Da economia aos itens básicos: veja relatório de Pássaro entregue ao Vasco
Fora do Vasco desde 11 de novembro — após o clube fracassar no projeto de retornar à Série A do Campeonato Brasileiro — o diretor-executivo Alexandre Pássaro produziu e entregou à toda diretoria vascaína um relatório - ao qual o UOL Esporte teve acesso — que traz um balanço de seus 11 meses de trabalho à frente da pasta, onde destaca ter gerado um benefício financeiro de R$ 77,8 milhões com negociações e acordos de atletas, e de R$ 10,4 milhões na reformulação e estruturação do departamento de futebol cruzmaltino.
Neste segundo quesito, salta aos olhos a falta de alguns itens básicos que o profissional alega ter encontrado quando assumiu o cargo em janeiro. Entre os principais, se destacam:
- Reativação da ferramenta "Wyscout" (essencial para avaliar jogos e jogadores), que havia sido cortada por falta de pagamento. Antes de sua chegada, os funcionários usavam senhas emprestadas gentilmente por outros clubes.
- Reativação da ferramenta "FirstBeat" (que mede dados físicos e cardíacos), que estava sem pagamento da licença e sem utilização. Quem havia comprado o software em 2019 foi o técnico Vanderlei Luxemburgo.
- Aquisição de máquina de gelo no CT, algo que não estava em funcionamento. Até então, era pago um valor diário de R$ 150 para um motoboy entregar gelo no local.
- Quatro meses de salário e imagem em atraso quando o executivo chegou.
- Gramados do CT fora dos padrões, com marcações erradas (círculo central com o dobro do tamanho, por exemplo) e nenhum processo de corte, adubação, descompactação.
- Criação de um departamento de Análise de Mercado, algo que não existia.
- Treinos passaram a ser filmados pela comissão técnica, algo que não acontecia.
- Sistematização e organização dos processos internos (anteriormente era feito "aleatoriamente", sem uma organização desenhada).
Dos benefícios financeiros gerados com entrada e saída de jogadores
Logo quando chegou ao Vasco, Alexandre Pássaro renegociou contratos e conduziu um processo de rescisão de 10 atletas onerosos e/ou que não seriam aproveitados. Em seu relatório, o executivo diz ter gerado - com acordos e movimentações que evitaram ações trabalhistas - uma economia de R$ 7,8 milhões ao clube.
Somando estas ações com o empréstimo de três jogadores e as vendas de Talles Magno e Arthur Sales, Pássaro alega ter gerado um benefício financeiro de R$ 86,2 milhões.
Entre os custos com a aquisição de jogadores, o valor total foi de R$ 8,4 milhões, incluindo CLT, encargos, imagem e produtividade.
Com as somas e gastos, chega-se à conta final apresentada, de benefício financeiro na ordem de R$ R$77.800.875,00 ao clube.
No documento também há o destaque para as seguintes premissas:
- Encargos considerados em 30% (trinta por cento) acima do valor nominal;
- Dólar Americano considerado a R$5,20 e Euro considerado a R$6,50;
- Valores muito aproximados, embora não exatos;
- Mesmo conceito utilizado para receitas e despesas;
- Valores não contemplados: movimentações na comissão técnica, economia com logística, alimentação, materiais, ferramentas, softwares, funcionários e etc.;
- Documento apenas e tão somente acerca de jogadores.
Da reformulação e estruturação do departamento de futebol
Em outro trecho, o relatório destaca a reformulação e estruturação implementadas por Alexandre Pássaro no departamento de futebol, tais como mudanças na comissão técnica, preparação física e departamento médico, além de alterações estruturais do dia-a-dia do CT, que incluem a administração do local, agência de viagens, fornecedor de alimentação, seguranças, entre outros.
A conta final do documento diz que houve um benefício financeiro de R$ 10.484.000,00.
