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Voto online, Laranjeiras, sócios e futebol: a coletiva de Mario no Flu

Mario Bittencourt concedeu entrevista coletiva no Fluminense nesta sexta (17) - Lucas Merçon/Fluminense FC
Mario Bittencourt concedeu entrevista coletiva no Fluminense nesta sexta (17) Imagem: Lucas Merçon/Fluminense FC

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/09/2021 14h06

Após três meses de "silêncio", o presidente Mario Bittencourt voltou a conceder entrevista coletiva no Fluminense. Em quase duas horas de respostas, incluindo um pronunciamento antes das perguntas, o mandatário falou sobre Laranjeiras, novos planos de sócio, o futebol do clube em 2021, planejamento para o próximo ano e voto online nas eleições de 2022.

Há 26 meses na cadeira presidencial, Mario tem um mandato mais longo que a maioria das gestões anteriores em função do adiantamento das eleições de 2019 por Pedro Abad, que sofria forte pressão por renúncia. O novo pleito é ao fim de 2022, mas a discussão pela implementação do voto online, antiga no clube e uma promessa de campanha da situação, gerou a mais longa resposta de toda a entrevista.

"No segundo mês de gestão, procuramos empresas que disseram que é possível implementar. Criamos uma comissão interna para que possamos entregar na mão do presidente do Conselho Deliberativo uma análise que não exista judicialização posterior do pleito. A gente não quer correr o risco de transformar a eleição do Fluminense em uma eleição sem lisura. O Fluminense é muito grande para a gente ficar discutindo pequenezas. Lisura acima de tudo, gostei de você ter usado essa palavra, é isso que a gente precisa para 2022", disse.

Mário Bittencourt votando na urna eletrônica em 2019: presidente prometeu voto online em 2022 - Mailson Santana/Fluminense FC - Mailson Santana/Fluminense FC
Mário Bittencourt votando na urna eletrônica em 2019: presidente prometeu voto online em 2022
Imagem: Mailson Santana/Fluminense FC

A preocupação do mandatário se dá por conta de um inciso do estatuto que veda o voto por procuração, ou seja, que um terceiro vote pelo associado. Dentro das discussões jurídicas e de regimento do clube, Mario revelou um "temor" pela judicialização das eleições por conta dos votos não presenciais.

O presidente lembrou que o Fluminense é o único dos quatro grandes do Rio de Janeiro onde os sócios-torcedores tem direito a voto desde 2016, e que o Ministério Público e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) executam e fiscalizam a votação. citando o exemplo negativo do Vasco, que costuma ter problemas em suas assembleias gerais.

"Que não se confundam as coisas, porque as pessoas deturpam as coisas. É um direito democrático adquirido e maravilhoso que o sócio tem. Eu perdi uma eleição com voto do sócio torcedor em 2016 e ganhei em 2019. A única coisa que a gente não pode, para 2022, é transformar a eleição do nosso clube em outros clubes, e falo nominalmente: o Vasco. O Vasco vive uma derrocada enorme porque vive uma briga política e institucional insana que destruiu o clube. O Fluminense não tem isso. Está de pé, porque desde 2016 fizemos a boa política. Nunca fomos detratores das pessoas. Nunca fizemos fake news. Isso é pensar no futuro do Fluminense, saber que o clube é maior que todos nós. O que não pode acontecer é que as pessoas peguem uma bandeira nossa, porque o voto online é uma bandeira da nossa gestão, e usem politicamente".

Verbas incentivadas foram publicadas em Diário Oficial, e Fluminense revitalizará Laranjeiras - Mailson Santana/ FFC - Mailson Santana/ FFC
Verbas incentivadas foram publicadas em Diário Oficial, e Fluminense revitalizará Laranjeiras
Imagem: Mailson Santana/ FFC

Outra de suas promessas em 2019, a revitalização de Laranjeiras está mais perto de acontecer. Em que pese não seguir o projeto mais antigo, do grupo apolítico Laranjeiras XXI, Mário Bittencourt afirmou que uma verba de incentivo à cultura por renúncias fiscais foi aprovada e publicada em Diário Oficial, e será o primeiro passo de um novo projeto executivo.

