Designer analisa camisas caras no futebol e aposta em marcas dos clubes
A pirataria segue sendo um obstáculo para os clubes e para as marcas que produzem as camisas de futebol, ao mesmo tempo em que o alto custo do material original dificulta para que os torcedores de diferentes níveis sociais possam vestir o uniforme do clube para que torcem. Alguns clubes brasileiros decidiram investir em produção com marca própria para democratizar o uniforme e até conseguirem um lucro maior do que teriam com grandes marcas.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o designer Glauco Diógenes afirma que é necessário que os clubes procurem alternativas que possam baixar o custo, visando atingir mais torcedores nas vendas de suas camisas, considerando também que esta é uma receita importante para os próprios clubes.
"Essas marcas alternativas que surgem agora como marcas próprias são iniciativas que eu vejo com muito bons olhos, mas que ainda, obviamente, carecem de um melhor apuro, não só de design, do ponto de vista de desenvolvimento. Esse é um trabalho que tem que ser feito a quatro mãos. A iniciativa tem que partir do clube, com profissionais especializados em consonância com o marketing e com a comunicação institucional", afirma Glauco.
"A gente já tem hoje na indústria brasileira, principalmente na indústria de confecção, a gente tem um parque fabril absurdo. Está aí o Fashion Week, que durante muitos anos rendeu inclusive matérias internacionais de grande relevância. A gente tem condições de desenvolver produtos com muita qualidade, e que não haja a menor dúvida, extrema qualidade, e por um preço mais acessível, bem mais acessível, mas precisa se fazer toda uma engenharia reversa, para usar um termo da moda, dentro da questão da indústria para que você consiga também ter o suprimento da linha popular, camisas alternativas que vão suprir a necessidade desse torcedor", completa.
O designer pontua que a busca pela pirataria ainda acaba sendo a alternativa encontrada por parte dos torcedores, mas a realidade poderia ser outra se houvesse uma opção mais em conta dentro do valor que eles podem pagar e cabe aos clubes buscarem a solução junto às empresas que fabricam as camisas.
"O torcedor, nesse sentido de pertencimento, no final do dia, beleza, ele acaba optando por ir no mercado alternativo, paralelo, piratão mesmo. Mas ele gostaria muito e quer muito, às vezes, poder comprar para um filho pequeno a camisa original, mas fica inviabilizado, então, precisa se sentar, os clubes, principalmente, terem mais autonomia e poder pelas suas marcas, através de processos de branding, processos mais profissionais, para você garantir reprodutibilidade", diz Glauco.
"Você sentar com o seu fornecedor e conseguir realmente, dentro de uma expertise técnica, fazer com que consiga baixar [o preço] o máximo que você puder para você conseguir ganhar na escala. Mas esse é um trabalho que exige realmente que você tenha toda uma estrutura dentro dos clubes, para conseguir dialogar com os fornecedores porque, muitas vezes, para o fornecedor, ele dá uma informação para o clube, que ele já está acostumado, em um processo em que ele está meio acomodado. Ele não quer sintetizar isso e, às vezes, você precisa sentar com os especialistas para poder ver", completa.
Alguns clubes do futebol brasileiro adotaram nos últimos anos, como alternativa, o uso de marcas próprias de uniformes —casos de Atlético-GO, Bahia, Ceará, Fortaleza e Juventude, da Série A, além de Brasil de Pelotas, Brusque, Coritiba, CRB, Goiás, Náutico, Ponte Preta, Vila Nova e Vitória na Série B, ou seja, 14 dos 40 clubes das duas principais divisões nacionais têm marcas próprias. Glauco acredita que esta é uma boa alternativa, mas ressalta a necessidade de um bom trabalho de comunicação entre clube e torcedor.
"O Bahia, obviamente, é um clube de massa, parece que está conseguindo através da sua marca atingir isso. A gente tem exemplos do Santa Cruz recentemente e agora descontinuou. O problema é essa instabilidade política também que acontece dentro das estruturas e da mentalidade que se tem, principalmente nos clubes grandes, você portar uma marca grande como fornecedora de material esportivo acaba também sendo um símbolo de status e de comparativo entre essas agremiações, entre os próprios torcedores", afirma o designer.
"Muitas vezes, você tem até a iniciativa do clube de tentar partir para um caminho autônomo e de construção dessa marca própria, oferecendo um bom design, mas é rechaçado de pronto pela própria coletividade que não aceita e vê esse tipo de iniciativa como uma alternativa menor ou como um produto subqualificado, então, é complicado. Uma questão complexa que a torcida precisa abraçar também, e o clube precisa comunicar de uma maneira muito clara e efetiva", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no YouTube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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