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Diretor do Inter vê mudança apressada como problema de Ramírez

Do UOL, em São Paulo

20/11/2021 04h00

O Internacional encerrou a temporada 2020, quando disputava o título brasileiro sob o comando de Abel Braga, já com planejamento que previa a mudança na forma de jogar e tinha como símbolo a chegada de Miguel Ángel Ramírez, campeão da Copa Sul-Americana pelo Independiente Del Valle (EQU). Mas o trabalho do técnico espanhol no Colorado durou poucos meses e ele acabou demitido pela direção, que acertou o retorno do uruguaio Diego Aguirre.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o diretor esportivo do Internacional, Gustavo Grossi, que trabalha em um projeto de integração entre categorias de base e profissional, fala sobre o que deu errado no processo com Ramírez e aponta a mudança acelerada de perfil do time como um problema para o espanhol.

"Era um treinador que muitos times do Brasil [entre eles o Palmeiras] quiseram contratar depois da Copa Sul-Americana, de fazer um trabalho no Independiente Del Valle muito chamativo, com uma proposta muito interessante. Aqui no Brasil não se pode trocar as coisas de um dia para o outro, o futebol, uma das quatro ligas mais importantes do mundo, tem uma cultura e uma ideia de jogo que se pode mudar aos poucos, devagar, Miguel decidiu acelerar esse processo", diz Grossi.

"O clube também tinha uma ideia de jogo de mudar talvez rapidamente algumas coisas e não deram certo por uma combinação de coisas ligadas a esse conhecimento específico de coisas que não são apenas dentro do campo, são coisas que têm que ver com a história do futebol, o perfil dos estados, a imprensa da cidade, um monte de coisas que Aguirre agora conhece muito bem, porque tem uma segunda passagem pelo clube, e a partir deste conhecimento, do clube e tudo o mais, tudo se equilibra", completa.

Grossi afirma que trabalhar no Brasil não é fácil para um profissional de outro país e que no seu próprio caso evita acelerar mudanças de processos e procurou conhecer a cultura local antes de aceitar o convite para trabalhar no Inter.

"O mesmo teria ocorrido comigo se eu tivesse vindo ao Inter e quisesse fazer coisas que não tivessem muito a ver com o que é a cultura gaúcha do futebol ou tampouco tenha a ver com o perfil do clube. Eu sou uma pessoa que dentro do perfil futebolístico, dentro das minhas ideias e dos meus valores, eu tento equilibrar o espaço onde estou com os conhecimentos que eu posso aportar, então eu penso que são etapas, são a curto, médio e longo prazo, no meu caso são anos, e para os treinadores também, as mudanças precisam de tempo e não podem acontecer imediatamente porque se não dá certo, as pessoas não têm paciência", afirma o diretor.

"A direção infelizmente toma decisões sob muita pressão e aí foi o que aconteceu com o treinador espanhol que veio, que tentou fazer o melhor possível, teve um relacionamento muito bom com a gente, muito educado, mas infelizmente não deu certo a partir de, eu acho que um pouco de conhecimento sócio-cultural, mas também de muita pressa em tentar gerar uma nova ideia, que era muito diferente da que o clube vem tendo há muitos anos, então o processo é muito mais lento", conclui.

O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.