Topo

Torcida do Palmeiras já atirou banca de jornal em organizada do Fla

Adriano Wilkson e Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

26/11/2021 04h00

No dia 20 de março de 1985, uma rebelião na penitenciária do Carandiru concentrou a atenção da polícia e deu liberdade para torcedores do Palmeiras e do Flamengo se enfrentarem nas ruas de São Paulo depois de um empate em 2 a 2 no Pacaembu. Eram os anos de fundação da rivalidade mais explosiva entre torcidas organizadas de estados diferentes.

A rixa segue até hoje e mobilizou forças de segurança de Brasil e Uruguai para a final da Libertadores amanhã em Montevidéu, considerado um confronto de alto risco fora de campo. Em 85, a PM tinha outros problemas a resolver.

"Toda a polícia de São Paulo estava cuidando da Casa de Detenção. Acabou o jogo, nós ficamos 200 caras na frente do Pacaembu", conta José Carlos Burti, então presidente da Torcida Uniformizada do Palmeiras, a TUP. "O Batalhão de Choque tinha trinta policiais no máximo. Ficamos preparados com paus, pedras, esperando a torcida do Flamengo sair."

Burti é um dos entrevistados de "Sobre meninos e porcos", a terceira temporada do podcast "UOL Esporte Histórias", que estreou nessa semana. Você pode ouvir o primeiro episódio no player acima e nas principais plataformas de áudio.

Os palmeirenses da TUP e da Mancha Verde estavam sedentos de vingança em razão de ataques sofridos semanas antes no Maracanã. Quando as equipes se enfrentaram em São Paulo, as organizadas palestrinas procuraram dar o troco. Nesse confronto, além de pedras, paus e rojões, os palmeirenses arremessaram do alto de um viaduto uma banca de jornais e revistas para evitar a fuga dos rivais. O incidente é lembrado como uma das brigas mais insólitas entre flamenguistas e palmeirenses. Burti, hoje um empresário em São Paulo, relembra a história:

"Quando os ônibus da torcida do Flamengo pensaram em chegar perto do viaduto do Pacaembu, nós tínhamos artilharia de rojão, e o pessoal acendeu tudo em direção aos ônibus. Quando a viatura parou, os caras levantaram a banca de jornal e despejaram a banca no meio da Avenida Pacaembu, fazendo a viatura ter que dar a volta no cemitério do Araçá pra escoltar a torcida do Flamengo."

Outro torcedor que lembrou o episódio recentemente foi o rubro-negro Capitão Leo Ribeiro, líder histórico da Jovem Fla. Em um vídeo publicado em seu canal no YouTube, Leo afirma se orgulhar de ter trocado agressões com Cleo Sóstenes, fundador da Mancha Verde, que morreria assassinado três anos depois.

"Na saída do estádio parecia comício do Partido Verde, todo mundo: 'Vai morrer, vai morrer'. E no meio o povão rubro-negro. Fomos a pé até nossos ônibus, e os caras jogando pedra, pau. Quando entramos no ônibus já fomos avisados que teria emboscada. Os carros da polícia chegaram e nós saímos. Quando o carro da polícia passou, eles jogaram a banca de jornal e isolaram a polícia da gente."

Existem algumas explicações para a rixa entre as organizadas de Palmeiras e Flamengo. Uma delas é aliança formada entre as torcidas do Corinthians e do Flamengo (as maiores do país) entre os anos 60 e 70. Essa teia de rivalidade também aproximou os palmeirenses da torcida do Vasco, que se consideram amigos.

A animosidade é foco de preocupação da polícia, principalmente nos deslocamentos de ida e vinda dos estádios. São comuns os confrontos nas estradas que ligam as duas principais capitais do país. Em 1993, após um empate pelo torneio Rio-SP, um ônibus da Jovem Fla e da Raça Rubro-Negra foi atingido por cinco bombas lançadas por integrantes da Mancha na Rodovia Presidente Dutra. Doze pessoas ficaram feridas com queimaduras. Em 2016, três flamenguistas ficaram feridos e 21 palmeirenses foram presos em uma briga generalizada no Mané Garrincha, em Brasília.

Sobre Meninos e Porcos

Esse é um conteúdo extra de "Sobre Meninos e Porcos", a terceira temporada do premiado podcast UOL Esporte Histórias, que conta a história de como as torcidas organizadas saíram da festa e chegaram à violência. O relato é centrado no assassinato de Cleo Sóstenes nos anos 1980, considerado o marco da chegada das armas de fogo às brigas de torcida. Você pode conhecer essa história, que os repórteres Adriano Wilkson e Daniel Lisboa investigam há um ano, em um podcast de seis episódios:

Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts e em todas as plataformas de distribuição. Você pode ouvir UOL Esporte Histórias, por exemplo, no Spotify, na Apple Podcasts e no Youtube.