À espera do boletim: bastidores do plantão da imprensa com Pelé no hospital
A tarde de sexta-feira (17) cai no bairro do Morumbi, em São Paulo, enquanto cerca de 30 profissionais da imprensa esperam o mais novo boletim médico de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que desde 31 de agosto está internado no Hospital Israelita Albert Einstein.
O hospital fica na Av. Albert Einstein, que apesar do prestígio de avenida é de mão única e tem apenas duas faixas para automóveis. A imprensa se posiciona na calçada oposta, protegida do vento pelas árvores e arbustos que cercam o muro de uma casa. Quem passa desavisado se impressiona com a quantidade de carros de TV estacionados um atrás do outro. "O que aconteceu?", pergunta uma senhora de meia-idade ao descer de um carro. "É o Pelé, está aí", alguém responde, apontando com a cabeça na direção do hospital.
Os cuidados médicos de Pelé têm sido bastante discretos e só viraram notícia no último dia 6, uma semana depois de sua internação. Originalmente, ele foi ao hospital para os exames de rotina que faz todo ano, mas descobriu um tumor no cólon direito e precisou passar por cirurgia. Desde a semana passada, o Rei do Futebol deu alguns sustos: esteve na UTI, depois voltou para o quarto, mas ontem (17) teve uma complicação respiratória que o levou de volta para a UTI, e em seguida para a terapia semi-intensiva, após nova estabilização.
Nestes dias todos, mesmo entre idas e vindas, apenas três boletins médicos foram divulgados. Como as informações vazadas são raras, a cobertura depende da apuração com familiares e amigos próximos de Pelé. Neste cenário, o plantão na porta do hospital é muitas vezes monótono e exige sobretudo paciência: não há entrevistas coletivas, nem manifestações de apoio de fãs de Pelé; são horas e horas de espera.
Ali, a maioria absoluta do tempo é de bate-papo, à espera de alguma notícia, de preferência um boletim médico. Entre uma entrada ao vivo e outra, formam-se três ou quatro rodas de conversa; alguém se distancia um pouco e acende um cigarro para espantar o frio; outro entra no carro da TV, sobe o vidro e tira um cochilo —afinal o plantão do dia anterior já foi exigente, e não havia previsão sobre a próxima entrada no ar. Algumas equipes passam o bastão para novas, recebidas com festa na chegada; em outros casos, uma única equipe atravessa o dia na cobertura.
Há quem viva esta rotina já há 11 dias, desde que a internação de Pelé foi noticiada, em 6 de setembro. É o caso de Lino Santos, videorrepórter da RedeTV!, que só trocou o hospital por outra pauta nos protestos de 7 de setembro. Com o passar dos dias, aprendeu táticas de sobrevivência.
"Todo dia vem aqui um trailer em que o rapaz vende marmitas. Hoje mesmo eu mandei mensagem para ele, avisei: pode vir até bem perto, que guardo uma vaga para você, mas não esquece da minha marmita. E ele trouxe", conta. Outro ambulante perto dali vende café e pedaços de bolo, mas vai embora cedo. Para quem precisa ir ao banheiro, só mesmo dentro do hospital.
A rotina só é quebrada por uma publicação nas redes sociais. Não de algum dos jornalistas ali, mas de Kely Nascimento, uma das filhas de Pelé, que avisa no Instagram que o Rei "deu um passinho para trás ontem, mas hoje foram dois para frente". A atualização logo chega a quem espera as entradas ao vivo, é anotada em papeizinhos e não demora para ir ao ar.
Em poucos minutos, a chuva fina rapidamente muda a dinâmica de todos. Abrem-se os guarda-chuvas para proteger não só as câmeras, mas também os ternos dos repórteres. Aí, quando dá 18 horas e muitos jornais começam, o espaço fica estreito para tanta gente ao vivo. Finalmente o boletim médico sai, e a notícia tranquiliza: Pelé teve uma "breve instabilidade respiratória" na madrugada [do dia 16 para 17], mas recebeu os devidos cuidados e está estável.
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