Em paz no Atlético-MG, Cuca terminou ciclos no Palmeiras em clima péssimo
Cuca vive um momento mágico no Atlético-MG, desde março deste ano, quando retornou. Muito católico, mais ao mesmo tempo supersticioso, ele talvez não goste necessariamente do adjetivo. Mas certamente concorda que a fase é especial. Seu forte Galo lidera o Brasileiro com sobras em relação ao vice-líder Palmeiras, seu ex-clube, que ele também começa a encarar nesta terça-feira (21), pela semifinal da Copa Libertadores.
Com o Palmeiras, diga-se, muito diferentemente do Galo, ele não chegou nem perto da conquista continental. Sua maior contribuição nesse sentido foi perder a decisão da edição de 2020, pelo Santos. Ao mesmo tempo, ninguém tira dele a conquista do Brasileirão-2016. E essa é uma dualidade que resume bem suas passagens recentes pelo clube.
Por duas vezes, Cuca saiu do Alviverde abruptamente, deixando, ao mesmo tempo, ótimas e péssimas impressões. Construiu também um rico acervo de histórias de bastidores, arestas mal aparadas e alguns desafetos de peso ao longo do caminho.
Mal na Libertadores, viveu climão, mas foi campeão brasileiro e saiu "por cima"
Cuca assumiu o Palmeiras em março de 2016, ainda na fase de grupos da Libertadores, e chegou à última rodada em situação complicada. Precisava vencer o River Plate do Uruguai e torcer contra o Rosario Central (ARG) diante do Nacional (URU). Seu time fez 4 a 0, no Allianz Parque, mas o Rosario bateu os uruguaios, deixando o Palmeiras em terceiro e fora da segunda fase.
No clube, a maior parte dos funcionários gostou do treinador logo de cara, mas há quem torça o nariz para as suas famosas idiossincrasias.
Ainda em abril, pouco tempo depois de chegar, Cuca decidiu que não quer mais trabalhar com o meia Robinho e o lateral Lucas, dois dos líderes do elenco. Ninguém entendeu muito bem o movimento, já que Robinho tivera seu contrato renovado pouco tempo antes. Ainda mais quando soube-se que, em uma troca por empréstimo, o Palmeiras receberia Fabiano e Fabrício, coadjuvantes no Cruzeiro.
Essa e outras atitudes de Cuca colocaram o técnico e o então diretor de futebol Alexandre Mattos em rota de colisão. Ao longo do ano, em mais de uma oportunidade, Mattos recorreu ao auxiliar Cuquinha, irmão de Cuca, para conversar com o treinador. Foi assim, por exemplo, que Mattos contratou Yerry Mina. O técnico convenceu Cuquinha a dizer que ele, e não Mattos, havia observado Mina. O diretor temia que Cuca rechaçasse a chegada do zagueiro se soubesse que Alexandre o garimpara.
Nos bastidores da Academia de Futebol, entendia-se que a relação de Cuca e Mattos só não era pior por causa de Paulo Nobre e dos resultados. O presidente alviverde conseguia domar ambos em momentos de maior tensão. "O Mattos e o Cuca são dois loucos, mas não esticavam a corda porque sabiam que o Nobre era mais louco que ambos", disse ao UOL, uma pessoa que trabalhava no Palmeiras à época.
O time de Cuca foi encorpando e partiu rumo à conquista do Brasileiro, com um futebol de muita entrega. Sua calça na cor vinho, companheira de todos os jogos, até virou uniforme de parte da torcida. E quando a conquista veio, no fim do ano, o treinador era unanimidade nas arquibancadas —nem tanto nos bastidores.
Quando chegou o fim do ano, o desgaste, apesar do título nacional, já era enorme. No trajeto, Cuca também passara a não engolir Paulo Nobre, a quem chamava de "guri". A tensão entre Mattos e o técnico não se suaviza com a conquista. Cuca anunciou que não iria seguir no clube para 2017. Ele justificou a saída dizendo que uma pessoa de sua família estava com um problema de saúde, sem mais detalhes.