"Contratamos uma empresa que fez um laudo que o estádio está de pé e não precisa ser derrubado. Nosso projeto é brigar para manter o Maracanã e ter Laranjeiras para cinco ou seis jogos. Há 15 dias, foi publicada a primeira verba do projeto executivo. Com o laudo que o estádio fica de pé, precisamos de um projeto para a reforma do estádio. Através de leis de incentivo a cultura, vamos receber uma verba para poder contratar o projeto executivo. Esse projeto que vai dizer quanto que vai custar a reforma do estádio para colocar ele em condições de jogo", revelou.

A previsão da possível reabertura do centenário estádio, entretanto, ainda não está certa. Embora a ideia fosse disputar jogos no Manoel Schwartz em 2022, a reforma só deve ficar pronta em 2023.

"A gente não vai conseguir para janeiro de 2022. Acho que só para 2023, porque estávamos esperando a aprovação desse projeto, há toda uma burocracia, juntar documentação, plantas do clube, receber o laudo. Em breve, acredito que em um ou dois meses, iniciaremos o projeto executivo. Aí sim vamos apresentar a maquete, onde vão ser as reformas. Vamos fazer uma licitação para iniciar o projeto executivo das Laranjeiras e restauração. O estádio e a sede são tombados como patrimônio histórico, seremos fiscalizados pelos órgãos como Iphan e Inepac para revitalizar nossa casa", finalizou.

Se o Estádio das Laranjeiras demorará a reabrir, o torcedor tricolor está próximo de voltar ao Maracanã. Após discussões entre clubes e a CBF em meio à polêmicas da volta ao público nas partidas do Brasileirão, Mario Bittencourt seguiu a previsão do conselho técnico, que se reúne no dia 28/09 e espera marcar o dia 02/10 como data de retorno das torcidas aos estádios após 15 meses.

"Os 19 clubes querem que o público retorne assim como o que está contrário. A única discussão é que a competência para abrir os estádios é das prefeituras e da secretaria de saúde. A competência se quatro ou cinco vão jogar com público ou não é dos clubes e da CBF. Todos queremos a volta do público em condições sanitárias normais, com segurança. O colegiado decidiu que todos voltem juntos. A maior punição do futebol é perda de mando de campo, jogar sem torcida. Então como vamos permitir alguns e não todos? Não é justo, na concepção do colegiado. Há uma nova reunião e a tendência é que se todas as praças estiverem liberadas, a gente volta a ter público na rodada do dia 2 de outubro", afirmou.

Torcida do Fluminense deve voltar ao Maracanã em outubro já com novos planos de sócio, diz Mario Bittencourt - Maílson Santana/Fluminense FC - Maílson Santana/Fluminense FC
Torcida do Fluminense deve voltar ao Maracanã em outubro já com novos planos de sócio, diz Mario Bittencourt
Imagem: Maílson Santana/Fluminense FC

Com a volta dos tricolores ao Maracanã, o Fluminense pretende lançar seu novo plano de sócios, ideia que foi interrompida pela pandemia. Na opinião de Mario, não havia sentido criar novas categorias de associados sem que existisse a possibilidade de ir ao estádio. Agora, a previsão é de que em cerca de um mês, os torcedores vejam novas modalidades no plano de sócio-torcedor. Apesar de ligeira queda nos últimos meses, o Flu segue com aproximadamente 30 mil sócios.

"A torcida fez um movimento #ÉPeloFlu, que o clube abraçou, conseguimos a retenção dos sócios. Não era justo criar o novo pacote. O plano de sócio só faz sentido dando a possibilidade do torcedor ir ao jogo. A tendência é que a gente lance o plano daqui um mês, com a volta do estádio. Nos primeiros jogos, vamos privilegiar os sócios que ficaram pagando. Até o final de 2021, honestamente vamos pensar bem menos na questão financeira, e sim em trazer o torcedor para dentro do estádio. O protocolo que o Fluminense prefere é só de vacinados, porque o PCR é muito caro. A tendência é que até o final do ano estejam no estádio até como convidados os sócios que ficaram pagando e não puderam ir".