Mudanças sem valor passível de cálculo
Neste item, Alexandre Pássaro enumera uma série de ações implementadas sob sua gestão. Veja nos tópicos abaixo, que estão reproduzidos exatamente como constam no relatório:
- Definição de contratos particulares para todo e qualquer atleta/funcionário do futebol. Antes, eram só os formulários CBF;
- Padronização de multas de saída dos atletas, antes era definido de acordo com a negociação;
- Contrato de Trabalho com inúmeras obrigações de comportamento dos atletas, com orientação de conduta em assuntos de diversidade de gênero e racismo. Antes nada existia;
- Implementação de contratos de produtividade e as metas-padrão para todos os atletas do profissional;
- Definição, junto à base, dos valores padronizados de salários e produtividade para atletas em formação. Antes, os valores e produtividade variavam de acordo com a negociação;
- Contratação e manutenção de softwares necessários para o funcionamento de um Departamento de Futebol, como WyScout e FirstBeat. Antes as licenças não estavam pagas e os profissionais tinham que usar usuários de outros times, que emprestavam.
- Definição de processos internos nas áreas de Análise de Desempenho e Análise de Mercado, como datas e horários limites para envio de material pós jogo ou formatação padrão de ficha de análise de jogador, conforme Mapa de Processos;
- Criar rotina de analistas de mercado no CT, o que antes não existia, conforme Mapa de Processos; - Reestruturação completa de profissionais e processos na parte da preparação física, reformulando a estrutura da academia e processos, conforme Mapa de Processos;
- Parametrização de dados estatísticos, como GPS, percentuais de gordura e massa corporal, etc.;
- Mudança de toda a estrutura interna do Centro de Treinamento, com troca de salas, materiais, definição de áreas e etc.;
- Reformulação da assessoria de imprensa, definindo - junto à respectiva VP - os processos e forma de trabalho, tendo atualmente um alinhamento completo, conforme Mapa de Processos;
- Contratação de software de gestão interna, para comunicar as respectivas áreas de cada evento acontecido no CT e registrar e armazenar o histórico de atividades;
- Melhora considerável dos gramados do CT, diminuindo inclusive a reatividade do solo, que causa lesões. Antes, os gramados eram mal cuidados, tendo sido rejeitado como Centro de Treinamento da final da Libertadores de 2020;
- Evolução em diversas obras no CT, de forma a aprimorar a qualidade da estrutura;
- Instalação de lavanderia no CT. Antes, o ônibus do clube ia e voltava de São Januário todos os dias, para levar e trazer roupas de treino.
Mapa de processos e fluxograma do departamento
O documento traz também um relatório detalhados das ações envolvendo o departamento de futebol que foram solicitadas pelo departamento de marketing e que foram aprovadas ou negadas por Alexandre Pássaro. Há também um balanço geral de scouts de todos os jogadores ao longo da temporada.
Já em outro arquivo, Alexandre Pássaro detalhe em gráficos todo o mapa de processos que ele elaborou para o departamento de futebol.
No total há 10 fluxogramas subdivididos em análise de desempenho, análise de mercado, rotina de treinos, rotina de concentração e jogos, protocolo pós-lesão e também os feitos em conjunto com o departamento de Relações Públicas, Maketing e Assessoria para as rotinas de jogos e treinos englobando Vasco TV, redes sociais, comunicação com a imprensa e etc.
Neles há determinações expressas de prazos de entregas, horários, obrigações, rotina e execução de cada setor.
Vasco reconheceu estruturação de Pássaro
No comunicado onde informou não só a saída de Alexandre Pássaro como também a do técnico Fernando Diniz, o Vasco reconheceu o trabalho de estruturação implementado pelo diretor-executivo:
"(...) Nos pouco mais de dez meses em que esteve à frente do Futebol, Pássaro atuou de forma profissional e reestruturou inteiramente o Departamento, estabelecendo processos fundamentais para sua modernização e contribuindo para o aumento da saúde financeira do Clube. O Vasco da Gama agradece profundamente todo empenho e dedicação de Alexandre Pássaro (...)".
Já Pássaro emitiu uma carta de despedida onde ressalta o trabalho de estruturação realizado, mas pede desculpas por não ter obtido o acesso:
"(...) A segunda - e mais importante parte - que era o acesso à Série A fracassou e por isso faço meu sincero pedido de desculpas à torcida vascaína e a todos os envolvidos. Não há argumento, particularidade ou evento que justifique esse fracasso esportivo. Espero que, com a ajuda do caminho pavimentado no Departamento, o Vasco esteja na Série A de 2023".
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