A esta altura, Galiotte se isenta e lava as mãos ao falar em manter Abel
O presidente Mauricio Galiotte, do Palmeiras, não havia dado nenhuma declaração desde que começou a sequência de sete partidas sem vencer do time, em 21 de setembro. Na quarta-feira (13), ele veio a público para dizer que o técnico Abel Ferreira fica no cargo até o fim de seu mandato.
Na visão dessa reportagem, tal gesto, com a poeira do último jogo já baixada e do modo como foi feito, soou mais como se o presidente estivesse "lavando as mãos" do que como se demonstrasse proteção ao seu treinador. Afinal, desde setembro, Abel vem lidando sozinho com a pressão por conta dos resultados.
À Globo e à ESPN, Galiotte disse, em resumo, que Abel não deixa o clube na sua gestão, que se encerra em dezembro, quando ele passará o bastão para Leila Pereira. A futura presidente, proprietária da Crefisa e da FAM, patrocinadoras do clube, já disse que pretende seguir com o técnico.
Em fim de mandato, a declaração de Galiotte reitera sua avaliação de já ter feito o que deveria. O que fica ainda mais evidente quando ele aponta as causas da momentânea derrocada e praticamente se isenta. Dizer que Abel fica é um ato de pretensa benevolência de Galiotte, que na verdade lhe serve de escudo.
Nas duas entrevistas, o dirigente cita desgaste emocional, participação em oito decisões, momentos técnicos e físicos abaixo do melhor, arbitragem, calendário e estresse como as causas para um momento tão ruim às vésperas da partida mais importante do ano. Cita ainda que o grupo é muito forte, que tem atletas de seleção, talentos de base e toda a estrutura necessária para a entrega de um grande trabalho.
Mas não cita que seu planejamento de reforços para a temporada foi falho e não atendeu às demandas de Abel Ferreira, que detectou e lhe informou sobre a necessidade de contratações ainda em março, quando o Alviverde conquistou a Copa do Brasil.
Já na época, o técnico dizia que o sarrafo iria subir. Mas em tom de austeridade financeira, o Palmeiras optou por não contratar para melhorar o time titular, mas apenas para compor elenco e, de preferência, sem fazer gastos.
Abel pediu um centroavante, um lateral-direito e um zagueiro canhoto. Não recebeu nenhum deles. De modo que não conseguiu promover o revezamento que considera ser ideal por não ter, também como sempre repete, dois jogadores de bom e mesmo nível para cada posição. Assim, alguns atletas certamente ficaram mais desgastados do que deveriam.
Das contratações feitas —Danilo Barbosa, Jorge, Matheus Fernandes e Piquerez—, apenas o lateral-esquerdo uruguaio já tem demonstrado potencial para seguir jogando no time. Das quatro, aliás, só Danilo chegou antes da janela de transferências de agosto.
Os outros dois reforços do ano, Dudu e Deyverson, foram na verdade frutos de fracassos em negociações. Ambos estavam fora dos planos do clube. Dudu era ainda uma venda engatilhada que naufragou, deixando um rombo na projeção orçamentária do Palmeiras, a despeito do grande montante recebido por seu empréstimo de um ano.
Galiotte também não cita que, como dirigente, é um dos corresponsáveis pela situação caótica do calendário, que ele ajudou a aprovar antes do início da temporada, em que pese ter havido algumas alterações decorrentes da pandemia.
A essa altura, em vez de demonstrar confiança no trabalho, dizer que Abel seguirá no Palmeiras é apenas render-se ao óbvio. Com um mês e meio para o jogo que promete ser a maior final de Libertadores envolvendo clubes brasileiros na História, colocar na rua o técnico que trouxe o time até esse momento seria uma enorme irresponsabilidade. Se algo no curso tivesse que ter sido mudado, já não seria mesmo agora.
Menos do que um voto de confiança, Mauricio Galiotte afirmar que Abel fica é um voto de cobrança e um aviso de que nada mais há a se fazer. Assim, o dirigente reafirma ter feito todos os movimentos corretos para que o Palmeiras tivesse um excelente ano dentro de campo, quando ficou claro, desde fevereiro deste ano, que sua prioridade era o caixa, e não os resultados. Prioridades que foram, mas que não precisariam, necessariamente, terem sido excludentes.
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