Com 'loucura' por ingressos, Argentina usa interior para pressionar Brasil
Eram pouco mais de 20h e Andrés Tevez, de 38 anos, era um dos milhares de torcedores argentinos que formavam uma fila de pelo menos 8 km à beira da estrada que leva ao autódromo de Villicum, ao norte de San Juan, com um objetivo em comum: conseguir um ingresso para o jogo de amanhã (16), entre Argentina e Brasil, pelas Eliminatórias.
Tevez, que não é parente do Carlitos com sobrenome famoso, levou filho, irmão, genro e outros parentes para uma jornada que se converteu em loucura. A ideia deles, àquela altura, era passar a noite na fila à espera da abertura das vendas, previstas para as 9h de hoje (15). Andrés e milhares de pessoas se amontoaram no mesmo local, indicando o nível de engajamento e pressão que espera a seleção brasileira.
A busca por ingressos em San Juan, capital da província de mesmo nome no interior argentino, se explica também porque, em caso de vitória da Argentina, a partida pode levar a seleção de Messi à Copa do Mundo do Qatar.
"Estamos com expectativa para conseguir entradas. É uma loucura. Ter tanto a seleção da argentina quanto do Brasil aqui é algo para a história de San Juan. Vou esperar até a hora que for preciso para conseguir qualquer entrada", disse Andrés ao UOL.
Mas o governo mudou os planos, ao se deparar com uma altíssima demanda. O início das vendas foi antecipado para o fim da noite de ontem (14), o que provocou uma correria desenfreada que a polícia local não conseguiu conter. A projeção da AFA é contar com mais de 20 mil torcedores no estádio Bicentenário, cuja capacidade máxima é 25 mil e que foi construído em 2011, para a Copa América na Argentina.
"Está muito desorganizado. Teve confusão, tem gente caminhando. São só 2 mil entradas pela web e 18 mil aqui, presencial. Complicado. Estamos calculando a distância. A cada km são 150 carros. Então, 4 pessoas por carro, vamos conseguir entrar", completou Andrés Tevez, ainda otimista, antes do estouro do isolamento feito pela polícia.
O jogo foi parar em San Juan pelo desejo da AFA de levar a seleção para o interior. Mas isso vai além da boa relação da entidade com o governo local. O presidente da AFA, Claudio Tapia, é natural de San Juan. Ou seja, ele levou uma festa e tanto para a própria "casa".
A insanidade pelos ingressos, cuja venda pela web também se iniciaria às 9h, movimentou diversas gerações de argentinos. O preço das entradas vai de 3 mil a 11 mil pesos (de R$ 165 a R$ 410). Pelas Eliminatórias, a Argentina já enfrentou a Colômbia em San Juan no ano de 2016. Venceu por 3 a 0.
A euforia por ver Messi é inevitável. Sobretudo em um duelo com Neymar. Quem parava à beira da estrada foi planejando refeições, como churrasco, e distrações para varar a madrugada na missão em meio ao deserto. Um carteado era opção popular. Mas a correria acabou por frustrar a logística improvisada.
"Sou de San Juan. Gostamos muito de futebol. Queremos ver o Messi, a seleção. Vamos acampar. A seleção já esteve aqui em outro jogo, contra a Colômbia. Mas Argentina x Brasil é incrível. Vamos passar a noite toda. Tem uma barraca aqui, umas colchas. Aí a gente fica. Faz frio, mas a gente fica. É algo que não voltaremos a ver. Vai ser um jogaço, bonito. É oportunidade única. Tem que aproveitar ao máximo. Brasil tem uma boa equipe. Ver Neymar, que também é uma estrela, é incrível", disse Daniel Flores, de 16 anos, acompanhado por mais quatro amigos.
Muita gente foi a pé para a fila e muitos carros não se restringiram a moradores de San Juan. Daniel Villalba, por exemplo, saiu de Las Heras, em Mendoza, província vizinha, e já tinha percorrido cerca de 200 km quando chegou à "vigília" perto do autódromo.
"Vale a pena. Vamos ficar. Pela fila que tem, está meio complicado, vamos tentar. Vamos dormir na caminhonete. Trouxemos refrigerante, um pouquinho de bebida...", disse ele, projetando uma noite animada.
A bola rola para Argentina x Brasil amanhã, às 20h30 (de Brasília). O tempero do confronto ainda tem a vitória recente dos argentinos na Copa América e a suspensão do jogo do turno pelas Eliminatórias, em São Paulo, após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entrar em campo para impedir a atuação de quatro jogadores que não cumpriram quarentena.
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