Traumas do passado alimentam cobrança do Atlético-MG contra arbitragem
Barulho nas redes sociais e na porta da Confederação Brasileira de Futebol. É assim que o Atlético-MG tem trabalhado, fora das quatro linhas, para fazer pressão sobre a entidade máxima do futebol no país e evitar que os canecos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil não deixem de retornar a Belo Horizonte por interferência do "sopro do apito".
Numa mistura de razão e paixão, o clube mineiro intensifica as cobranças para que não haja intervenções no percurso até o final da temporada. Na próxima quinta-feira (21), inclusive, haverá reunião presencial com Ednaldo Rodrigues, atual presidente da CBF.
Mandatário do alvinegro, o presidente Sérgio Batista Coelho tem sido peça-chave nas reclamações. Eleito para comandar o clube no triênio 2021-23, ele é um dos dirigentes/conselheiros que ainda trazem consigo "traumas" da década de 1980, quando os ex-árbitros José Roberto Wright e José de Assis Aragão se tornaram vilões para os atleticanos, num período em que Atlético-MG e Flamengo eram os protagonistas no país. O Galo, até hoje, não aceita o desfecho dos confrontos contra o rubro-negro carioca, por Brasileirão e Libertadores.
Em conversa com pessoas ligadas ao atual líder do Campeonato Brasileiro e semifinalista da Copa do Brasil, o UOL Esporte buscou entender qual o combustível para as recentes manifestações junto à CBF, principalmente após os duelos contra Santos e Atlético-GO, apitados por Paulo Roberto Alves Júnior e Raphael Claus, respectivamente. No primeiro, inclusive, o "dono do apito" relatou em súmula ofensas do diretor Rodrigo Caetano e até uma suposta tentativa de invasão à sala do VAR, feita pelo executivo que, por sua vez, negou as acusações.
Sem desconsiderar o lado passional, no qual a maior preocupação é de evitar com que erros do passado não sejam repetidos em 2021, a diretoria atleticana tenta também agir com cautela para que não perca a razão em suas reivindicações e para que as cobranças não sejam traduzidas como mero choro. Este papel inclusive, é bem dividido nos bastidores. Se em campo, Cuca e os jogadores são flagrados pela transmissão cobrando a arbitragem em lances nos quais o VAR deve ser acionado, fora, o diretor-executivo Rodrigo Caetano e toda cúpula se responsabilizam pela "demanda formal".
Ontem (18), por exemplo, o clube emitiu nota, por meio das redes sociais, afirmando que iria protocolar reclamação na Ouvidoria da CBF, com algumas cobranças pontuais, como exigir da entidade que sejam adotados os mesmos critérios da arbitragem em relação a lances praticamente idênticos, e também a não escalação de árbitros do Rio de Janeiro em seus jogos, assim como de mineiros em partidas do Flamengo.
"Obviamente, existe sim o lado torcedor nestas cobranças, até porque muitos daqueles que estão no comando são atleticanos desde sempre. Porém, o Atlético-MG se preocupa muito mais com aquilo que lhe é de direito, como exigir os áudios do VAR, por exemplo. O futebol envolve muito dinheiro, as premiações por título estão cada dia mais milionárias e os investimentos feitos pelos clubes também. Por isso, as exigências se fazem necessárias", explica uma fonte ao UOL.
"É normal que torcedores sempre enxerguem seus times de coração como perseguidos e/ou prejudicados pela arbitragem. São sempre 'roubados'. Por isso, ao invés de apontar culpados, é mais eficaz sugerir soluções para que os problemas não existam ou sejam minimizados", acrescenta.
Participação dos mecenas
Outro ponto levantado pela reportagem foi sobre o envolvimento dos mecenas nestas constantes cobranças. Segundo apurado, apesar de não serem responsáveis diretos pela tomada de decisões no clube, o chamado "colegiado", ou "4Rs" (Rubens Menin, Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães), naturalmente, participa do processo, principalmente pelos investimentos feitos na montagem do elenco e na condução financeira/administrativa do Atlético-MG. Uma perda esportiva por erros de arbitragem será bem mais difícil de digerir do que caso ocorra por meios naturais da bola.
Embasamento jurídico
Assim como na nota oficial emitida na tarde desta segunda-feira (18), todas as cobranças feitas pela diretoria atleticana passam pelas mãos do departamento jurídico e pela equipe de comunicação. Evitar tropeços nos argumentos e, mais uma vez, não deixar com que a paixão sobreponha a razão, faz parte do processo.
Pedido por árbitros Fifa e nova reclamação
Há alguns dias, Sérgio Batista Coelho revelou à imprensa que havia sugerido à CBF para que apenas árbitros Fifa (fora de Rio e Minas) apitassem duelos de Galo e Flamengo no Brasileirão e também na Copa do Brasil.
"Estamos muito preocupados, sim. O que se viu no Mineirão foi lamentável [arbitragem de Paulo Roberto Alves Júnior no duelo contra o Santos]. Essa é a razão da nossa preocupação. O nosso principal concorrente ao título nesse momento, é o Flamengo. Existe, no quadro de arbitragem da CBF, dez árbitros Fifa, sendo dois cariocas, e nenhum mineiro. Portanto, existem oito árbitros de outros Estados. Sugiro que, daqui para frente, todos os nossos jogos, bem como os do Flamengo, sejam apitados por esses árbitros", destacou.
Contudo, na derrota por 2 a 1 para o Atlético-GO, no último domingo (17), nem o escudo da Fifa no peito de Raphael Claus evitou com que nova polêmica fosse gerada. O suposto pênalti não marcado aos 6 minutos da primeira etapa, mais uma vez levou os dirigentes do Galo à loucura.
Arbitragem contra o Fortaleza
Amanhã (20), a partir das 21h30 (de Brasília), o Atlético-MG volta a campo e recebe o Fortaleza, no Mineirão. As duas equipes se enfrentam pelo primeiro duelo das semifinais da Copa do Brasil. Na responsabilidade do apito estará o catarinense Bráulio da Silva Machado. Ele, curiosamente, apitou a partida da Série A em que o Galo derrotou o Leão do Pici, por 2 a 0, no Castelão.
Professor de Educação Física e natural de Tubarão (SC), o árbitro tem 42 anos e, no último fim de semana, apitou a vitória do Palmeiras por 1 a 0 sobre o Internacional, no Allianz Parque.
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