Copa 90: Por que a seleção apostou em técnico que estava no mundo árabe
O jejum sem títulos mundiais já durava quase 20 anos àquela altura. Na seleção brasileira e no novo comando da CBF, a visão política e esportiva do momento desencadeou na troca de treinador. E a aposta foi em Sebastião Lazaroni. No currículo, dois clubes do Rio — Flamengo e Vasco — e o Al Ahli da Arábia Saudita. Enquanto atualmente importar profissional do mundo árabe para a seleção parece algo absurdo, esse caminho até que fazia sentido na época. Mas Lazaroni passou longe de ser unanimidade.
A rota que levou o técnico, então com 39 anos, a trabalhar na seleção brasileira em 1989 é retratada no primeiro capítulo da série "Copa 90: Lazaroni, Maradona e uma seleção (talvez) injustiçada". O trabalho documental foi produzido por UOL Esporte e MOV.doc, selo de documentários de MOV, a produtora de vídeos do UOL, e está disponível no YouTube desde ontem (30).
"Para mim, era um momento excepcional. De vitórias, conquistas. Vou para o exterior e chega o convite para dirigir a seleção brasileira, em um projeto que eu considero um turbilhão", descreve Lazaroni.
Esse turbilhão foi causado por algumas figuras já proeminentes à época no futebol brasileiro. A principal delas é Eurico Miranda, então ex-vice-presidente do Vasco que tinha sido contratado pelo novo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para ser diretor de seleções. Na série do UOL, o colunista Juca Kfouri classificou a escolha de Teixeira por Eurico como uma "temeridade" e lembrou:
"Com Eurico Miranda, não havia dúvida. O que era do Vasco era o melhor para o Brasil".
A gestão da CBF tinha mudado de mãos naquele mesmo mês de janeiro de 1989. Um grande acordo culminou com a retirada das candidaturas de Nabi Abi Chedid e Otávio Pinto Guimarães, abrindo caminho para a aclamação de Ricardo Teixeira, genro do então presidente da Fifa, João Havelange. Eurico Miranda foi um dos artífices desse desenho político no colégio eleitoral da CBF. O treinador da seleção de 1987 a 1888 era Carlos Alberto Silva. Segundo a edição da Folha de S. Paulo de 13 de janeiro de 89, ele perdeu o cargo porque fez campanha em prol de Nabi.
Embora Lazaroni viesse do exterior, a relação com o cruz-maltino ainda era recente e muito viva. O treinador tinha sido bicampeão carioca com o Vasco (1987 e 1988), apesar de ter conquistado o mesmo troféu no rival Flamengo, em 1986. Mas a escolha para liderar a seleção não foi bem recebida pela ala paulista da imprensa, especialmente, já que Lazaroni não tinha passado por clubes de São Paulo, como lembra em "Copa 90" o jornalista Luiz Prósperi.
O debate girava mais ao redor da pouca rodagem de Lazaroni por outros estados brasileiros, além do Rio, do que questionar se o trabalho no mundo árabe o respaldava para a função.
"Praticamente todos nós que estávamos ali já tínhamos trabalhado no mundo árabe. Mas era mais uma experiência internacional. Sair naquela época era novidade. Os treinadores estavam indo para o exterior com muita evidência. Você começava a adquirir o conhecimento de estilo dos treinadores. Era uma experiência muito válida", lembra ao UOL Américo Faria, administrador da seleção a partir da chegada de Eurico Mirando e Ricardo Teixeira na CBF.
Antes de fechar com Lazaroni, a CBF procurou Carlos Alberto Parreira para comandar o Brasil. Mas o treinador que seria o comandante do tetra não conseguiu se desvincular da seleção da Arábia Saudita. No mesmo país, o Al Ahli de Lazaroni já estava "escaldado" com o assédio da CBF sobre seus treinadores. Era lá que Telê Santana estava antes de iniciar a segunda passagem pelo comando da seleção, em 1985.
Três décadas depois, o mercado de técnicos do Oriente Médio dá menos espaço a brasileiros, embora Mano Menezes, Fábio Carille, Odair Hellmann e Rogério Micale sejam alguns com passagem recente ou atual por lá. Tite, que comanda a seleção brasileira atualmente, também já passou por lá: Al Ain, em 2007, e Al Wahda, em 2010, ambos dos Emirados Árabes Unidos. Mas essa conexão direta parece impensável atualmente.
Com esses elementos, começou a era Lazaroni. O título da Copa América de 1989 até viria, mas o futuro reservava mais uma frustração na Copa do Mundo, em 1990.
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