Apesar de muitas respostas sobre assuntos fora de campo, o futebol também foi pauta importante na coletiva. Mario Bittencourt opinou sobre a equipe de Marcão, que considera competitiva embora haja dificuldades de investimento em relação a outros grandes clubes do país, citando uma folha salarial de R$ 4,8 milhões mensais como "a 11ª ou 12ª do país".

O mandatário deixou implícito que o time não joga de maneira vistosa, mas segue o planejamento de brigar para disputar a Libertadores novamente em 2022.

"Em 2019 a gente jogava um futebol bonito, encantador, que gosto muito, de um treinador que se tornou um amigo [Fernando Diniz], mas percebi que quando a gente não tem dinheiro para investir, precisamos competir. Temos um bom elenco, mas é enxuto, e com muitos jovens da base. Seguimos com dificuldade de competição como os times de maior investimento. Mas nos confrontos com o Barcelona e o Atlético-MG tivemos a impressão de que poderíamos ter passado. Causa uma frustração interna e ao torcedor. A frustração existe porque conseguimos mostrar que somos competitivos", se defendeu.

Fluminense ficou na 5ª posição do Brasileirão em 2020 e chegou às quartas da Libertadores e Copa do Brasil em 2021 - Juan Mabromata-Pool/Getty Images - Juan Mabromata-Pool/Getty Images
Fluminense ficou na 5ª posição do Brasileirão em 2020 e chegou às quartas da Libertadores e Copa do Brasil em 2021
Imagem: Juan Mabromata-Pool/Getty Images

O presidente lembrou vitórias sobre o Flamengo como demonstração de força e competitividade da equipe. Os resultados, a princípio, seguem à frente do desempenho, mas a frustração pelas desclassificações em competições de mata-mata seguem como feridas abertas no clube, embora a diretoria precise trabalhar para seguir em frente.

"Quando a gente mesmo com dificuldades enfrenta o arquirrival, que custa oito ou nove vezes mais que a gente e conseguimos vencê-los, a gente mostra que é competitivo. Gera frustração quando não dá, mas o que cabe aos dirigentes, é mesmo após os revezes é seguir o trabalho para voltar a Libertadores no ano que vem, sendo mais competitivo ainda. Óbvio que a gente está triste. Nós temos um time competitivo, que luta até o fim. As pessoas deturpam o que o jogador diz, no momento de cabeça quente", opinou.

A pressão por títulos acontece já que o Tricolor tende a chegar a 10 anos sem grandes conquistas em 2022. Desde 2012, quando foi tetracampeão brasileiro e venceu o Campeonato Carioca pela última vez, o Fluminense faturou apenas a Primeira Liga, em 2016, um título considerado por Mario Bittencourt mas que não é unanimidade.

"Não foi na minha gestão, poderia dizer que a Primeira Liga não vale para fazer política. Mas houve o título. De lá para cá, o clube deixou de ser protagonista. Em 2016, 2017, 2018 e 2019, passamos a ficar na segunda página do Brasileirão. Meu primeiro objetivo era voltar à primeira página", pontuou, para prosseguir:

"Os mais jovens, que pegaram aquele grande investimento, não estão acostumados, mas já passamos muito mais tempo sem títulos. Passamos 23 anos de 1984 a 2007 sem títulos nacionais, de 1985 a 1995 ficamos sem títulos estaduais, fomos ao fundo do poço na década de 1990. Brigamos para não cair em 2003, 2008 e 2009, mesmo com altos investimentos. A instituição passa por bons e maus momentos, é algo cíclico. Estamos preparando o clube para o futuro. Chegamos em duas finais de estadual, uma hora vamos conquistar. Queremos chegar longe na Libertadores, na Copa do Brasil e no Brasileirão. É uma reconstrução, leva tempo, entendo o imediatismo das pessoas, mas vamos seguir no trabalho".

Liderado pelo capitão Fred, o Fluminense comemora o título do Campeonato Brasileiro de 2012 - Buda Mendes/LatinContent via Getty Images - Buda Mendes/LatinContent via Getty Images
Liderado pelo capitão Fred, o Fluminense comemora o título do Campeonato Brasileiro de 2012
Imagem: Buda Mendes/LatinContent via Getty Images

A reestruturação financeira foi o ponto mais importante e repetido por Mario em toda a entrevista. Ao citar mais de R$ 150 milhões já pagos após assumir o clube com R$ 700 milhões de passivo, o presidente lembrou das dívidas de curto prazo na Fifa, que causam punições esportivas.

