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Análise mostra que Abel repete padrões e ignora críticas no Palmeiras; veja

Abel Ferreira comanda o Palmeiras  - Cesar Greco/Palmeiras
Abel Ferreira comanda o Palmeiras Imagem: Cesar Greco/Palmeiras

Diego Iwata Lima

De São Paulo

23/09/2021 04h00

As críticas são quase unânimes e vêm de todos os lados. Alguns palmeirenses, bem como analistas, jornalistas e torcedores rivais chegaram a tachar de covarde a estratégia de Abel Ferreira no empate sem gols do Palmeiras contra o Atlético-MG, pela ida da semifinal da Copa Libertadores.

Ao que parece, muito focado em seu objetivo, que é a conquista da vaga para a final do torneio, Abel dá de ombros para os detratores. Tanto que essa não é a primeira vez que o técnico adota em jogo decisivo uma estratégia em que seu time ataca muito, muito pouco. O que faz com que ele como técnico e seus métodos sejam massacrados pela crítica.

Mas Abel tem tanta convicção em seu modo de entender o jogo que não se importa de jogar mais defensivamente em uma das pernas de uma eliminatória, pensando no confronto sempre como um jogo de de 180 minutos —quando há dois jogos, diferentemente da finalíssima do Continental. Para o português, neutralizar os pontos fortes do adversário é sempre a tarefa número 1. E de sua precisão decorrem os demais passos.

Uma análise um pouco mais detalhada dos números e resultados do Palmeiras sob a batuta de Abel mostra que nada no comportamento dos seus jogadores é acaso.

No próximo dia 28, por volta das 0h, Abel terá terminado de enfrentar mais um mata-mata com o Alviverde. E então, as análises voltarão. Com ou sem a vaga na mão, a única certeza é que o técnico terá levado a campo uma estratégia bem desenhada. E que os adjetivos ao lado dela importarão mais uma vez muito pouco para ele, com ou sem a vaga conquistada.

Menos posse, poucos chutes: semelhança de números impressiona

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Lance do duelo entre Palmeiras e Atlético-MG
Imagem: Conmebol

Diante do Galo, o Palmeiras de Abel Ferreira, teve comportamento e números muito semelhantes aos que apresentou no 1 a 0 contra o Santos, em 30 de janeiro deste ano, que rendeu ao time nada menos que a conquista da Copa Libertadores de 2020.

Naquele dia, no Maracanã, o Palmeiras teve 42% de posse de bola contra 58% do Alvinegro Praiano. Contra o Galo, na terça-feira (21), o Palmeiras teve 41% contra 59% de seu adversário.

O índice também é o mesmo da vitória por 3 a 0 contra o São Paulo, no segundo jogo das quartas da Continental. E apenas um pouco menor do que no 1 a 1 do primeiro jogo: 40% X 60%.

A semelhança entre a final ante o Santos e a semi desta temporada contra o Galo também pode ser vista no que diz respeito aos arremates. Assim como no Maracanã, com o goleiro John, o Palmeiras também acertou apenas um chute na meta de Everson.

Palmeiras não liga para posse de bola estéril e "fora do bloco"

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Após marcar de cabeça, zagueiro Gustavo Gómez celebra primeiro gol do Palmeiras no clássico com o Santos, no Allianz Parque, pelo Brasileirão 2021
Imagem: Marcello Zambrana/Marcello Zambrana/AGIF

Os números de posse de bola podem sugerir um amassamento por parte do Galo sobre o Verdão. Mas não foi isso que ocorreu. Sim, o Atlético finalizou mais, com 11 tentativas. Mas não acertou a meta de Weverton uma só vez sequer.

Após a partida, Abel explicou que não havia problema no fato de o Atlético-MG ficar mais com a bola, desde que essa posse acontecesse "fora do bloco".

