Titular de time masculino, Luiza foi vetada de estadual por ser menina
Luiza Santana dos Santos, de 10 anos de idade, foi impedida de disputar o Campeonato Estadual de Futebol "Professor José Astolphy" com sua equipe. Ela é titular e única menina do time sub-11 de Ilha Solteira, interior de São Paulo, e não foi autorizada a participar da competição porque é do sexo feminino.
Sua cidade não possui uma equipe feminina sub-11, e Luiza é a única menina do elenco do técnico Marcos Roberto Magnani, conhecido como Marquera. O treinador diz que ela nunca teve problemas com os colegas e que imaginou que receberia permissão para inscrevê-la no torneio.
Pai de Luiza, Leomagno dos Santos diz que achava que estava tudo certo para que a menina disputasse o torneio. Segundo ele, receber a notícia da negativa foi difícil para a menina.
"Não tem futebol feminino aqui na categoria dela. Não existe campeonatos femininos da idade dela [sub-11] na nossa região aqui de Araçatuba. Então, ela não consegue competir com as meninas. Sempre quando tem algum torneio é algo interno, aí ela tenta participar junto com os meninos. Ela joga de igual para igual com os meninos. Mas, da idade dela, não existe sub-11 feminino", contou Leomagno.
"Ela é titular do time e sonha em se tornar jogadora profissional. O professor chegou até mim e falou que não via problema nenhum em colocar ela nos campeonatos. Por ele já estava certo que ela ia jogar a competição. Passamos toda a documentação dela, e fizeram a inscrição. Junto com a inscrição, ele mandou o ofício explicando que ela é do sexo feminino e pediu autorização. Enviamos para a região de Araçatuba esse ofício, encaminharam ao estado de São Paulo, e responderam que ela não poderia jogar porque não se enquadrava. Foi uma tristeza para todos, e principalmente para minha filha. Ela chorou de soluçar, e nós, familiares, desabamos", acrescentou.
O UOL Esporte entrou em contato com a Secretaria de Esportes de São Paulo, que confirmou que Luiza foi impedida de disputar o torneio. O regulamento da competição prevê a entrada de times femininos somente na categoria sub-17, ou seja.
"O campeonato tem etapas distintas para os gêneros masculino e feminino, bem como a faixa etária. A atleta referida não se enquadra dentro do que prevê o regulamento da competição, o que inviabiliza a abertura uma exceção", disse o órgão, em comunicado enviado à reportagem.
"Ela é muito feliz jogando futebol"
De acordo com o pai de Luiza, a menina sempre gostou de "brincar" de futebol e começou a ter aulas com Marquera aos quatro anos de idade. Ela se destacou, logo começou a participar de competições e hoje se divide entre os estudos e os treinamentos.
"É uma menina de personalidade muito forte mesmo e colocou na cabeça que quer ser jogadora. É claro que sempre colocamos o estudo dela em primeiro lugar, sempre reforçamos isso. Depois vem o lado do futebol. Hoje ela treina três vezes por semana a parte física, e às terças e quintas o trabalho é voltado para o coletivo. Sempre foi da vontade dela. Ela sempre se divertiu muito jogando futebol. Ela é muito feliz jogando futebol. A felicidade dela é ir para o campinho brincar de bola", declarou Leomagno.
Agora, a Luiza acompanha seu time à distância. Para seus pais Leomagno e Lilhian Cristina, não poder participar do torneio é apenas um pequeno obstáculo para a menina. Sempre que possível, técnico e colegas de elenco enviam vídeos com homenagens a ela.
"Creio que ela vai vencer desafios maiores. Seguimos treinando. No outro dia, ela já queria treinar, mesmo não podendo jogar no campeonato. Ela disse: 'vou treinar por mim' Foi uma injustiça muito grande", reclamou Leomagno.
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