o teto salarial do clube, por volta de R$ 700 mil mensais. Neste valor não estão incluídas luvas, uma espécie de premiação dada ao atleta na assinatura do contrato, mas que é diluída no tempo de contrato para que o clube não tenha de arcar com esse valor de uma vez. Esse valor também não conta com as comissões pagas pelo Corinthians a intermediários.
"No caso do Corinthians, os números de Junho de 2021 mostram que a situação não é de conforto. Apesar da forte redução em alguns custos, como administrativo e de negociação de atletas, ainda não dá para ver mudanças nos custos com pessoal. E a parte social segue com perdas, de forma que a dívida do clube até aumentou no período", analisou o economista César Grafietti.
O clube do Parque São Jorge deve R$ 138,21 milhões com obrigações tributárias e encargos sociais e fiscais. O número engloba recolhimento de Imposto de Renda, INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e Férias.
"O volume de processos contra os clubes de futebol revela o grande endividamento destes que apenas se sustentam em plena atividade em razão das sucessivas intervenções vindas do governo federal, que renegocia dívidas fiscais, sempre estendendo as dívidas a longos prazos, com juros diferenciados. Esta irresponsabilidade no uso do dinheiro dos clubes acaba refletindo em ações dos atletas cobrando os times por dívidas não pagas", esclarece o advogado trabalhista Higor Maffei Bellini.
Eliminado da Libertadores e ainda na parte debaixo da tabela após um início fraco no Campeonato Brasileiro, o São Paulo também correu para se reforçar. Só que, ao contrário do Corinthians, teve de pagar US$ 300 mil (R$ 1,5 milhão) para contar com Calleri mais US$ 300 mil para ter Gabriel Neves, os dois por empréstimo até o final de 2022. Assim, a operação para ter os dois jogadores custará aproximadamente R$ 3 milhões para o Tricolor.
A dívida são-paulina é menor que a do rival alvinegro. O clube também conseguiu reduzir a folha salarial em R$ 1 milhão só com a saída de Hernanes. Por fim, anunciou recentemente novos contratos de patrocínio com Sportsbet.io e a Roku, que vão render R$ 20 milhões aos cofres tricolores em 2021. Mas a folha salarial do time segue inchada, ultrapassando os R$ 15 milhões mensais.
"O problema do São Paulo foi a incapacidade que o clube teve antes da pandemia de crescer em marketing e com sócio-torcedor. E tem um custo elevado. O caso Dani Alves é emblemático. Trouxeram o Dani Alves ganhando mais de R$ 1 milhão por mês e não geram receita de marketing condizente com esse custo. Os clubes têm de entender que um plano de negócios se faz com crescimento de receitas e controle de custos. Não dá para pagar salário de R$ 1 milhão se não tem retorno de marketing. É preciso olhar para o MKT e ver que ele não tem condições de trazer o dinheiro que precisaria para manter um custo tão elevado", criticou Amir Somoggi.
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