Renúncia de poder político é desafio de clube-empresa no Brasil, diz Scuro
O primeiro projeto da Red Bull com um clube de futebol no Brasil foi com uma equipe própria, o Red Bull Brasil. A partir de 2019, a empresa se juntou ao Bragantino, agremiação paulista que foi campeão paulista e finalista de Campeonato Brasileiro nos anos 1990, mas vivia dificuldades para se manter. No terceiro ano da associação, o time está na final da Copa Sul-Americana e ocupa uma posição entre os líderes no Brasileirão.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o diretor executivo de futebol Thiago Scuro explica o que levou à escolha do Bragantino pela Red Bull e a dificuldade que a empresa poderia ter em clubes de maior expressão, principalmente na questão política.
"Nós tínhamos o objetivo de encontrar uma solução, um ambiente, um clube em que a Red Bull conseguisse controlar 100% a operação do futebol, e na minha visão esse é o grande desafio para os outros investidores que têm buscado o mercado brasileiro. Os clubes brasileiros ainda têm naquela estrutura política uma visão de que o futebol qualquer um pode fazer, que é fácil. Existe essa projeção dos indivíduos que assumem cargos ligados ao futebol", afirma Scuro.
"O ambiente político tem uma ambição muito grande de ter cadeiras na operação do futebol, e ainda tem-se a ideia de que aquele cenário do início dos anos 1990, onde os investidores vieram, colocaram dinheiro nos clubes para que os dirigentes pudessem administrar. Eu acredito que não, o perfil do investidor de clube de futebol hoje é diferente, quer que a operação seja saudável, eficiente. Os grandes grupos que estão operando desta forma no mundo: eles detêm o controle sobre o futebol, ou seja, a escolha de treinador, contratação de jogadores. Pouquíssimos clubes no futebol brasileiro de maior porte têm a capacidade de renunciar a isso hoje", completa.
O diretor afirma que foi fundamental o entendimento de Marcos Chedid, que era o responsável pela administração do clube na época, de que renunciar ao poder seria a forma de manter o clube vivo e competitivo.
"Nós encontramos no Bragantino uma figura que é o Marcos Chedid, que controlava o clube há anos, através da sua família, e da parte dele houve o entendimento claro de que, para o clube continuar existindo, era necessário renunciar a esse controle, esse poder. Então o principal ponto no final foi esse. Existem outros aspectos colaterais, mas eu acho que não só para o nosso caso, mas para outros investidores que venham, o desafio é conseguir fazer com que os clubes entreguem a operação do futebol. Não é fácil essa ideia dentro dos conselhos dos clubes de maior tradição e maior porte no Brasil", explica.
Ele também considera que a renúncia a poderes no futebol deverá ser o principal desafio para os clubes-empresa que devem atuar no mercado brasileiro a partir da aprovação do projeto de lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
"Pelo projeto de lei como foi aprovado, eu vejo o aspecto das dívidas mais gerenciável do que a boa vontade dos dirigentes ou da parte política em renunciar o controle da operação do futebol, enfim, renunciar o estar no vestiário todo jogo, renunciar o dar entrevista três vezes por semana, a relação com os treinadores, com o jogador. Então eu acho que isso é um desafio maior que o nosso mercado vai ter do que qualquer outro para atrair investidores de qualidade para o futebol brasileiro", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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