Ronaldinho e a influência do contexto social para declínio na carreira
A longevidade de jogadores como Cristiano Ronaldo e Messi chama a atenção do torcedor brasileiro muitas vezes quando os dois são comparados a atletas como Ronaldinho Gaúcho, que durante duas temporadas foi o melhor jogador do mundo —em 2004 e 2005—, mas não conseguiu manter a carreira em alto nível por muito tempo.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o psicanalista Felipe de Moura Corrêa fala sobre o fator de desenvolvimento do país, como ele faz com que muitas vezes o brasileiro despeje toda a sua esperança e as amarguras da vida no futebol e como a falta de estrutura educacional no caso dos jogadores acaba prejudicando suas carreiras.
"O Moraes Moreira tem uma letra bacana, em que ele fala 'e agora como é que eu me vingo de todas as derrotas da vida, se a cada gol do Flamengo, eu me sentir um vencedor?'. Então, quando você tem um país subdesenvolvido, pobre, em que o futebol despeja ali todas as derrotas da vida de um sujeito e as derrotas da vida de um brasileiro são inúmeras, são muito maiores, por exemplo, do que se vê aqui na Itália, o que um sujeito passa aqui na Europa", diz o psicanalista.
"Esse atleta que não tem estrutura familiar, que não tem educação, acesso à educação, que eventualmente não tem pai, não tem mãe, eventualmente, quando atinge um determinado patamar profissional, tem que sustentar milhares de pessoas. Vou te dar um exemplo, a seleção brasileira de 2006, uma geração com vários jogadores que foram considerados craques, patamar internacional, Adriano, Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, repara quantos desses jogadores a gente vai olhar e pararam a carreira muito antes do que a gente imaginava no alto rendimento", completa.
Além do caso de Adriano, ele chama a atenção para o fato de Ronaldinho Gaúcho ter feito fortuna jogando futebol, mas não ter conseguindo ir além como atleta. Corrêa destaca a dificuldade do jovem que se torna uma estrela saindo de um contexto social difícil.
"Por que o Ronaldinho ficou milionário e não conseguiu dar uma sequência em alto rendimento ainda jovem para os padrões de hoje e o Cristiano Ronaldo consegue, o Ibrahimovic consegue e o Messi consegue? Quando você olha para o contexto social, o que é um menino em uma favela, uma comunidade, um menino pobre brasileiro sair da invisibilidade completa passar para o outro lado da gangorra do capitalismo e se tornar uma estrela?", afirma Felipe.
"Essa é uma passagem muito delicada para um ser humano fazer e isso é decisivo, eventualmente até para que ele tenha uma carreira e, quem sabe, até para que ele possa ter uma carreira mais longeva, mais feliz, e seguir uma vida depois da carreira mais próspera. É decisivo, o contexto social é decisivo", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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