"Arouquinha", volante vira exemplo no Santos após ser campeão de jiu-jitsu

O Santos avaliou 9.500 jovens jogadores em 2021. E só 32 reforçaram as categorias de base. Dentre eles, João Victor, de 18 anos. E o meio-campista conhecido como "Balão" será titular na Copinha a partir de hoje (3). O Peixe estreia contra o Operário Ferroviário-PR às 21h45, na Arena Fonte Luminosa, em Araraquara.

Balão é um exemplo no Santos em termos de prospecção. O Peixe buscou João logo após a final do Campeonato Maranhense. Aos 17 anos, ele foi titular no vice do Moto Club diante do Sampaio Corrêa. Dias depois, foi chamado para testes na Baixada Santista. A rápida aprovação gerou um contrato profissional até 30 de junho de 2023. E o fim de uma odisseia para treinar e jogar.

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"Era muito difícil. No começo chegava exausto em casa. Tinha que acordar às seis da manhã para estudar e só chegava às 21h em casa. Andava a pé para todos os treinos e ficava no campo mais de três horas treinando no calor forte que fazia no Maranhão. Mas eu botava na minha cabeça que tinha que aguentar para poder dar uma boa condição para toda a minha família e isso me deixava firme para continuar, por mais cansativo que fosse. Valeu a pena, hoje estou colhendo os frutos em um clube gigante", disse Balão, ao UOL Esporte. O apelido foi criado por um amigo há anos e pegou: "Me chamou de Balão do nada".

A rotina em Santos melhorou, até por não ter ido à escola em 2021, mas ainda difícil, por outras razões. João Victor mora no alojamento do Peixe e não vê a sua família há seis meses. Introvertido, custou a se enturmar na base e também estranhou o frio na região depois de se acostumar com o calor do Maranhão: "Agora estou mais solto", falou o aluno matriculado para o segundo ano do Ensino Médio em 2022.

Quase desistência

Balão esteve perto de largar futebol por três motivos: a morte do primo, a experiência vitoriosa no jiu-jitsu e um teste positivo de covid-19.

João Victor, ainda adolescente, presenciou o falecimento trágico do parente: "A cena não saía da minha cabeça. Não tinha forças mais. Mas aos poucos fui voltando", contou o Menino da Vila, evitando maiores detalhes.

Aos 14 anos, o meio-campista conheceu o jiu-jitsu. E foi campeão nos dois torneios amadores disputados. Mesmo assim, João optou por continuar na escolinha de futebol: "Eu ficava muito cansado e tive que focar em um".

A terceira grande frustração ocorreu em dezembro de 2020. Ele foi contratado pelo Moto Club para a disputa da Copa do Nordeste Sub-20 em Recife. Ao sair do EC São Luís, ele fez teste para covid-19 e negativou. Na chegada em Pernambuco, porém, o exame deu positivo:

"Ele não conseguiu atuar na competição e ficou isolado no hotel. A mãe dele me ligou dizendo que o Balão queria desistir do futebol. Falei que nem pensar. E ele reagiu e logo depois foi para o elenco profissional do Moto", explicou Márcio Brito, empresário de futebol e presidente do São Luís.

Arouquinha

O estilo de jogo de João Victor rendeu outro apelido no Santos além de Balão. Felipe Gil, responsável pela base do Peixe, vê semelhanças com um atleta vitorioso da história santista.

"O João chegou devagarinho, se adaptou e dá retorno técnico e físico. Ele é o motorzinho do time. Falei uma vez com ele que trabalhei com o Arouca no Figueirense. Brinquei que ele é o nosso Arouquinha, que participa de tudo e entrega tudo em campo", elogiou o coordenador do Santos.

A vinda de Balão para o Santos virou um exemplo internamente. Funcionários do clube conversam com frequência sobre como o volante é um case de sucesso na Vila Belmiro.

"A gente vinha monitorando ele com a equipe de análise de mercado. Surgiu a oportunidade quando ele estava praticamente certo com o Atlético-MG. E conseguimos trazê-lo livre, deixando um percentual para o Moto Club. Hoje temos 70% e temos opção de comprar mais 10% do Moto. E ele vem performando muito bem. É um exemplo de perfil de captação para a base. É isso que temos que fazer", comemorou Felipe Gil.

Testes e propostas

João Victor recebeu propostas do Atlético-MG e Fortaleza depois do Campeonato Maranhense. Antes, veio para o Rio de Janeiro para fazer testes no Flamengo. E foi procurado pelo Vasco. A opção de Balão foi o Santos.

"Me lembro bem de ter perguntado para o Balão se ele queria ir para Fortaleza, Belo Horizonte ou São Paulo". Ele me respondeu São Paulo. Era o desejo do atleta e nós tínhamos que pensar no melhor para ele. E o melhor foi o Santos", relembrou o agente.

Balão chegou ao Peixe para receber um salário inicial baixo, de menos de R$ 1 mil por mês, que já foi reajustado. "Eu falei para ele não ler o contrato quando foi assinar. Só pensar em jogar bola e deixar o resto para a gente. E é o que ele está fazendo".

Carille de olho

A comissão técnica do Santos assistirá aos jogos da Copinha in loco ou de casa. João Victor tem apenas 18 anos e chegou há pouco tempo no Peixe, mas espera fazer o suficiente para chamar a atenção de Fábio Carille.

"Cheguei aqui com o sonho de jogar no profissional do Santos e poder dar uma boa condição de vida para a minha família. Mas primeiro tenho que pensar de forma coletiva com o Santos conquistando a Copinha, o foco é o tetracampeonato. O que vier depois será consequência desse nosso trabalho. Sou privilegiado em poder viver isso", projeta Balão, ansioso.

Com "bom passe e boa marcação como principais características", na sua própria avaliação, João Victor se inspira em Sandry no elenco profissional do Santos e em Casemiro, do Real Madrid, para se firmar no Peixe.

"Depois de tudo que eu passei, realizar esse sonho de ser profissional do Santos seria muito gratificante para mim", concluiu.