Executivo vê Brasil na contramão na venda de direitos de transmissão
O movimento para a aprovação da Lei do Mandante gerou muita discussão sobre a venda de direitos de transmissão do futebol no Brasil, modificando principalmente a necessidade anterior de que uma emissora tivesse os direitos dos dois clubes para poder exibir um jogo. Mas não foi alterado pela lei o formato de negociação e venda dos direitos, que hoje é individual, diferentemente do que ocorre com as principais ligas do mundo.
Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o executivo Pedro Daniel, da Ernst & Young, afirma que um problema no futebol brasileiro é a visão, muitas vezes, de que o produto a ser vendido é o clube quando, na verdade, deveria ser o campeonato, como funciona com as grandes ligas.
"Existe uma confusão de conceito —que aqui no Brasil a gente ainda não chegou no ponto—, que é qual é o produto. O produto é o clube ou o produto é a competição? Nós, aqui no Brasil, compramos a La Liga, nós compramos a Champions League, nós compramos a Bundesliga, a Premier, ou seja, nós compramos a competição. Aqui no Brasil, a gente quer vender o clube, mas o clube tem um teto e você desvaloriza a própria competição", afirma o executivo.
Ele também chama a atenção para a falta de padronização na venda de placas, o que leva o torcedor a ver jogos da mesma competição com um visual muito diferente, diferentemente do que ocorre em La Liga, na Premier League, na Copa do Mundo e em competições de outras modalidades esportivas.
"Mudando essa questão de conceito, fica muito mais claro que a venda, e não estou só dizendo internamente, a venda externa, como a gente pode fazer para internacionalizar o produto, é através da competição. Esse é o produto a ser negociado. Como é que a gente faz para padronizar não só as transmissões, mas todo o entorno do produto? Quando a gente assiste Fórmula 1, seja no Brasil, nos Estados Unidos, na China ou no Japão, ela é igualzinha, você vê exatamente toda a padronização, seja de abertura, de produto, ou seja, existe uma coisa muito clara do que é o produto Fórmula 1", afirma Pedro Daniel.
"Copa do Mundo é a mesma coisa, Champions League, a mesma coisa, agora, aqui, no Campeonato Brasileiro, se você assistir a um jogo num canal e depois outro em outro canal, você vai ver produtos completamente diferentes. Você vê placas completamente diferentes porque as placas também foram negociadas de maneira individual", completa.
O executivo considera que há muita preocupação em relação à divisão do bolo e não ao nível do produto vendido. Ele afirma que a partir do momento em que os próprios clubes entenderem que o produto será mais valorizado com a venda em conjunto, os próprios passarão a arrecadar mais.
"Qual produto eu estou comprando? Eu estou comprando um clube? Estou comprando Flamengo, Palmeiras, o Atlético-MG? Ou não, estou comprando o Campeonato Brasileiro? E só quando a gente chegar nessa mentalidade, que me parece muito óbvia, e acho que a discussão é mais de como repartir esse bolo, é que o bolo vai crescer. A gente está brigando agora por migalhas, por um pedaço do bolo. A partir do momento que a gente tiver o bolo completo, aí, sim, a gente pode pensar qual é a melhor maneira de repartir ele", afirma.
"É uma visão de produto e enquanto a gente tiver essa visão de produto que o clube é maior do que a competição, a gente vai ficar nesse rolo que a gente está há muito tempo", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no YouTube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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