Criador da "Flagrante", rubro-negro mora no Uruguai e ensina sobre cannabis
"Que mato é esse que eu nunca vi? / Ele só respondia / Não sei, não conheço isso nasceu aí". Assunto ainda tabu no Brasil, a legalização da maconha no Uruguai aconteceu em 2013 e esse foi um dos motivos que fez o carioca William Lantelme atravessar a fronteira. Torcedor do Flamengo de coração, pode-se dizer que ele uniu os dois mundos e fundou a torcida "Flagrante". Agora, "em casa", quer recepcionar os diversos torcedores do clube da Gávea que vão a Montevidéu acompanhar a final da Libertadores, no dia 27, contra o Palmeiras.
Diferentemente do personagem do samba "A semente", famoso na voz de Bezerra da Silva, Will, como também é conhecido, sabe bem de que "mato" se trata. Morando no país vizinho desde 2018, ele é fundador do Growroom e ministra cursos aos que desejam aprender a cultivar a cannabis.
Pouco após a confirmação do Flamengo na final continental, um vídeo ganhou as redes sociais. Nele, Will, que também é um dos co-fundadores da Marcha da Maconha, diz que está aguardando os rubro-negros para "queimar um baseado no Estádio Centenário e comer um assado de porco".
"Esse nome, Flagrante ou Flagrow, que tem a ver também com o 'grow' de cultivar, eu já tinha no passado. Tinha até uma página no Facebook, há uns bons anos. Nesta ocasião, de uma final de Libertadores, no Uruguai, entre Flamengo e Palmeiras, em um país legalizado... Achei inusitado e resolvi fazer aquele vídeo meio que de zoeira. Essa brincadeira já existia há muito tempo, mas voltou agora. O vídeo acabou viralizando. Só no perfil de um cara teve 250 mil visualizações. Vários amigos rubro-negros com quem eu já não tinha mais tanto contato vieram me falar que receberam o vídeo em grupos de WhatsApp (risos). Foi muito engraçado", lembra ele, ao UOL Esporte.
Ele foi procurado por torcedores do clube da Gávea que gostariam de tirar dúvidas sobre Montevidéu, e conta que muitos brasileiros ainda se espantam ao saberem que no Uruguai a maconha é legalizada.
"Muitas pessoas vieram perguntar sobre ingresso, hospedagem... E a gente tem, inclusive, um guia que eu já tinha feito anteriormente, que é o 'Guia do Uruguai para o maconheiro', que tem todas as dicas, que vão funcionar também para os integrantes da Flagrante. Fala onde se hospedar, onde se alimentar, algumas coisas para o pessoal se virar", disse.
"Muita gente vem para cá e não imagina como é. Tiram fotos das lojas de tabacaria que vendem os utensílios, a galera fica vendo curiosa. É legal para as pessoas verem que não é um bicho de sete cabeças. É importante para essa desconstrução de que a maconha é algo nocivo", completou.
A relação dele com o Flamengo começou cedo. Na infância e juventude, foi vizinho da sede do clube e recorda que viu diversos títulos no Maracanã, citando com carinho os Brasileiros de 1987 e 1992:
"Sempre fui flamenguista roxo. Morava na Lagoa, no Rio, muito próximo à Gávea. Em 87, por exemplo, quando tinha idade para ir a um estádio, tinha uns 12, 13 anos, meu pai me levou em todos os jogos do Brasileiro no Maracanã. Em 92 também estava lá. Vi o Mengão levantar a taça no Maraca diversas vezes. Sempre acompanhei, sempre fui um grande torcedor. Mas, ultimamente, ando um pouco mais desligado do futebol, tenho ficado um pouco mais focado em outros pontos da vida".
Will ressalta que a mudança para o Uruguai aconteceu devido ao aumento na procura pelos ensinamentos envolvendo o cultivo e salienta que, lá, consegue mostrar de forma legalizada.
"Eu me dedico à criação de conteúdo de cannabis vai fazer 20 anos em março de 2022. Eu fundei o Growroom, que é o primeiro portal sobre cannabis em português, e se tornou uma comunidade, pessoas que trocam experiências de como fazer o uso da planta e usar de forma responsável. Sou um dos co-fundadores da 'Marcha da Maconha', que começou em 2007, com um pessoal no Rio. Com o aumento de gente querendo cultivar, em 2018 me mudei para o Uruguai e criei um curso on-line, em que posso ensinar como cultivar. Tudo de uma forma legal, posso mostrar com as plantas no meu cultivo privado, legalizado. E aquela pessoa no Brasil que precisa cultivar para uso medicinal, ou aquela que não quer recorrer ao mercado ilegal, cultiva em casa", aponta.
Questionado sobre o ambiente em Montevidéu para a final, o rubro-negro avisa que o jogo vai unir a paixão dos uruguaios pelo futebol e mais um passo na retomada após a crise da pandemia de coronavírus. Além disso, convida àqueles que querem celebrar e não vão poder beber por conta da lei seca que será implementada no país devido às eleições para o Banco de Previsión Social (BPS), órgão que equivale ao INSS no Brasil.
"Está todo mundo animado porque, finalmente, está sendo reaberto o turismo depois da pandemia. O povo uruguaio é muito hospitaleiro e também gosta muito de futebol. Então, está todo mundo muito animado para esta final. Está tudo lotado aqui. Na semana seguinte, vai ter a expo cannabis, que é um evento de cannabis. Muita gente vem para o jogo e já vai ficar para a expo. A única coisa é que, no dia 28, dia seguinte ao jogo, tem as eleições e vai ter a lei seca, não vai ter venda de bebida. Mas todos os torcedores e membros da torcida Flagrante vão estar liberados para dar uma pitada e comemorarem a vitória do Mengão (risos)", brinca.
Maconha no Uruguai
No fim de 2013, após passar pela Câmara e Senado, foi aprovado o projeto que fez do Uruguai o primeiro país do mundo a legalizar a produção, a distribuição e venda de maconha sob controle do Estado. A legislação indica três formas legais de acesso: produção residencial ou o autocultivo, com até seis plantas por pessoa; produção em clubes de usuários, que podem ter de 15 a 45 sócios; e a compra em farmácias, aprovada em 2017.
Vale lembrar que apenas maiores de 18 anos e residentes no Uruguai podem se registrar como consumidores recreativos e adquiri-la nas farmácias licenciadas.
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