De Vini Jr. a Neymar: dez pontos que a seleção precisa definir para 2022
Classificação e Jogos
O objetivo maior é o Qatar, a partir de novembro. Há um caminho que une passado e futuro no qual estão Tite e sua comissão técnica. A seleção brasileira, hoje, não está pronta para a Copa do Mundo. O técnico sabe disso e, ao longo de 2021, falou e expressou isso na prática. É preciso completar alguns passos para que o time atinja seu ideal e se torne confiável. O UOL Esporte listou dez deles.
O trabalho em 2022 foi retomado nesta semana, com o fim do recesso. E há uma convocação já agendada para amanhã (13). Ao menos existe a tranquilidade de ter a vaga no Mundial assegurada. Mas contentar-se com isso não condiz com a história da Amarelinha.
Tite concentra as atenções, mas não toma decisões sozinho. Tem nos auxiliares Cleber Xavier, César Sampaio e Matheus Bachi, seu filho, os conselheiros mais próximos. O trabalho de observação ainda incluiu os analistas de desempenho Thomaz Araújo e Bruno Baquete, além da perspectiva do preparador físico Fábio Mahseredjian. Tudo isso dentro do contexto de uma CBF que não sabe qual será seu futuro em termos de liderança, já que há uma corrida pelo cargo de presidente. No meio disso tudo, o time de futebol em busca do hexampeonato mundial.
O próximo jogo é no dia 27, às 18h (de Brasília), contra o Equador, pela 15ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar. É ano de Copa.
1. Depois da classificação garantida, mais jogadores serão testados?
A seleção tem previstos no calendário antes da convocação para a Copa do Mundo mais quatro rodadas de Eliminatórias —sem contar aquele jogo suspenso contra a Argentina— e cinco amistosos com datas, locais e adversários ainda indefinidos.
A comissão técnica considera pouco tempo para experiências muito fora do padrão, mas a impressão interna é de que o elenco rodará mais nestes jogos das Eliminatórias do que nos amistosos de maio, junho e setembro, quando o foco será no aprimoramento tático do time-base para o Qatar. Ou seja, se tiver alguma surpresa, é para já. O lateral-direito Vanderson, ex-Grêmio, é um nome forte. A seleção trabalha a cada convocação com uma lista entre 40 e 50 nomes observados e nesta quinta-feira é possível que até 25 sejam chamados por causa das suspensões de Fabinho e Lucas Paquetá.
2 - A seleção vai jogar sempre ofensivamente ou depende do caso?
O Brasil entrou em campo 42 vezes desde a Copa do Mundo da Rússia, venceu 30, empatou nove e perdeu só três. Nestes jogos, marcou 84 gols (média de dois por jogo) e sofreu 16 (média de 0,3 por jogo), além de 28 jogos (quase 70% do total) sem tomar gols. Os números indicam força defensiva e ofensiva e é justamente em busca deste equilíbrio que trabalha a comissão.
Tite não abre mão de que seu time tome poucos gols e cumpra com eficiência as estratégias defensivas —todas as derrotas desde 2018 foram pelo placar mínimo. Isso faz com que pelo menos um de seus laterais jogue recuado, uma dupla de volantes seja preservada —apesar das constantes críticas por excesso de precaução— e um dos atacantes também tenha funções de marcação, num esquema tático próximo do 4-4-2.
Essa é a formação-base, mas é normal que aconteçam mudanças contra adversários que defendam mais. A seleção já chegou a jogar no 3-2-5, por exemplo, com um lateral-esquerdo fazendo as vezes de ponta. Hoje, a busca de Tite é por um time que tenha mais posse de bola e chances criadas do que qualquer adversário, mas é certo que isso nem sempre vai acontecer.
3 - Como a seleção brasileira lida com a má fase de Neymar?
Neymar está em tratamento de uma lesão no tornozelo esquerdo e vive a expectativa de voltar aos treinos na última semana de janeiro. É pouco provável que ele seja convocado para enfrentar Equador e Paraguai, enquanto o PSG espera tê-lo 100% fisicamente para o dia 15 de fevereiro, quando enfrenta o Real Madrid pelas oitavas de final da Liga dos Campeões.
