Santos não pagou Doyen com venda de Rodrygo e triplicou dívida com empresa
Uma auditoria contratada pelo Santos mostrou que o clube deixou de pagar 5 milhões de euros para o fundo de investimentos Doyen, mesmo tendo recebido dias antes a segunda parcela pela venda do atacante Rodrygo para o Real Madrid, da Espanha.
Por não ter quitado o débito, o Santos, que na ocasião era presidido por José Carlos Peres, gerou multa de 10 milhões de euros, triplicando o valor de sua dívida com a Doyen (15 milhões de euros). Em julho deste ano, o Santos anunciou que fechou acordo com o grupo maltês e que vai desembolsar 6,7 milhões de euros para quitar a dívida. No câmbio atual, são mais de R$ 42 milhões. Se o fundo exigisse o pagamento total da dívida, o valor seria de R$ 95 milhões.
O parecer técnico contábil ao qual o UOL teve acesso foi elaborado a pedido do Grupo de Riscos e Perdas que o Santos instituiu para buscar respostas para as perguntas incômodas que torcedores e conselheiros têm feito sobre a saúde financeira do clube.
A análise também apontou problemas na forma em que o Santos recebeu os 45 milhões de euros pagos pelo Real Madrid pela contratação de Rodrygo. De acordo com o contrato firmado entre brasileiros e espanhóis, a primeira parcela, no valor de 20 milhões de euros, deveria ser paga em 10 de julho de 2018.
No fim, essa quantia acabou parcelada em 17 vezes, com depósitos agendados entre os dias 23 de julho e 9 de outubro daquele ano.
A segunda parcela da negociação, no valor de 25 milhões de euros, deveria ser paga em 10 de julho de 2019, mas foi dividida em mais dez parcelas, entre 15 de julho e 20 de agosto de 2019.
"Não foram exibidas à perícia contábil justificativas para o fracionamento de pagamento das parcelas pelo Real Madrid, pactuadas no contrato de transferência futura de direitos federativos e econômicos do jogador profissional Rodrigo Silva de Goes", diz trecho do parecer elaborado a pedido do Santos.
"Examinando os lançamentos contábeis e os lançamentos nos extratos de conta corrente, bem como os contratos de câmbio, constatou a perícia contábil que sem justificativa os valores contratados foram efetuados em diversas parcelas"
Outro ponto levantado pelo perito designado foi o fato de o Santos ter conta em diversos bancos, como Santander, Safra, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, BMG e Daycoval. "Feita a análise dos extratos bancários, constatou a perícia contábil, grande número de contas bancárias abertas de titularidade do Santos Futebol Clube, podendo-se afirmar de excesso de contas, gerando valores de despesas de tarifas bancárias e gerando dificuldades técnicas em rastrear os recursos recebidos pelo Santos que foram pulverizado nessas contas bancárias", explicou o perito.
Santos e Doyen firmaram parceria em 2013, mas o acerto durou apenas um ano, durante as gestões de Luis Alvaro e Odilio Rodrigues. Enquanto estiveram juntos, a Doyen fez empréstimos ao Peixe e ajudou o Santos a contratar o atacante Leandro Damião, em 2013, por R$ 42 milhões. Para acertar o distrato entre as partes, Modesto Roma Junior se comprometeu a pagar à Doyen 15 milhões de euros, em três parcelas iguais. A última parcela, que venceu em 30 de setembro de 2019, não foi paga por José Carlos Peres e gerou a multa ao Santos.
"Nós pagamos uma parcela da Doyen no valor de 5 milhões de euros em 2018. A última parcela em 2019 não foi paga até porque não havia caixa na ocasião. O nosso departamento jurídico trabalhou para adiar o pagamento para 2020. Quando então em março entramos na pandemia e vivemos todas as consequências que ela gerou e continua gerando na economia mundial. Impressionante esta matéria vir em momento tão difícil do clube, tentando colocar fogueira para desviar o foco. Basta a gestão atual recolocar o conteúdo da gestão 2018, 2019 e 2020 no Portal da transparência, pois lá está tudo esclarecido. Estamos todos de consciência tranquila com o sentimento de ter procurado fazer o melhor possível para o clube", justificou José Carlos Peres em contato com a reportagem.
Procurado, o Santos afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que os questionamentos devem ser respondidos pelo ex-presidente Peres.
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