Quais cidades têm aval hoje para receber jogos do Brasileirão com público?
Suspenso o efeito da liminar do Flamengo, como queria a maioria dos 20 clubes da Série A e a CBF, o foco agora passa a ser uma resolução definitiva sobre o assunto público nos estádios no conselho técnico de 28 de setembro. Briga política e jurídica entre os dirigentes à parte, um item indispensável da equação é a permissão das autoridades locais para que haja torcida a partir da 23ª rodada do Brasileirão, em outubro.
Segundo decisão anterior do próprio conselho técnico, o público só será aceito na Série A se 100% das praças tiverem autorização. O dever de casa dos clubes e respectivas federações estaduais é conseguir viabilizar isso a tempo, em um cenário que não se desenha simples.
Com percentuais diferentes e peculiaridades, há permissão em Rio de Janeiro, Goiânia, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Cuiabá e Chapecó — Caxias do Sul debate o protocolo. Olhando para a conta dos estados, há sete com sinal verde entre os onze representados na Série A. Faltam São Paulo, Ceará, Bahia e Pernambuco.
Hoje, a prefeitura do Rio de Janeiro publicou, no Diário Oficial, um decreto que autoriza a presença de público com lotação de 50% da capacidade do local em eventos esportivos realizados na cidade. A medida passa a vigorar a partir da próxima terça-feira (21).
Estrategicamente, São Paulo é um nó que precisa ser desatado. São cinco clubes do estado na elite e a posição do governo tornada pública até o momento é permitir torcida só em novembro. Isso afeta a vida de Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos e Red Bull Bragantino — só aí, são três cidades envolvidas. A CBF chegou a ter permissão para um teste no Brasil x Argentina, pelas Eliminatórias, com 12 mil presentes. Mas acabou levando só 1.500 convidados à Neo Química Arena.
O conselho técnico da Série B, marcado para hoje (17) à tarde, será um bom termômetro para ver o cenário que Guarani e Ponte Preta, ambos de Campinas, colocarão à mesa. Isso vale para os outros estados que ainda não anunciaram permissão para público. A diferença é que a segunda divisão não demanda 100% de liberação — o acerto dos clubes com a CBF é ir adiante se 80% das praças receberem o aval.
A posição de São Paulo reflete no comportamento de outros lugares, pela avaliação de algumas federações. É o caso de Pernambuco. Ontem (16), houve uma reunião com o governador Paulo Câmara (PSB), e o presidente da Federação Pernambucana, Evandro Carvalho, deixou o encontro pessimista. Na véspera, o governo renovou o estado de calamidade pública por mais três meses por causa da pandemia.
"João Dória (governador de São Paulo) e Paulo Câmara estão muito alinhados. Eu acho difícil convencê-lo. O Náutico, inclusive, falou comigo que está pensando em jogar em João Pessoa na Série B, já que a Paraíba tem liberação e é muito perto daqui. O Sport vai esperar mais um pouco, só vai resolver depois do jogo contra o Atlético-MG. Mas por que shopping pode e não pode ter estádio?", contou Evandro ao UOL Esporte.
A necessidade de clubes e federações de destravar o público ainda colide com aspectos políticos que envolvem o governo federal e os números da pandemia. Ontem (16), quando o Ministério da Saúde anunciou a posição de suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades, o Brasil registrou 637 mortes por covid-19, elevando o total para 589.277. Os dados foram obtidos pelo consórcio dos veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, junto às secretarias estaduais de Saúde.
Pelo terceiro dia consecutivo, a média móvel de mortes ficou acima de 500 depois de passar seis dias abaixo. Foram 582 óbitos em média nos últimos sete dias, o que indica uma tendência de estabilidade de -7% na comparação com 14 dias atrás.
Quem está otimista
Ainda no Nordeste, Fortaleza e Salvador — que reúnem três times na elite — são outras duas capitais sem liberação no momento. Mas o clima é diferente em relação aos pernambucanos.
"Estamos em conversa com o governo do estado, nesse intuito. Prefeitura e Estado estão alinhados. Não quero antecipar para não gerar expectativa. Mas está sendo trabalhado", disse o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.
Para Salvador, o conselho técnico da Série B também pode ser um indicativo do que virá, já que o Vitória está na segunda divisão.
"Estamos otimistas", resumiu o presidente da Federação Bahiana, Ricardo Lima.
Em Caxias do Sul, a diretoria do Juventude tem conversado com a prefeitura para acertar os últimos detalhes sobre o protocolo a ser aplicado.
"A princípio, sinalizou de forma positiva para a liberação. Tem coisas que estamos discutindo, revendo. Fizemos uma reunião na semana passada. Agora, o pessoal do administrativo do clube está vendo se vai seguir completamente o protocolo do estado ou fazer alguma coisa diferente", explicou o presidente Walter Dal Zotto.
Um item que os clubes ainda tentam derrubar é a exigência de escalar um fiscal a cada 150 torcedores. Isso deve encarecer a operação da partida.
À espera dos demais
De todo modo, os gaúchos de Porto Alegre, Internacional e Grêmio, podem levar ao conselho técnico essa permissão que já contaria para avançar rumo aos 100% que os clubes almejam.
"Está liberado, mas estamos trabalhando junto ao governo para aumentar o número de pessoas (atualmente, há um limite de 2,5 mil. Com responsabilidade, para não haver retrocesso", disse o presidente da Federação Gaúcha, Luciano Hoscsman.
Quem já tem o aval desejado e não tem mais o que negociar, agora fica de olho no desenrolar da negociação dos adversários. Líder do Brasileirão, o Atlético-MG tem uma liminar em vigor semelhante à do Flamengo e chegou a ameaçar usá-la, caso o rubro-negro colocasse torcida no fim de semana. Prova de que o cenário em Belo Horizonte está bem pavimentado para colocar gente no estádio.
Com a decisão do STJD de suspender o efeito da liminar para o dia seguinte à reunião dos clubes, há uma certa pressão sobre o conselho técnico. Mas o clima ficou mais ameno, já que não haverá mais guerra nos tribunais, por ora.
"Esperamos que a partir da rodada do dia 2 de outubro a gente possa receber público. Não vemos mais sentido nenhum que não haja torcida nos estádios. Todos os segmentos da nossa sociedade estão reabertos, e os cuidados e condições sanitárias por parte de clubes e federações existem e são rígidos. O que falta agora é um entendimento para que se comece a liberar uma porcentagem mínima", disse Cristiano Dresch, vice-presidente do Cuiabá, onde vigora um decreto estadual permitindo 35% do público.
O percentual é quase o mesmo de Goiânia, cuja prefeitura publicou decreto em 9 de setembro permitindo público de até 30% da capacidade dos estádios. O município informou na semana passada que, antes do retorno definitivo, faria jogos com até 1,5 mil torcedores como teste.
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