O camisa 10 da seleção não joga desde 28 de novembro e vive uma temporada muito abaixo da expectativa em seu clube, com seis participações em gols em 14 jogos e constantes críticas pelo estado físico que rendeu uma queda técnica nos últimos meses. Até em jogos recentes do Brasil Neymar foi mal, como numa vitória sobre o Chile em setembro.
A seleção acompanha o caso com atenção. Em relação ao estado físico, a comunicação com o médico Rodrigo Lasmar e o preparador físico Fábio Mahseredjian é constante. Além disso, Neymar trabalha diretamente com Ricardo Rosa, que também é preparador da seleção e facilita o fluxo de informações. Já em relação à parte técnica, a comissão técnica confia que ele esteja vivendo uma simples e natural oscilação e que há tempo suficiente para ele retomar o bom futebol.
Hoje, mais do que isso, Tite pensa no encaixe de Neymar na seleção. Titular indiscutível, ele atua como atacante livre para circular partindo do lado esquerdo. No entanto, já foi escalado como meia atrás de outros três dianteiros, numa formação que tende a deixar o time mais leve. Essa adaptação é um dos desafios de 2022, e Tite entende que Neymar está a fim de dar a volta por cima e ser protagonista na Copa.
4 - Onde encaixar Vinicius Júnior na escalação titular?
Não há fenômeno mais relevante envolvendo o futebol brasileiro do que a consolidação de Vini Jr. no Real Madrid. Isso, claro, causa impacto na seleção. Ele virou o jogo.
Em outubro, na última convocação de 2021, a lista inicial não tinha Vini Jr. Tite preferiu Antony e Rapinha. Mas a contusão de Firmino permitiu que o treinador trouxesse o atacante do Real. Até o jogo contra a Argentina, em novembro, Vini Jr. só tinha sido coadjuvante pela seleção. Tratava-se de indiscutível reserva na cabeça de Tite.
Na Copa América, Vini foi quase um turista. Entrou em quatro dos dos sete jogos, mas em dois deles só aos 40 minutos do segundo tempo. A maneira mais controversa que Tite usou Vini Jr. foi contra o Chile, nas Eliminatórias, em Santiago. Basicamente, orientou o jogador a acompanhar Isla na marcação. Distante das funções ofensivas, foi substituído no intervalo. Nessa mesma data Fifa, Raphinha e Antony geraram argumento para que Vini não fosse chamado.
Só que a cada jogo pelo Real Madrid vem uma atuação relevante dele. Mesmo após o afastamento pela covid, o ritmo de gols, assistências e arrancadas não parou.
Tite tem uma questão a resolver, que, pela ausência de Neymar agora nos dois primeiros jogos do ano, ficará para depois. Mas é preciso identificar como conjugar Paquetá, Vini Jr, Neymar e Raphinha no mesmo time, tendo ainda alguém como centroavante.
Hoje, a faixa esquerda do campo é ocupada por Paquetá, que tem características muito diferentes. Contra a Argentina, ambos jogaram juntos. Mas Neymar já não estava lá, machucado. Colocar Vini pela direita, no lugar de Raphinha, é colocá-lo em uma posição notadamente desconfortável. Seria a solução recuar Paquetá, tirando Fred do meio-campo? Haveria um preço a se pagar defensivamente. Tite tem até a Copa do Mundo para resolver isso, mas parece impensável que ele abra mão do brasileiro que, hoje, mais se destaca no futebol mundial.
5 - Daniel Alves vai voltar a ser convocado? Quem serão os laterais?
Não dá para desprezar a relevância dos laterais no futebol, sobretudo diante do papel de construção de jogo que eles assumiram nos últimos anos. E há uma disputa nada velada por esse espaço na Copa. O debate ganha destaque pelo peso de um candidato pelo lado direito: Daniel Alves.
O movimento de deixar o São Paulo e voltar ao Barcelona é um exemplo prático do discurso dele de querer disputar mais um Mundial. Uma lesão o tirou da Copa América 2021, mas foi esse contorno que deu a ele a chance de ser campeão olímpico em Tóquio. Dotado de uma capacidade técnica indiscutível e liderança a serviço da seleção desde 2006, o debate em torno de Dani Alves é mais físico. A concorrência envolve Danilo, que tem sido o titular mais lembrado, e Emerson Royal, que desembarcou nesta temporada no Tottenham.