Todas as pessoas ouvidas pela reportagem disseram que a saída se deu por problemas de relacionamento do treinador, em especial com Mattos, e que qualquer outra razão, ainda que verdadeira, foi pouco mais que um subterfúgio. "Não havia mais qualquer clima para ele no clube", disse uma das fontes. Mas a história do técnico no Palmeiras não se encerrava aí.
Cuca volta como salvador, reencontra desafeto e adiciona alguns à lista
Sem perder tempo, Alexandre Mattos, agora diretor de Mauricio Galiotte, anunciou a contratação de Eduardo Baptista para 2017. O jovem treinador era visto como o nome ideal para comandar o campeão brasileiro. Mas as coisas não saíram bem.
Além do cargo, Baptista recebeu da diretoria o colombiano Borja, o venezuelano Guerra, Michel Bastos, Willian, Keno e o volante Felipe Melo, entre outros. Todos escolhidos a dedo por Mattos. Mas, mesmo com esses nomes, o Palmeiras de Baptista fez água. No Paulista, foi eliminado pela Ponte Preta na semifinal, com direito a uma derrota por 3 a 0 em Campinas.
Na Libertadores, o Palmeiras classifica-se em primeiro no grupo. Mas uma derrota para o Jorge Wilsterman (BOL), em 4 de maio, custou o cargo de Baptista, ainda sob ecos da eliminação diante da Ponte. Para contrariedade de Alexandre Mattos, Mauricio Galiotte decidiu que o Palmeiras deveria recontratar Cuca.
Cuca não gosta do time que não montou
Cuca começou trabalhar com o grupo, mas de cara, alguns dos contratados não o agradam. Em especial Felipe Melo, com quem já tivera entrevero quando técnico do Grêmio, num longínquo 2004, e o caríssimo centroavante Borja. A interlocutores, Cuca criticava ambos. Para o colombiano, mostrou o rumo do banco de reservas, pedindo ao clube a contratação de Deyverson. Já com Melo, a atitude foi mais drástica: em julho, o técnico pediu seu afastamento.
A primeira decisão de Cuca no seu "novo" Palmeiras foi nas oitavas de final da Libertadores contra o Barcelona (EQU). Em Guayaquil, o Palmeiras ia se saindo bem com um 0 a 0 na bagagem. Um gol nos instantes finais, porém, deu a vitória aos equatorianos. Na volta, o Palmeiras venceu por 1 a 0, gol de Moisés. Mas o Palmeiras perdeu nos pênaltis, após cobrança errada de Egídio.
Com o afastamento de jogadores importantes e a queda na Libertadores, o enredo de certo modo foi parecido com o do ano anterior, quando Cuca sacou do elenco Lucas e Robinho. Melo tinha forte ascendência sobre o grupo e era benquisto pela maior parte dos companheiros.
O volante ficou três meses afastado, mas voltou a aparecer no banco em jogo contra o Bahia, no Pacaembu, em 12 de outubro. Após abrir 2 a 0, o Palmeiras cedeu o empate. E no dia seguinte, Cuca foi embora, "em comum acordo com o clube", como assegura uma pessoa que participou dos trâmites ouvida pela reportagem.
A relação entre Mattos e Cuca chegara mais uma vez ao insustentável, em especial com os resultados ruins. A ponto de o presidente Mauricio Galiotte, como um diretor de grupo escolar, ter chamado os dois para se acertarem em reunião, em mais de uma oportunidade. Inevitavelmente, Cuca deixava o Palmeiras. Mas agora, sem um troféu na bagagem.
Até 2018, Cuca jamais descartou um dia voltar ao Palmeiras, garantiu na época pessoa próxima a ele. "Mas aí tem gente lá que tem que sair", era o que ele dizia, quando indagado sobre a possibilidade
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