Funk, futevôlei e tretas: os altos e baixos da relação Romário e Edmundo
"Somos bad boys, isso não tem nada a ver, cante com a gente esse rap que você vai aprender". Quem viveu a década de 90 e gosta de futebol certamente lembra deste funk, criado pela dupla Romário e Edmundo no Flamengo, em 1995, e que embalava um esperado e badalado trio ofensivo na companha de Sávio, apelidado de "Melhor Ataque do Mundo".
Em campo as expectativas não se confirmaram e o Rubro-Negro conquistou apenas um Estadual. Porém, mais do que a decepção dentro das quatro linhas naquela temporada, o que viria a surpreender a todos anos depois seria a reviravolta que aquela amizade entre dois craques do futebol brasileiro teria, e que ao longo tempo ficaria marcada por altos e baixos, e com a certeza de que nunca mais seria a mesma.
O funk e o ápice da amizade
O ano era 1995. Uma temporada antes, Romário havia sido o principal personagem da seleção brasileira no título da Copa do Mundo dos Estados Unidos. Já Edmundo vinha de um bicampeonato brasileiro e paulista pelo Palmeiras, também sendo destaque.
Apostando num período mágico, a diretoria do Flamengo contratou Edmundo para formar o trio de ataque com Romário e Sávio, e o Baixinho - que já tinha um entrosamento das areias e noites do Rio de Janeiro - fez questão de recepcionar o amigo ao melhor estilo carioca: criando um funk.
O hit "Rap dos Bad Boys", que é facilmente achado no YouTube com milhares de visualizações, foi divulgado oficialmente na apresentação de Edmundo no Rubro-Negro, com direito a uma "palinha" dos dois aos jornalistas.
Disputas dentro e fora de campo abalam a amizade
Após a frustrada parceria em campo, Romário foi para o Valencia (ESP) no ano seguinte e Edmundo para o Corinthians. A partir dali, passariam a disputar vaga na seleção brasileira para a Copa do Mundo de 1998 e também mulheres na noite do Rio de Janeiro.
Enquanto o Baixinho, posteriormente, voltava para o Flamengo em 1997, Edmundo fazia daquele ano a sua temporada mágica da carreira, sendo campeão brasileiro pelo Vasco e considerado por muitos o melhor jogador do mundo naquele período.
"Fui muito amigo dele, mas Romário é muito vaidoso e egocêntrico. Num momento lá atrás, ele foi muito legal para mim. Só que chegando lá na frente, a gente passou a ser concorrente. De tudo, de mulher, de artilharia, de título, de vaga na seleção... A gente começou a ter conflitos", disse Edmundo esta semana, na já famosa entrevista ao podcast "Inteligência LTDA" e que gerou toda a polêmica e represália de Romário no dia seguinte.
"O rei, o príncipe e o bobo"
O conflito público mais marcante e que se tornou histórico foi quando se reencontraram para atuar juntos pelo Vasco, em 2000. Dividindo o coração dos vascaínos, eles entraram em campo para enfrentar o Bangu, pelo Campeonato Carioca, até que ocorreu um pênalti a favor do Cruz-Maltino.
Edmundo, que já havia feito três gols em dois jogos na competição, pegou a bola para bater, Romário sinalizou que também queria e, após um momento de indefinição, decidiu-se que o Baixinho faria a cobrança, para a inconformidade do Animal.
Na batida, o camisa 11 chutou no travessão e, na saída do campo, Edmundo não perdoou:
"Quem manda é o homem lá [Eurico Miranda, presidente do Vasco na ocasião], mas só eu que estava treinando os pênaltis. Mas quem manda é o homem. Se o homem quer que bata o príncipe, eu não tenho culpa."
Romário, que até então estava zerado no Estadual, engoliu a seco. No jogo seguinte, Edmundo fez o gol único da vitória do Vasco sobre o Friburguense, e o Baixinho seguiu em silêncio. O "placar" entre os agora desafetos estava em 4 a 0 para o Animal.
Na rodada seguinte, Romário fez logo quatro na goleada por 6 a 0 sobre o Americano e, apesar da generosidade em dar uma assistência para Edmundo, começou a destilar seu veneno com a aproximação na "disputa individual" com o Animal:
"Artilharia é que nem corrida de cavalos. Os cavalos paraguaios largam na frente, mas eu sou um manga-larga. Depois a gente vê o que vai dar".
Eis que, no dia 29 de março de 2000, Romário proferiu uma de suas frases mais famosas. Após vencer o Olaria por 4 a 1 e ultrapassar Edmundo no "placar" com um 7 a 6, disparou para a TV Globo:
"Agora a corte está toda feliz: o rei, o príncipe e o bobo".
Futevôlei os reaproxima, e Edmundo vai ao aniversário de Romário
Os anos se passaram e foram nos metros quadrados compartilhados na rede de futevôlei do "Lanai", na praia do Pepê, na Zona Oeste (RJ), que Romário e Edmundo foram se reaproximando. Os muitos amigos em comum no esporte e nos locais que frequentavam na noite carioca fizeram o "meio de campo".
A partir dali, não se consideravam amigos, mas tinham uma relação cordial, se falavam, se respeitavam e conviviam juntos em muitos momentos. Prova desta "trégua" nos conflitos foi a presença de Edmundo no aniversário de Romário ano passado.
Em janeiro deste ano, porém, um torneio de futevôlei no espaço poliesportivo do Baixinho no Rio de Janeiro, a "Arena R11", já dava sinais que a relação havia voltado a se desgastar. Como em muitos momentos da vida da dupla, se colocaram frente a frente novamente, só que na decisão do campeonato, onde Romário levou a melhor e foi campeão, com direito a dancinha de hip hop após o ponto final.
Os cumprimentos entre ambos aconteceu de forma fria, e ambos praticamente se restringiram a cumprir os protocolos da competição nas fotos e premiação.
Amizade das filhas: o laço mais forte da relação
Um legado que parece não se abalar com os altos e baixos da relação entre Romário e Edmundo é a amizade entre suas filhas Danielle Favatto, do Baixinho, e Ana Carolina Sorrentino, do Animal.
Vascaínas, elas estreitaram seus laços com a convivência no bairro da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, e, vez por outras, costumam aparecer juntas postando fotos.
Diferentemente dos pais, que emplacaram entrevistas históricas ao longo do tempo, elas preferem a discrição e se mantém avessas às entrevistas.
Treta mais recente volta a "azedar" relação
A treta mais recente se deu após as declarações de Edmundo ao podcast "Inteligência LTDA", onde além de falar do "egocentrismo" de Romário, ressaltou que prefere conviver com quem está "em comunhão" com ele:
"Prefiro estar com os meus, com quem eu possa viver em comunhão. O egocentrismo atrapalha. Isso foi me ferindo e me afastando. Tudo girando em torno dele e isso para mim não dá. Não gosto de falar mal do cara. Ele não mexe comigo, e eu também não mexo com ele."
Conhecido por sua língua afiada e por não deixar barato, Romário retrucou em entrevista à colunista Marluci Martins, do UOL Esporte, chamando Edmundo de "cuzão".
"Já estou com 55 anos. Para mim, isso já passou. Foi coisa da idade, e chega uma hora em que é preciso olhar para a frente e esquecer o que passou. Infelizmente, ele continua com esse ciúme bobo. Isso é babaquice. É coisa de cuzão. Cuzão", disparou o Baixinho, que ainda repostou o famoso vídeo do "Rei, príncipe e bobo".
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