Topo

Corinthians

Metodologia, captação e futsal: Brazil relata ações do Corinthians na base

Carlos Brazil assumiu a base do Corinthians em junho desta temporada  - Divulgação/ Corinthians
Carlos Brazil assumiu a base do Corinthians em junho desta temporada Imagem: Divulgação/ Corinthians

Yago Rudá

Do UOL, em São Paulo

06/10/2021 16h02

O primeiro ano de gestão do presidente Duilio Monteiro Alves tem sido marcado por uma série de mudanças internas no Corinthians. Um dos departamentos afetados pela nova diretoria foi o de formação de atletas, conduzido por Carlos Brazil desde junho deste ano. O gerente-geral da base do Timão atendeu o UOL Esporte, explicou sua metodologia de trabalho, detalhou os planos para as jovens revelações do clube e falou em formar uma 'fábrica de talentos' no Parque São Jorge.

No longo prazo, o objetivo é oferecer ao elenco principal jogadores de alto nível em todas as posições. Para isso, no entanto, antes de olhar para o campo é necessário estabelecer alguns processos internos, definir metas e hierarquias. Em outras palavras, adequar o trabalho da base ao que costuma ser realizado em grandes empresas. A readequação do departamento passa pelo trabalho de todos os profissionais envolvidos com a base: nutricionistas, psicólogos, fisiologistas, preparadores, analistas e treinadores.

"Viemos com algumas ideias. Encontramos aqui profissionais extremamente capacitados. Tem a questão da metodologia como algo muito importante porque com isso a gente norteia o trabalho. Faço uma comparação da metodologia com o planejamento estratégico de uma empresa. O grande objetivo, a grande meta é formar jogadores para o profissional. Para isso, precisamos ter uma metodologia, formar uma fábrica de talentos. Esse é o nosso trabalho, mas precisamos ter esses parâmetros", explicou o dirigente ao ser questionado sobre as mudanças recentes no departamento.

De acordo com Brazil, o Corinthians está cada vez mais próximo do ideal em busca do protagonismo nas categorias inferiores. Anualmente, o clube gasta algo em torno de R$ 18 milhões a R$ 20 milhões com a base, o que é suficiente para tornar o departamento uma 'fábrica de talentos' e gerar lucros aos cofres do clube — algo tão importante para a atual gestão, que trabalha para liquidar uma dívida quase bilionária contraída nos últimos anos.

"Um dos principais fatores de sucesso de planejamento está nos recursos humanos. Falei isso para o Duilio ainda na minha entrevista. Houve pouquíssimas demissões, muitas delas avaliadas pela gestão anterior, e trouxemos alguns profissionais de sucesso no mercado. Não sei precisar o número de profissionais que temos aqui hoje, mas é perto do ideal. O orçamento do Corinthians está na média dos grandes clubes brasileiros, mas ainda restam algumas coisas que precisam ser melhoradas. Por exemplo, temos oito profissionais alocados na captação de jogadores, enquanto tem clube com 30 profissionais nessa área".

Para driblar os adversários e colocar o Alvinegro na briga pelos jovens talentos que aparecem pelos quatro cantos do país, Brazil procurou maneiras de melhorar o sistema de captação. O primeiro passo dado foi estreitar as relações com as escolinhas do Chute Inicial, credenciadas pelo Corinthians e espalhadas por todo o Brasil. Os garotos que se destacarem por lá serão observados e, posteriormente, terão aoportunidade de serem testados na base. Outro ponto importante foi a aproximação com o futsal do Parque São Jorge, por onde passaram vários ex-atletas de destaque do Alvinegro.

"Tem que existir uma integração muito forte com o futsal, que tem um trabalho muito bom feito pelo Edinho (gerente da categoria). A integração com o futebol existia, mas de uma forma muito superficial. Agora integramos a metodologia. Os treinadores do futebol do sub-14 para baixo também são os treinadores do futsal. O futsal é um processo importante na formação. Para você formar bem, precisa captar bem nas idades menores. O importante para o clube é a captação, não a contratação. Também encontramos aqui um processo sensacional do Chute Inicial, que hoje tem mais de 13 mil alunos. O Corinthians não pode desperdiçar isso de forma alguma", conclui o gerente, responsável pelas crianças que chegam ao Parque São Jorge com o sonho de se tornarem jogadores de futebol até os atletas do sub-20, a categoria mais próxima do profissional.

Veja outros pontos da entrevista com Carlos Brazil:

Quando o Corinthians inaugura o CT da base?

"Em relação ao CT posso dizer que é algo muito bom, quase que suficiente, para formar jogadores. Não há desculpas para não formar por conta de estrutura. O que falta é muito pouco, falta o hotel, mas isso não prejudica em quase nada. Temos a pousada, que fica muito perto aqui do clube e nos ajuda muito bem. Com isso, também falta o restaurante, cozinha industrial. São coisas pequenas, básicas e que prejudicam pouco no aspecto formativo. O presidente está tão atento a isso quanto qualquer outro aspecto dentro do clube, ele também quer que isso aconteça em breve. Obviamente, que isso será feito sem nenhum prejuízo ao clube e dentro do orçamento, assim como ele tem feito sempre durante esse mandato. Ele tem se preocupado muito com a questão orçamentária para que tudo seja feito sem prejudicar o Corinthians".