"As dificuldades continuam imensas, mas continuamos em um trabalho de pagamento de dívidas e reestruturação financeira. Estávamos sendo cobrados na Fifa pelo Samorin. A cobrança era de 1,6 milhão de euros pela parceria. Nosso departamento jurídico fez um grande trabalho, mas fomos obrigados a pagar 536 mil euros. Temos 45 dias para pagar, sob pena de não poder inscrever jogadores e perder pontos, como o Cruzeiro perdeu. Só em dívidas Fifa temos R$ 40 milhões. As compras que fizemos estão integralmente pagas. Quitamos uma dívida com o Boston River pelo De Amores, de cerca de 500 ou 600 mil dólares.

Ainda há grande débito pela frente com a entidade máxima do futebol. As contratações dos equatorianos Junior Sornoza e Jefferson Orejuela junto ao Independiente Del Valle-EQU não foram pagas, e ainda restam US$ 3 milhões a serem quitados.

"Esse valor é quase 50% de folha de um ano do departamento de futebol. Estamos pagando para não ver o clube perder pontos ou ficar impedido de transferência. Em vez de comprar jogadores estou pagando compras antigas. Toda a premiação que recebemos da Libertadores foi bloqueada por dívidas trabalhistas, por jogadores que aqui passaram. Mesmo com isso tudo, a pandemia, a perda de receitas, sem público nos estádios, a gente vem sobrevivendo", resumiu.

Confira outras respostas da coletiva de Mário Bittencourt

Relação com o agente Eduardo Uram

Gosto das perguntas porque posso esclarecer como funciona. A relação com o Eduardo Uram é como a relação como qualquer outra. A relação dele com o clube é muito anterior a minha chegada. Tem vários jogadores no Atlético-MG, no Palmeiras, no Botafogo, em todos os clubes do futebol brasileiro. As pessoas gostam de falar sobre essa situação, porque acham que eu me inibiria. Tem cinco ou seis grandes empresários no Brasil, e outros são parceiros desses.

O caso Evanílson já explicamos várias vezes. A base era desconectada do profissional. Ele foi um jogador que as pessoas que estavam na base na época acreditavam que não havia interesse na renovação. O atleta, que era representado pelo Uram e por outro empresário que o trouxe, chamado Márcio, explicaram que o Fluminense não valorizou o jogador como deveria. Dentro do que tinha naquele momento, o Fluminense salvou 30% de algo que viraria pó. Recebeu R$ 12 milhões. Não conduzimos a negociação.

Caio Paulista

Só existe a opção de compra quando você paga pelo empréstimo. Em 2020, ele tinha uma proposta do Internacional para ganhar mais mas preferiu vir para o Fluminense. Era uma promessa feita à mãe. O jogador, que já pertencia à Tombense, era um jogador livre, estava emprestado ao Avaí, e seria emprestado ao Inter, mas foi emprestado ao Fluminense. Opções de compra só são colocadas quando você paga pelo empréstimo. Quem desembolsa o valor do empréstimo exige a opção de compra ao fim do contrato, como no caso do Nonato. O Caio foi emprestado gratuitamente. Ele teve muitas procuras em 2020, porque foi pouco aproveitado, mas a equipe de futebol, a quem já faço um elogio ao departamento técnico, scout e diretor-executivo, via potencial. Fomos ao representante e solicitamos um novo empréstimo gratuito, porque nós ainda não tínhamos a consolidação de que ele performaria. E foi gratuito, por isso, sem opção de compra. Quando o fim do contrato passou a chegar próximo, começamos a negociação, a Tombense deu o valor que acreditava, demos o valor que achávamos que valia. Fizemos um contrato longo, dentro dos padrões de mercado, um jogador que a gente acredita que valha o investimento. Jogador tem proposta da Europa, não de times de primeira linha, mas com valores mais altos do que propusemos. Por isso, adquirimos 50% dos direitos econômicos, também vontade do jogador. Só vamos saber se foi certo ou não se o jogador for campeão, for negociado, performar. É um negócio.

