Adriano poderia ter carreira mais longeva em um país em outro contexto
Revelado como um grande talento do Flamengo, que ganhou o apelido de Imperador na Itália, com protagonismo vestindo a camisa da Inter de Milão, o atacante Adriano teve a carreira encerrada de forma precoce. O declínio teve início a partir da morte do pai em 2006, mesmo com alguns momentos de brilho, como na campanha do título brasileiro em 2009 pelo clube da Gávea.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o psicanalista Felipe de Moura Corrêa afirma que o caso de Adriano expõe a influência da origem social dos atletas brasileiros no desfecho da carreira. Segundo ele, em um país com melhor desenvolvimento educacional e social, o Imperador poderia ter uma carreira mais longa e uma vida mais feliz.
"O Adriano é um caso muito nítido, eu sou do Rio de Janeiro, a gente vê o quanto ele tem apego. Diferente até de outros jogadores brasileiros muito conhecidos, ele tem um apego muito grande à realidade dele, o Adriano vive na comunidade dele, vive visitando os amigos e você perceba que o Adriano não suportou a morte do pai, até hoje ele não suportou", afirma o especialista.
"Não tenho informações exatamente sobre que tipo de tratamento ele pôde fazer, mas você não tenha a menor dúvida de que se o Adriano fosse fruto de um país que investe em educação, que investe em social, que investe na psicologia, você não tenha dúvida de que o Adriano teria uma carreira mais longeva e uma vida mais feliz. A gente cansa de ver imagens dele por aí, você vê que ele não está em um momento legal da vida dele", completa.
Felipe considera que o contexto social no qual muitos atletas se desenvolvem no Brasil é um fator que diferencia em termos de estabilidade até em comparação a jogadores de outros países da América do Sul que tenham uma educação mais avançada que a brasileira.
"A morte do pai, para esse rapaz, foi decisiva para ele degringolar, vida e carreira. Quem gosta de esporte e de futebol já leu e já ouviu quantas histórias dessas no Brasil, jogadores que chegam ao estrelado e não suportam por um determinado contexto familiar, cultural, social. A vida do cara desanda e, às vezes, acaba até numa pobreza, na miséria, perde tudo o que ganhou", diz o psicanalista.
"O Adriano parou, inclusive, muito novo, no alto rendimento, ele tinha certamente lenha para queimar e não conseguiu. Não foi possível para ele superar o luto da morte do pai e ele não conseguiu seguir na profissão, seguir no alto rendimento, fruto dessa realidade que a gente está falando. Sem dúvida, em um contexto diferente, o final da carreira dele, eu digo, poderia ser mais satisfatório para ele", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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