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FGF se preocupa com escalada de violência na Série A2 do Gaúcho e quer agir

William Ribeiro agrediu o árbitro Rodrigo Crivellaro em um dos atos violentos na Série A2 do RS - Transmissão
William Ribeiro agrediu o árbitro Rodrigo Crivellaro em um dos atos violentos na Série A2 do RS Imagem: Transmissão

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

01/11/2021 04h00

Uma série de atos violentos no mesmo campeonato. Agressão a árbitro, que teve a cabeça chutada por um atleta durante jogo, apologia ao ato e agressão a médico em outro, um soco de jogador em maqueiro e uma briga entre duas delegações após partida. Tudo isso aconteceu recentemente na Série A2 do Gauchão. Preocupada com atos de violência, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) age de forma preventiva e entende que este tipo de coisa rema contra a valorização do torneio.

Eventuais punições não são diretamente função da Federação. O órgão responsável por julgar os atos e aplicar penas é o TJD-RS, que está atuante, tanto que William Ribeiro, atleta que defendia o São Paulo de Rio Grande e agrediu o árbitro Rodrigo Crivellaro com soco e chute na cabeça durante a partida contra o Guarani de Venâncio Aires, foi suspenso por dois anos. E mais vem por aí dadas as confusões que tomam o interior gaúcho.

Em entrevista ao UOL Esporte, o presidente da FGF, Luciano Hocsman, não escondeu sua preocupação com os atos recentes de jogadores, dirigentes e torcedores no campeonato que dá duas vagas ao Gauchão do ano que vem.

"Episódios como os últimos nada acrescentam ou contribuem para qualquer tipo de competição. É muito triste e lamentável este tipo de coisa. A gente está fazendo algumas análises através de conversa com direções e presidentes para entender o que está acontecendo. Tivemos muitos problemas nos últimos dias. Entendemos que é uma competição que gera pressão e ansiedade, mas nada justifica tamanho descompasso e descontrole", explicou.

As ações da Federação são preventivas. Com intuito de profissionalizar clubes e gestões, a entidade tem em prática o projeto 'FGF conecta', que traz uma série de eventos, lives e palestras. Casualmente, a da próxima semana, dia 8 de novembro, será com o professor Léo Berlese e trata da inteligência emocional necessária para posições de liderança.

"É preciso saber lidar com a pressão do cargo que se ocupa, do jogo que se disputa. As pessoas precisam entender que hoje temos as transmissões, que são investimento para valorização do campeonato, mas que essas atitudes têm exatamente o efeito contrário e acabam manchando a competição. Sabemos que hoje as empresas que são patrocinadores ou eventuais investidores não estão só preocupados com retorno financeiro, numa conta matemática, mas com associar a sua marca a um produto com uma imagem positiva para a sociedade. Logicamente, eventos como estas brigas, agressões e invasões não têm nada de positivo. A FGF fica prejudicada, e ainda mais os clubes que são destinatários da valorização da competição", completou.

Será que foi sempre assim?

O futebol gaúcho sempre foi conhecido por disputas mais ríspidas e rivalidades locais muito fortes. O cenário de disputa física é natural em partidas no Estado. A conduta violenta, porém, ganhou projeção à medida que a segunda divisão teve visibilidade com transmissões e acompanhamento mais próximo da imprensa. Relatos de casos semelhantes sempre ocorreram, mas não havia tantos detalhes.

"Ao longo desses 16 anos que a gente teve acompanhando o presidente Novelletto (ex-presidente da FGF) chegavam relatos até nós neste sentido. Talvez não com essa riqueza de detalhes. Não tem como combater uma imagem. Antigamente era mais um 'telefone sem fio'. Se dizia que aconteceu isso e aquilo, mas não havia imagem, só relatos. Mas independente disso, é preciso mudar a concepção e entender que o jogo de futebol é muito mais do que as quatro linhas, é um evento, começa fora de campo, em aproximar o torcedor, fazer atividades, tornar o produto interessante. Não há mais espaço para este tipo de coisa no futebol, de querer ganhar no grito, achar que é mais valente, nem os atletas gostam mais disso", contou Hocsman.

A preocupação com a sequência de acontecimentos deixa claro o plano de mudar a imagem deixada recentemente na competição.

"Isso preocupa, sim. Até mesmo porque a gente vem fazendo um trabalho de investimento nas transmissões para dar visibilidade à competição. Queremos mostrar que o produto é interessante e isso nos atrapalha, e por consequência aos clubes também", contou.

Tanto que, na próxima semana, a partir da definição dos semifinalistas, a Federação Gaúcha de Futebol irá convocar representantes dos clubes envolvidos para uma conversa especial. O objetivo é contornar os eventos negativos, ainda mais levando em conta a importância dos jogos. Estarão em disputa duas vagas para a elite do futebol gaúcho de 2022.

Lembre o que aconteceu

Foram ao menos quatro focos de confusão recente na Série A2 do Gauchão. A primeira delas no jogo entre São Paulo de Rio Grande e Guarani de Venâncio Aires, quando William Ribeiro, então jogador do São Paulo, agrediu o árbitro Rodrigo Crivellaro.

O jogador chegou a ser detido, está suspenso por dois anos e teve o contrato rescindido pelo clube. O árbitro chegou a ser hospitalizado, mas se recupera bem e voltará a apitar partidas no ano que vem.

Na esteira destes acontecimentos veio o jogo entre Guarany de Bagé e Brasil de Farroupilha. Além de uma série de incidentes durante a bola rolando, os dirigentes do time de Bagé, irritados, fizeram apologia à violência contra Crivellaro reclamando do árbitro do jogo. Entre outras coisas disseram que os juízes "têm que apanhar".

Ainda nesta partida, um médico do Brasil de Farroupilha foi agredido enquanto prestava atendimento a um jogador do time rival, que não havia levado médico na delegação em acordo firmado entre os participantes da competição.

Já neste final de semana, Anderson Pico, jogador do Cruzeiro-RS, agrediu um maqueiro com um soco após "peitar" o árbitro na partida contra o Lajeadense. No mesmo dia, as delegações de Veranópolis e Avenida também protagonizaram uma grande confusão com trocas de agressões após a partida entre ambos.