Mais futebol

A gente tem feito um trabalho de compra, investimento, resultado de campo e venda de atletas. Balança comercial do futebol do Fluminense. No final do ano apresentaremos o trabalho. Estamos tendo lucro com as vendas que estamos fazendo.

Roger Machado

Aqui a gente avalia o contexto. Quando o Odair chegou, fizemos um contrato de um ano. Ele tinha uma proposta de um time árabe e saiu, perdemos o treinador que fazia grande trabalho. Foi assim que a gente pensou. A gente fez um contrato de dois anos porque tivemos o receio de perder o treinador no meio do campeonato. Foi um jeito de criar uma segurança. Existe uma multa muito menor do que o valor mentiroso que foi divulgado. Pagamos a multa do Diniz, por exemplo, do Odair, algumas verbas de rescisão estão sendo pagas e vamos pagar a multa do Roger parcelada, ele aceitou assim, e agora estamos com o Marcão. Eu acredito em trabalho de longo prazo. A gente acreditou que um contrato mais longo traria mais segurança.

Wellington

É mais uma negociação que colocamos uma cláusula. A opção do atleta era para vir por dois anos. Nós não queríamos fazer dois anos fixos no momento. Foi um pedido da comissão técnica anterior. É um atleta que vem contribuindo conosco no dia a dia. Dentro das contratações que um clube faz, existe a opinião do treinador, do diretor, do scout, da comissão técnica permanente. O atleta tinha um histórico de algumas cirurgias, o departamento médico nos orientou a fazer uma cláusula de performance. Se ele estivesse apto a jogar em um percentual X de jogos, fisicamente bem, faríamos a extensão do contrato. De cabeça não sei o percentual exato e se já atingiu, mas se ele atingiu, foi uma cláusula para nos proteger. Todo e qualquer contrato, pelo que determina a legislação, se dispensa o atleta sem negociação, é obrigado a pagar o mesmo contrato. Não vamos cometer o mesmo erro que foi cometido anteriormente de dispensar por whatsapp, por email, ou por cartinha, gerando passivo enorme.

Nenê

Nenê queria jogar mais dois anos. Não temos o valor que saberíamos. Fizemos uma reunião amistosa, rescisão de comum acordo, não vamos pagar o salário dele até o fim, acertamos o que tínhamos de pendência, e ele seguiu o caminho dele no Vasco. Entregamos a ele caminho e respeito, as portas seguem abertas. Ele nos deu muito também.

Ato trabalhista

O ato trabalhista a gente cumpriu tudo, não fomos excluídos, ele acabou. Existe uma discussão técnica, porque a lei da SAF permite que tenhamos 6 anos para pagar. A gente está em discussão, aguardando um posicionamento do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O que diz a legislação atual: se o seu plano não for aceito, você precisa executar a dívida no dia seguinte e fica engessado. O balancete, reduzimos o passivo em R$ 45 milhões, especialmente com a PGFN, que entro na parte de como mitigar o déficit nos esportes olímpicos. A gente vem negociando uma transação tributária, e possivelmente até o fim do ano vamos conseguir as nossas CNDs. Já existem projetos aprovados que dependem da CND não só para os esportes olímpicos, mas também para o clube no geral, incluindo o futebol. Acreditamos que se houver êxito nessas negociações, conseguiremos acabar com esse passivo do clube social e dos esportes olímpicos. O nosso trabalho é para tornar o clube autossustentável. Pagando dívidas, tornamos o clube atrativo.

Matheus Ferraz

O jogador foi procurado pela Chapecoense e mais dois outros clubes. Em 2014, quando fui vice de futebol, até o início de 2016, eu ouvia do departamento de futebol, que zagueiro se você tem seis, na prática são cinco. Se são cinco, na verdade, temos quatro. E se temos quatro, não temos nenhum. A experiência me disse que preciso ter um time de zagueiros. Vocês que estão de fora não tem as informações do dia a dia. A gente sabia da possibilidade do Nino ser convocado, uma proposta por ele no meio do ano, e quando o Matheus foi procurado, entendemos por bem esticar o contrato dele para manter essa quantidade de zagueiro. Por uma questão de planejamento, porque o Luccas Claro também havia possibilidade de proposta por ele, ele tem uma cláusula de saída para o exterior caso chegue uma proposta. Para nos protegermos, renovamos. Além de ser um grande jogador, é um grande líder do grupo, é um jogador extremamente aplicado, nos ajuda muito no dia a dia e obviamente, em algum momento, ele será utilizado. Foi uma decisão de critério técnico.