Metodologia de trabalho

"É uma metodologia de formação. O que seria isso? É uma ideia de jogo e o perfil do jogador em cada posição. Não tem certo e errado no futebol, tem o que dá certo. Baseado em estudos científicos, o melhor para o jogador é que ele tenha o maior tempo de bola. Para que ele tenha isso, essa equipe precisa ser protagonista. É preciso linhas muito próximas, pressão pós-perda para recuperar a posse, pressão alta na marcação. Evidente que em alguns jogos, a marcação pode ser feita mais recuada. Não podemos nos esquecer que o jogo é circunstancial. Cada treinador vai colocar seu molho, seu tempero, mas a ideia de jogo tem que ser muito próxima disso que estou falando. É algo muito próximo ao jogo posicional, que é baseado em você buscar a superioridade dentro do campo a todo momento, e, desta forma, ter a posse de bola a maior parte do tempo. Superioridade quantitativa, quando temos mais jogadores que o adversário em um determinado setor do campo; superioridade qualitativa, quando no 1x1, por exemplo, temos um jogador melhor que o adversário; superioridade posicional, quando nossos jogadores se posicionam em campo melhor que os adversários; superioridade dinâmica, quando nossos jogadores se movimentam, principalmente entre linhas, melhor que o adversário. Isso faz com que você tenha mais tempo de bola e assim você forme melhor os jogadores. O atleta entra no Corinthians de forma individual e vai para o profissional de forma individual. Temos que pensar no coletivo, mas não podemos deixar de trabalhar a individualidade de cada atleta. Eles nunca vão estar 100% preparados, mas precisam chegar perto disso. É uma coisa global, você precisa trabalhar tudo nele".

Atrito com o conselheiro Jacinto Antônio Ribeiro, o Jaça

"Não houve e não há interferência. Há uma troca de opiniões entre todos que estão no clube. Quando cheguei, trouxe uma ideia concebida do que seria melhor para formação em termos de metodologia e ideias de jogo. O Tarcísio é um grande treinador, tem um histórico muito bom no futebol brasileiro, mas ele não foi treinador de base. Ele é um treinador do futebol profissional. Para a base, eu entendia que ele não estava preparado para aquilo que a gente queria. Não houve desgaste, foi dito claramente para ele. São situações do dia a dia. Na imprensa se discute muito o treinador, mas se discute muito pouco as ideias do treinador. Cada um tem o seu perfil. Naquele momento, entendíamos que o Tarcísio não concordava com a ideia de jogo que a gente tinha. Os resultados também não estavam favorecendo e a gente gostaria de trazer um outro profissional. Ali era o início da gestão e houve um problema de comunicação. Entramos em contato com o Diogo e o Tarcísio estava autorizado a dar o treino aqui. Foi um erro meu no processo da comunicação com o treinador, isso acabou acontecendo até por desconhecimento da cultura de como o clube trabalha. Não há interferência. Aquela era a minha opinião, não era a opinião de outros, mas ouvimos todos. Não houve desgaste em relação a isso".

Qual é o papel dos conselheiros do Corinthians no departamento de formação de atletas?

"A política é inerente aos clubes, faz parte de todos e não só do Corinthians. O Jaça é conselheiro do clube há muito tempo, é uma pessoa importante e eu não vou deixar de escutá-lo. Evidente que ele me respeita, hoje o diretor estatutário do futebol de base é o Osvaldo Neto. O presidente sempre me deu autonomia de trabalho, foi uma coisa ajustada desde o início. O problema de comunicação aconteceu, eu não sabia bem como funcionava o sistema do clube. Isso está resolvido e é impossível de voltar a acontecer. Não há inteferência, existe diálogo não só com o Jaça, mas também de outros conselheiros e torcedores. Já recebi torcedores, estou aberto para qualquer pessoa. Procuro marcar hora porque preciso atender as reuniões internas do clube, as reuniões com os pais dos atletas, a preparação para os jogos. Tudo isso toma tempo. A base joga de sábado e domingo, tem programação de viagens e tudo leva tempo. O trabalho é transparente, dentro dos processos, da metodologia que foi elaborada. Não tenho o que esconder".

Atraso do pagamento dos auxílios aos jogadores da base

"Não atrapalhou em nada, é um atraso que eu até considero natural. Existem dois tipos de auxílio na base e as pessoas costumam confundir isso. Existe a ajuda de custo que é do contrato de formação a partir dos 14 anos, essa é uma ajuda importante. Ela tem um aspecto legal porque o contrato de formação dá a garantia ao clube de prioridade na assinatura do primeiro contrato profissional. Praticamente, você amarra o menino ao clube. Por isso, pagar esse menino para jogar no Corinthians é importante. Já a bolsa de ajuda de custo paga aos meninos de 13 anos para baixo, que é aí que existe a confusão, é uma ajuda que o clube não tem obrigação de dar. É uma ajuda mesmo para pagar uma passagem, um lanche. Não tem contrato, não tem um aspecto jurídico nisso, ela não é obrigatória. O clube dá espontaneamente para ajudar e isso fica muito claro aos pais. Quando o clube atrasa um pouco esse pagamento não atrapalha em nada o nosso trabalho. Já o contrato de formação, a gente pede para o financeiro que não atrase porque pode vir a ser um problema. São coisas distintas".

Corinthians