Santos: Carille se reinventa, supera Diniz e rejeita rótulo de retranqueiro
Ninguém sabe se Fábio Carille vai permanecer no Santos. O técnico ainda evita falar sobre o futuro a duas rodadas do fim da temporada. Mas o orgulho de seu trabalho ecoa em cada palavra que diz nestes últimos dias de atividades em 2021.
E não é para menos. Ele pegou o Santos em frangalhos, flertando com o rebaixamento após as 19 rodadas do primeiro turno do Campeonato Brasileiro sob o comando de Fernando Diniz.
O time de posse de bola, vocação ofensiva e muita desorganização defensiva ficou para trás. Demorou um pouco a reagir nas mãos de Carille, mas o treinador acertou a defesa para superar seu antecessor antes mesmo de terminar o returno.
Com Fernando Diniz, o Santos sofreu 25 gols em 19 jogos no Brasileiro, o que dá uma média vergonhosa de 1,31 gol por partida. Com Fábio Carille esse índice caiu para 0,82 (apenas 14 tentos em 17 confrontos).
Apesar disso, ele não gosta muito do rótulo de técnico defensivista, que carrega desde os tempos do Corinthians. Para chegar a esses números com o Santos, Carille formou o time ideal com três zagueiros. No entanto, segundo ele mesmo, nunca usou esse esquema tático antes de chegar ao clube. "Aqui estou usando três zagueiros pela primeira vez. Precisamos sempre nos reinventar".
Na prática, Carille fez isso mesmo. Com a urgência que o time tinha para subir na tabela, ele estudou o elenco, avaliou as opções e deixou o feijão com arroz de lado para explorar o que viu de potencial em cada jogador. "Muitos falam que é defensivo (o 3-5-2), mas não é verdade. Cheguei a jogar com Marcos Guilherme, Lucas Braga, Marinho e um centroavante, quatro atacantes, e sem volante de contenção", disse o treinador.
Ah, se dependesse só do ataque...
Essa melhora defensiva foi fundamental para o Santos subir na tabela do Brasileirão. Os números comprovam que, se a defesa não parasse de tomar tantos gols, o ataque dificilmente iria suprir a necessidade de alcançar as vitórias.
O desempenho ofensivo já não era bom com Fernando Diniz no Brasileirão. Com 20 gols marcados em 19 jogos, a média era de 1,05. Com Carille, nestes 17 jogos do segundo turno, o time fez 13 tentos. Ou seja, a média caiu mais ainda, agora para 0,76 gol por partida.
O torcedor mais exigente pode dizer: "Ah, mas se a defesa melhorou e o ataque piorou isso comprova que o time de Carille é mais defensivo". De fato, é. Quem não concorda com isso é Carille. Mas ele teve o mérito de organizar o sistema defensivo como um todo, coordenando movimentos que antes não eram feitos, como a cobertura adequada dos espaços que cada jogador que se arriscava no ataque deixava. Mesmo que para isso tivesse de mexer muito no time até encontrar o ideal.
"Trabalhei com três zagueiros pela primeira vez e por isso variamos atletas. Felipe Jonatan é mais técnico e se sai melhor por dentro, pelas alas tivemos jogadores mais fortes como o Lucas Braga pela esquerda. Foram discussões e treinos para levarmos para os jogos e graças a Deus os resultados foram mais positivos que negativos nesse segundo turno. Melhoramos e esse era o objetivo", analisou.
Em 2022, 3-5-2 deve ser abandonado... Se Carille ficar
Apesar de ter se virado com o que tinha em mão e até deixado de lado algumas de suas convicções táticas, Carille não é muito fã do esquema com três zagueiros. Agora, resta saber se ele estará no Santos em 2022 para adotar novas estratégias. "Vamos pensar bem em 2022, tanto na minha permanência quanto na montagem de grupo. Não sou de inventar, jogo como acho que o grupo se sente melhor".
Vale lembrar que o técnico é um funcionário sob regime CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e não tem um prazo para sua permanência na Vila Belmiro, embora haja um acordo verbal entre ele e o presidente Andres Rueda para a permanência até o fim de 2022. A questão é que Carille não sabe se vai ficar, apesar de Rueda aprovar seu trabalho.
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