Paulo Angioni, diretor de futebol

Ele é o diretor-executivo de futebol do clube. Ele chega todos os dias às 7 da manhã, exerce toda a função dele. Viaja, faz planejamento, tudo normal. É uma estrutura totalmente profissional: diretor remunerado, comissão técnica, scout, todos profissionais. Não temos a figura política do vice. O Paulo é um profissional que gosto muito e confio muito no trabalho. A gente trabalha muito internamente, justamente para dar estabilidade às pessoas. Ele é muito experiente, tem mais de 40 anos de futebol. Eu valorizo a experiência, no nosso país a gente tem uma cultura de desrespeito aos cabelos brancos. Atuo em todas as frentes, sou presidente. No momento final, respondo pelo clube. No final das contas a responsabilidade é minha. Estou com o olho em todos os departamentos. Trouxemos um profissional, Aníbal Rouxinol, que veio do Botafogo, para auxiliar juridicamente o Paulo.

Centro de inteligência do futebol, promessa de campanha

Temos o centro de inteligência, mas optamos por separar a análise de desempenho do scout. O departamento de análise está abaixo da comissão técnica, porque faz um trabalho diário interno e dos adversários. O scout fica junto com a diretoria executiva de futebol. Não chamamos de CIFE porque a ideia mudou. Fizemos um plano de gestão. Só muda de ideia quem tem.

Personalismo

Eu entendo que o presidente, o diretor geral de uma instituição precisa se responsabilizar. Eu sou o responsável pela equipe. Todos cometem erros e acertos. Por fim, a responsabilidade é toda minha. No passado, existia muito isso. Havia um problema: a culpa é do marketing, do jurídico, do financeiro... Ninguém tem culpa. Temos colegiado para todas as decisões. Todo mundo sabe que não vamos apontar dedo, mas vamos trabalhar para resolver os problemas.

Scout

Analisamos jogadores do mundo todo. Olhamos o mercado também pensando em Xerém, porque temos uma base muito boa. Temos filtros. Hoje estamos buscando jogadores em fim de contrato ou livres, porque não temos condições financeiras de fazer compras.

Folha salarial do clube

Folha entre 4,7 mi/4,8 mi. Tudo incluído: imagem e salários. Os nossos rivais estão com folhas de 17, 18, 20 milhões por mês. Se a gente conseguir, em pouco tempo, ter uma folha que é o dobro da nossa, vamos conseguir disputar muito melhor as competições. Por isso que faço sempre esse apelo: o principal ativo do Grêmio, que ficou 10 anos se reestruturando, é o sócio futebol. Precisamos de um programa ainda mais sólido, estamos em desenvolvimento de programas sólidos. Precisamos ter pelo menos 60 mil sócios torcedores a um ticket médio de 60 reais. Assim, teremos um time de futebol mais forte.

Momento do clube não é tão ruim assim

Quando eu tinha 20 anos, fui ao Maracanã ver o time jogar a Série C. Nem por isso deixei de torcer, sabia que como o maior clube do Brasil que é, daríamos a volta por cima. Por que a gente trabalha com estabilidade? Porque entendemos que o clube estava muito perto daquela fase tenebrosa. E precisamos voltar a colher os frutos do trabalho para ser protagonista. Precisamos reconstruir o Fluminense. O clube já se reconstruiu algumas vezes. O Fabio Egypto, presidente logo após o campeonato carioca e brasileiro. Até hoje é criticado por não ter sido campeão. Deixou o clube sem um real de dívida. Zerou tudo. Se quem viesse depois tivesse mantido o trabalho austero e montado um bom time de futebol, teríamos uma década de 1990 melhor. Quem veio depois não soube aproveitar. Pegamos o clube com R$ 700 milhões de dívida. Já pagamos mais de R$ 150 milhões.

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