O Cruzeiro mudou seu sistema para adotar a sociedade anônima do futebol (SAF) em sua administração, medida visando salvar o clube de uma complicada situação financeira e que chamou a atenção pelo fato de ter como sócio majoritário o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, que atuou com a camisa cruzeirense no início da carreira como profissional.
No UOL News Esporte, Milly Lacombe condena a adoção deste formato de SAF, com os clubes passando a ter um dono e diz que isso vai no sentido contrário ao que se espera, ao centralizar cada vez mais em menos pessoas as decisões sobre uma entidade que tem milhões de torcedores, como é o caso do Cruzeiro, que deve ter os passos seguidos por Botafogo e Vasco, entre outros clubes do país.
"A gente detecta os problemas no futebol, por exemplo, o São Paulo é um grupo de poucas pessoas mandando em um time que tem milhões de torcedores. Aí a gente 'então vamos resolver esse problema'. Como? A gente vai dar poder a menos gente, isso é a SAF. Um magnata vai comprar um time e esse cara vai ter o poder. A gente fala muito em democracia, a gente ama a democracia, a gente quer democracia, mas a gente não pratica isso, porque se a gente praticasse, a gente iria estar lutando pelo oposto, mais pessoas com o poder de decisão", diz Milly.
"A quem pertence o time? Não é a uma pessoa, é à torcida, então agora a gente concentrou o poder, nada contra o Ronaldo, eu sou corintiana, ele é ídolo para mim, mas é o conceito. Concentrar o poder não é o que a gente precisa hoje, a gente precisa diluir o poder, todos os problemas que a gente está vendo no mundo, consequentemente no futebol, é porque o poder está concentrado na mão de pouquíssimas pessoas. Como é que a gente vai repetir isso no futebol? A SAF é isso", completa.
A jornalista afirma que considera a SAF uma aberração ao colocar o futebol apenas como negócio e deixando em segundo plano a paixão que move o esporte.
"Vai ter gente comemorando a privatização do seu time, pelo amor de Deus, a gente precisa do caminho oposto, socializar os times, dar o poder a quem ama o time não a quem quer ganhar dinheiro com o time, time não é para dar lucro, time não é uma planilha de custo-benefício, futebol é socialização, é paixão, é circulação de afetos, é um circuito enorme de afetos e a gente está matando isso", diz Milly.
"Na maneira como eu vejo o futebol, a SAF é uma aberração, é concentração de poder. Oficialmente o futebol existe para dar lucro. Para quem? Para quê? Em nome do quê? Eu acho isso uma loucura", conclui.
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