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Passagem de Jorge Jesus no Brasil deve ser pedagógica, diz psicanalista

Do UOL, em São Paulo

12/12/2021 04h00

Os treinadores estrangeiros ganharam terreno no Brasil nos últimos anos, com o português Jorge Jesus conquistando títulos e a torcida do Flamengo, assim como Abel Ferreira no Palmeiras, bem como profissionais de outros países, até da América do Sul, como Jorge Sampaoli e Juan Pablo Vojvoda, que fizeram trabalhos de destaque, ainda que sem conquistas.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o psicanalista Felipe de Moura Corrêa também aponta o contexto social como um fator que influencia no nível do trabalho do treinador brasileiro hoje, citando a defasagem educacional no país e profissionais que muitas vezes contam com a experiência que tiveram no campo como atletas, mas falham na questão intelectual.

"Em um país como o Brasil, esse jogador que vira treinador futuramente, 90% das vezes foi um menino pobre, que sonhou mudar de vida, a questão é essa, que teve muitas vezes que largar a educação para poder seguir a profissão. A gente olha para o Brasil, e aí eu não estou, não é uma crítica a nenhum dos profissionais, mas técnicos renomados do Brasil nos últimos anos, Muricy, Abel Braga, Luxemburgo, Felipão, todos ex-jogadores, todos vindos praticamente dessa realidade que a gente está falando aqui", afirma o psicanalista.

"Quando você chega no nível do conhecimento que o futebol exige hoje, quem já leu o livro do Guardiola, o 'Confidencial', viu o que ele fez depois que ele sai do Barcelona, ele vai jantar com o Kasparov. Olha a diferença. Quais são os desafios que um técnico tem hoje? Eu tenho certeza que você pode ter um técnico muito inteligente, muito comunicativo, mas que eventualmente não sabe gerir um grupo, ele precisa saber gerir um grupo. Olha o quanto um psicólogo pode ajudar nesse meio, percebendo essas dinâmicas, mas sendo escutado", completa.

Felipe afirma que a passagem de Jorge Jesus pelo Brasil tem que ser encarada não de forma corporativista pelos técnicos brasileiros, mas pedagógica, de que a realidade do futebol no mundo mudou.

"É um caminho sem volta, eu acho que o Brasil está passando por essa transição, eu acho que a passagem do Jorge Jesus pelo Brasil deve ser pedagógica, a gente não está falando nem de um técnico que frequentou os maiores clubes europeus, e ele fez o que fez no Brasil, então é muito importante que não haja também esse corporativismo no meio, o meio precisa se reinventar e, óbvio, um país que fornece uma educação melhor, vai possibilitar melhores resultados", afirma Felipe.

"Basta você ver a diferença de educação que a gente tem, mesmo na América do Sul, na Argentina, no Chile, no Uruguai, você veja o quanto isso reflete, por exemplo, no sucesso dos técnicos argentinos. O quanto isso reflete nos jogadores argentinos que saem do país e não fazem um bate e volta um ano depois, como a gente vê tantos brasileiros fazendo, tanta dificuldade de adaptação a uma nova cultura, a uma nova realidade", conclui.

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