Traduzindo do futebolês para o português, isso significa que a estratégia do Palmeiras era manter o Galo longe do espaço formado pelas suas duas linhas defensivas de marcação —o tal bloco. Trocas de passes da intermediária defensiva do Palmeiras para trás, portanto, pelo tempo que fosse, não eram problema para Abel.

Foi exatamente a mesma explicação que João Martins, auxiliar de Abel, deu após a vitória por 3 a 2 sobre o Santos, em julho, pelo Brasileiro. Naquele dia, o Palmeiras venceu mesmo tendo apenas 34% de posse de bola.

"Não queríamos abrir nosso bloco. E se fosse preciso o Santos ficar mais com a bola, tudo bem", disse Martins, que substituiu o suspenso Abel naquela tarde.

Precisão ofensiva é ponto-chave para estratégia funcionar em BH

O Palmeiras deve ter postura semelhante à de terça-feira (21) diante do Atlético-MG no próximo dia 28, em Belo Horizonte. Como o placar no zero leva o jogo para os pênaltis, e qualquer empate com gols dá a vaga para o Alviverde, o Galo, em casa, deve vir para a cima.

Aí entra a questão da precisão do jogo de transição do Palmeiras. Se as estratégias de defesa funcionaram, e as saídas para ataque forem completadas com arremates precisos, o Verdão tem boa chance de deixar o Mineirão com o passaporte carimbado rumo a Montevidéu, que vai receber a final do torneio.

Nesse sentido, o jogo de Minas Gerais talvez se assemelhe ao confronto de Avellaneda contra o River Plate (ARG), na semifinal da edição de 2020, vencido por 3 a 0 pelos comandados de Abel Ferreira.

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Rony comemora gol do Palmeiras contra o River Plate na semifinal da Libertadores
Imagem: Marcos Brindicci - Pool/Getty Images

Naquele dia, a posse de bola do Palmeiras foi ainda menor do que a média dos jogos avaliados acima: 21% contra 79% do time anfitrião. Mas o Palmeiras deu naquele dia um show de eficiência. Mesmo tão pouco com a bola, o Palestra bateu 11 vezes a gol naquela noite —mesmo número do River.

Mas diferentemente de seu adversário, o Palmeiras acertou a meta de Franco Armani sete vezes, colocando, como se sabe, três bolas no barbante. Já os pupilos de Marcelo Gallardo acertaram o gol de Weverton apenas duas vezes.

Meta é sempre anular ou empoderar alguns jogadores específicos

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Daniel Alves e Wesley disputam lance em Palmeiras x São Paulo pela Libertadores
Imagem: ANDRÉ ANSELMO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Outra estratégia de Abel é sempre procurar maneiras de anular pontos fortes específicos de seus adversários. Ou trabalhar para que os pontos fracos apareçam com mais intensidade.

Na final da Libertadores de 2020, coube a Danilo e Zé Rafael fazer com que Soteldo e Marinho não jogassem. Deu tão certo que Marinho até se desculpou com os santistas por não ter sido "ele mesmo" na decisão.

No confronto pelas quartas deste ano contra o São Paulo, Daniel Alves foi acompanhado de perto por Wesley durante todo o jogo, e pouco pôde fazer. Já contra o Atlético-MG na terça (21), coube a Rony o papel de impedir que Guilherme Arana conseguisse criar, conforme o próprio Abel explicou no fim do jogo.

Mas nem só de anular vive a estratégia de Abel. Ele também dá asas para os jogadores rivais que tem índices menores de acertos em momentos específicos. Mais uma vez voltando ao jogo contra o São Paulo, Abel criou uma situação para que Arboleda ficasse mais com a bola no pé, de olho no histórico dele de visão de jogo, pior em comparação a Luan, Miranda e Léo, que foram anulados por Dudu, Veiga e Rony.

O que Abel vai fazer para o jogo do Mineirão, ainda não é possível saber. Mas diante dessa análise, é seguro afirmar que certamente será algo muito bem estudado e padronizado. E se os críticos não gostarem, tanto pior para eles.