Quem é o atacante gaúcho que virou artilheiro no Paraguai
No Brasil, pouca gente conhece Francisco da Costa. Mas seu nome é sinônimo de gol no Paraguai. Artilheiro do Sol de América no Torneio Clausura do Campeonato Paraguaio e vice-artilheiro absoluto com cinco gols, o atacante ostenta média impressionante de nove participações em gols (seis gols e três assistências) em 10 jogos pela equipe. O gaúcho de Taquarí indica o caminho de mercados pouco usuais para jogadores brasileiros, mas não esconde o sonho de voltar para sua terra e jogar no clube do coração: o Grêmio.
Aos 26 anos, o atacante carrega em sua trajetória passagens breves no país. Na base do Grêmio até os 10 anos, um ano no Inter, aos 15 passagem pelo CFZ, depois conclusão da base no Novo Hamburgo e consolidação de carreira no Athletico Paranaense. "Me dei conta ali o que era um clube de primeira divisão. Sou muito feliz de ter vivido essa experiência maravilhosa", contou ao UOL Esporte.
Mas depois do Furacão vieram saídas. O Inter de Lages-SC, o São José-RS, e a chance de ir para um mercado pouco usual: o México. Foi quando Francisco iniciou uma caminhada que indica para outros jogadores: desbravar países.
"Eu chego ao México com 20 para 21 anos, jogo a terceira divisão no Inter Playa. Depois vou para segunda divisão com Venados e Atlante, e em seguida jogo no Querétaro, um clube maior, de primeira divisão. Confesso que demorei um pouco para me adaptar, entender que morava no México. Na minha cabeça ainda estava o Brasil. Mas comecei a ver que tinha que me concentrar mais no país. Me adaptei ao jogo mais rápido, mais vertical. O brasileiro tem mais controle da bola, do jogo, no México é mais rápido, vertical, levei um ano e meio para entender com perfeição", disse.
Após iniciar no futebol mexicano na terceira divisão e chegar até a elite, a passagem pelo Querétaro, clube onde tinha atuado Ronaldinho Gaúcho, não foi a que Francisco esperava. Com duas lesões, uma delas obrigando cirurgia no ombro, ele entendeu que era hora de sair, e novamente foi para um lugar pouco comum: o Paraguai, mais precisamente no Sol de América.
"O clube é bom, recebe muito bem o jogador, o mercado paraguaio tem muitas opções. Sem contar que Olimpia, Libertad e Cerro Porteño jogam Libertadores e Sul-Americana toda hora", falou.
"Às vezes o jogador brasileiro tem sua zona de conforto no Brasil e medo de sair. Mas temos que buscar nosso caminho fora, fazer sua vida fora, porque no Brasil tem muito produto, muito jogador e pouca vitrine. A elite, clubes de Série A ou B, aparecem bastante, mas somos 200 milhões de habitantes, têm jogadores sobrando no mercado. E se pode marcar a diferença fora do Brasil. Tem muito brasileiro bom que não ocupa mercado no Brasil e pode ocupar um espaço importante fora", completou.
Sonho de jogar no Grêmio, preconceito e negativa a outras seleções
O bom rendimento pelo Sol de América é resultado de uma rápida adaptação ao Paraguai. Sem tanta distância cultural como no México, ele rapidamente conquistou espaço no cenário do futebol do país, tanto que já foi até levantada a possibilidade de uma tentativa de dupla nacionalidade no futuro, para defender a seleção. Mas, hoje, o laço com o Brasil é muito forte. Francisco sonha em jogar no Grêmio, e afirma que não atuaria em outras seleções.
"Eu tenho sonho de poder voltar ao Brasil e jogar no Grêmio, que é meu time do coração. Não sabemos para onde o futebol pode nos levar, temos que pensar na situação econômica, no alto nível, não sei onde estarei quando meu contrato aqui acabar. Hoje estou muito bem no Paraguai, minha cabeça está focada aqui. Mas, obviamente, se eu tivesse que dizer um desejo, era jogar no Grêmio. Estar em casa, meu clube desde criança, com a minha família, viver essa experiência seria especial", contou.
"Eu sempre tive a convicção de que não jogaria em outra seleção que não a brasileira. Me sinto honrado de ter nascido onde nasci, no Rio Grande do Sul, no Brasil. Sempre quis deixar essa boa impressão de cidadão brasileiro, orgulhoso de onde saiu. Mas é engraçado que saiu recentemente que deveriam me nacionalizar para jogar na seleção. Eu até dei uma pensada, mas, hoje, não passa de uma brincadeira, não há essa hipótese. Se chegasse proposta, iria me prestigiar, ficaria emocionado, mas eu diria que não. Só jogaria pela seleção brasileira", acrescentou.
E a imagem de jogador brasileiro é exatamente um ponto que Francisco pretende mudar no exterior. Nos países onde passou, ele notou que atletas daqui são vistos com desconfiança.
"Há um respeito pelo futebol brasileiro, pela qualidade, mas também tem preconceito de achar que o brasileiro não leva as coisas a sério. Temos essa fama. Eu acho que no Paraguai veem os brasileiros com mais carinho por ser fronteira. Mas é a imagem que o brasileiro acaba passando no México, e até aqui, essa energia de estar sempre alegre, confundem com comodismo. Conheci gente comprometida e descomprometida, no Brasil e no México. Senti solidão no México porque tinha poucos brasileiros. Aqui até não tem muitos na Liga, mas tem muitos brasileiros, cultura parecida. No Paraguai me sinto mais próximo", afirmou.
Hoje, ele garante que vive a melhor fase da carreira, reflexo dos aprendizados fora do país. Percorrer tal caminho é indicação de quem acredita que cresceu com cada fase que a vida apresentou. Longe de suas raízes, mas jamais esquecendo delas.
"Atingi uma maturidade boa na carreira. Entendo os processos e quando as coisas acontecem positivamente e negativamente. Temos que aprender a lidar com as adversidades. Em um esporte com competitividade tão grande, nem sempre as coisas vão sair positivas mesmo que você faça tudo bem. Aprendi a lidar com meu espaço, a ser profissional, não só no treino, mas na minha vida. E confiar nisso. É colocar nosso grão de areia todos os dias, ir somando que o resultado chega. Desde minha cirurgia (no ombro, pelo Querétaro) estou pensando muitas coisas, entendendo o que o corpo precisa, alimentação, descanso, o jogo, a parte tática, e tentando ser um jogador melhor a cada dia em todos os aspectos. Estou concentrado e confiante", finalizou.
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