Brasileiro do Sheriff foi da várzea a time sensação da Champions em 6 anos
Bruno Felipe é um dos três brasileiros que defendem o Sheriff, surpresa do grupo D da Liga dos Campeões e responsável por uma das maiores zebras da história da competição: a vitória por 2 a 1 sobre o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu, pela segunda rodada da fase de grupos. Há apenas dois meses no time da Moldávia, o atacante que até 2015 trabalhava como ajudante geral na Petrobras de Barueri (SP) e jogava na várzea em Taboão da Serra (SP) hoje (19) dá sequência a uma história única de superação em jogo contra a Inter de Milão, às 16h (de Brasília), no tradicional San Siro, mais um palco que, desde criança, sonhava pôr os pés.
"É Davi contra Golias", brinca Bruno Felipe, 27 anos, em um divertido papo com o UOL Esporte. "Jogar no Bernabéu foi uma emoção muito grande, um sonho realizado. O maior time do mundo, o maior ganhador da Liga, num estádio de muita tradição... É sem explicação. Peguei a camisa do Vinicius [Júnior], do Rodrygo e do Alaba, e faltou a do Casemiro e do Militão. Saí com três camisas do jogo, até brinquei: 'Fiz as compras em Madri'. Agora, quando tiver o jogo de volta, vou pegar as que estão faltando [risos]", acrescenta.
Pela primeira vez na fase de grupos da Liga dos Campeões, o Sheriff lidera o grupo com seis pontos após vencer dois jogos em que era o azarão: 2 a 0 contra o Shakhtar e 2 a 1 sobre o Real. Agora, é a vez de encarar o atual campeão italiano. "É outro jogo difícil, mas nossa equipe está preparada e bem treinada. Devagarzinho, nós chegamos lá", diz.
"Nosso time vem confiante desde as eliminatórias. Eliminamos Estrela Vermelha e Dínamo. Sabíamos que o Real era 100% favorito, mas nosso grupo estava muito confiante. Teve jogador que falou que íamos ganhar. Muitos vão falar que foi sorte, mas tá lá, se for no Google está lá que nós ganhamos", brinca. "É o famoso grupo da morte para a nossa equipe. Somos que nem uma família, todo mundo corre para todo mundo. E estamos aí como a zebra, mas ninguém vê nosso dia a dia aqui, que é de muito trabalho", conta.
Os adversários são superiores, sabemos, mas dentro de campo é 11 contra 11. Tudo é possível nessa vida. Sabemos que temos 10% de 100%, e nesses 10 entregamos tudo dentro de campo. No contra-ataque, nosso time é fatal. É muito agressivo, e isso é muito treinado. Falam que é sorte, mas não é. É um grande trabalho que nosso treinador vem fazendo"
"Três jogos por domingo para levantar grana"
Até 2015, Bruno Felipe era apenas um jogador de várzea que corria de campo em campo atrás de um pouco mais de dinheiro e, quem sabe, alguma chance para mostrar o seu futebol em lugares maiores.
"Nunca joguei profissionalmente no Brasil, só várzea mesmo, terrão... Eram três jogos por domingo para levantar grana... Eu trabalhava na Petrobras como ajudante geral. Limpava os tanques, as folhas do galho que caíam, e nunca imaginei estar onde estou hoje", afirma.
"Minha história começou quando fui fazer um jogo de várzea, pelo time de Taboão da Serra, em 2015. Um amigo me ligou e falou que tinha um jogo, e que um cara, o Caio, que hoje é meu empresário, estava vindo do Sul. Lembro que entrei no Palio dele, e ele começou a contar que jogou na Suíça, na Áustria, e fiquei com isso na minha cabeça com esse sonho."
Até falava com a minha avó, que ia virar profissional, mas 'praqueles' lados [Europa]. E ela chamava minha mãe e falava: 'Acho que o Bruno tá ficando louco. Como é possível que ele vai lá para o outro lado'?
"E eu joguei muito nessa partida, destruí, e ele [Caio] mandou mensagem para o amigo dele da Áustria, que tinha intimidade com o presidente: 'Você tá precisando de um atacante? Tem um aqui, e acho que ele dá certo por aí'", recorda.
O jogo que mudou a vida de Bruno foi em uma quinta-feira. Menos de uma semana depois, ele já estava de malas prontas para ir do Brasil para a Áustria. "Foi muito rápido. Joguei na quinta, na sexta me ligaram para falar que tinha uma proposta. No sábado, eu comecei a falar com o brasileiro da Áustria e disseram que iam me mandar as coisas para viajar".
"Fizemos uma vaquinha para fazer o passaporte de emergência. A gente conseguiu R$ 250. Faltava três e pouco e um rapaz me disse que pagava esses três que estava faltando. E se não tivesse esse rapaz aí? Era pra ser. Era um anjo de Deus", agradece.
"Na segunda, de tarde, anunciei para a minha família que eu ia embora. O pessoal não acreditou, começou todo mundo a chorar, 'ele vai mesmo'. E eu fui naquelas, sem dinheiro, sem conhecer quase ninguém. Corri o risco", acrescenta.
"Vivi seis meses com 200 euros"
Aos 20 anos, Bruno Felipe era um dos atacantes do time B do Lustenau, da Áustria. Mas para seguir na Europa, ele precisava mostrar serviço, e o jogo-chave veio poucos dias antes do término de seu período de teste.
"Vivi seis meses com 200 euros. E quando ia acabar meu contrato, faltando quatro jogos, fiz quatro gols num jogo e dois no outro. Depois disso, saiu tudo no jornal e o presidente me ligou para fazer o contrato profissional. O pessoal de casa chorou muito, e eu também", relembra Bruno, que também já passou por Atromitos (Grécia), LASK (Áustria), Olympiacos (Grécia) e Aris (Grécia), seu último clube antes do Sheriff.
"Fiz teste no Barueri, Grêmio Osasco, São Paulo, União Mogi... Esse processo durou quase sete anos. É uma história muito linda, de superação. Nunca fiz base, virei profissional com 20 anos. É difícil", acrescenta.
Bruno Felipe chegou à Moldávia há cerca de dois meses, e aos poucos tem deixado sua marca. "Joguei cinco jogos no campeonato nacional e entrei nos dois da Champions. Já meti gol e dei assistência. Estou buscando meu espaço".
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