Na lateral esquerda, Alex Sandro tem mais experiência (chega aos 31 anos neste mês) e parece dono da posição. A discussão fica entre Renan Lodi, irregular nas últimas temporadas pelo Atlético de Madrid e falhou na final da Copa América, e Guilherme Arana, que vem de ótima temporada pelo Atlético-MG e presença também na campanha do ouro olímpico. Disputa aberta.
6 - A seleção vai ter um goleiro titular?
Alisson, Ederson, Alisson, Ederson, Weverton, Alisson... Por circunstâncias diversas, incluindo lesões, veto de clubes e opção do treinador, os jogos da seleção em 2021 proporcionaram um rodízio até incomum entre os goleiros. A questão é: até onde Tite vai com essa alternância na posição? O nível dos três, na prática, se mostrou bem parelho. Alisson e Ederson são dois dos melhores do mundo, aclamados na Europa. Enquanto Weverton é o dono da América do Sul, bicampeão da Libertadores pelo Palmeiras.
Ano passado, Alisson foi titular em sete jogos, enquanto Ederson foi escalado em seis e Weverton, quatro (sendo um deles o duelo interrompido contra os argentinos). Pelo histórico, a balança pende a favor de Alisson, titular na Copa 2018. E tem a questão do relacionamento com Taffarel. O preparador da seleção, inclusive, foi contratado pelo Liverpool e agora trabalha em tempo integral com o pupilo do Internacional. Alisson é visto como um goleiro com um gesto técnico muito apurado. Ederson tem a seu favor a capacidade de um jogo com os pés. Weverton é muito seguro, consistente também.
7 - Quem vai ser o centroavante titular da seleção?
Trata-se de uma das posições em que Tite tem mais dúvidas neste ciclo para o Qatar. Naquele que é considerado por muitos como o melhor jogo nas Eliminatórias —goleada por 4 a 1 sobre o Uruguai na Arena da Amazônia—, o titular foi Gabriel Jesus. Mas nem com a goleada ele ganhou elogios, porque não fez gol.
Na sequência dos jogos, o atacante do Manchester City perdeu posição para Matheus Cunha, que quase marcou contra a Argentina, mas ainda tenta se firmar. Antes deles, Gabigol teve sua esperada sequência como titular e pouco fez, e Richarlison e Roberto Firmino também tiveram espaço, mas fora das posições em que são especialistas e com desempenho abaixo do esperado. Hulk foi outro convocado no contexto de sua grande temporada no Atlético-MG, mas ficou em campo por só 11 minutos em 2021.
O que Tite indica hoje é uma disputa entre Gabriel Jesus e Matheus Cunha pela camisa 9, mas com tantas indefinições nenhuma opção pode ser descartada. Inclusive a adaptação de Neymar numa formação com Raphinha e Vinicius Júnior na pontas.
8 - O meio-campo da seleção vai ser Casemiro e mais quem?
As escalações recentes mostram uma tendência clara na formação do trio de meio-campo: Casemiro, Fred e Lucas Paquetá. Algumas alternativas foram trabalhadas, principalmente numa época de queda técnica de Fred. Gérson, Bruno Guimarães e Douglas Luiz tiveram oportunidades no setor, mas não corresponderam no mesmo nível do jogador do Manchester United. Mais avançado, Paquetá também se saiu melhor na disputa com Everton Ribeiro.
Uma solução testada em jogos em que a seleção precisou ser mais ofensiva tinha Lucas Paquetá como uma espécie de segundo volante e Neymar de armador, mas Tite acha que o time perde equilíbrio defensivo dessa forma e prefere o jogador do Lyon com mais liberdade para jogadas de um contra um e tabelas mais perto do gol adversário, pela esquerda.
9 - A seleção hoje tem um capitão?
A seleção brasileira tem lideranças muito bem definidas em campo. Mas isso não quer dizer que a faixa de capitão tenha um dono, apenas. Há um tripé que envolve o sistema defensivo e tem sido o responsável por ser o portador da capitania. É quase um triunvirato entre Thiago Silva, Marquinhos e Casemiro.
Em 2021, com Daniel Alves, capitão na Copa América 2019, perdendo espaço, Thiago Silva foi quem mais ostentou a faixa, em sete jogos. Inclusive na final da própria Copa América, diante da Argentina. Casemiro e Marquinhos, por sua vez, foram capitães em cinco ocasiões cada.
A liderança de Thiago Silva é algo natural por ser o mais velho do grupo, já com 37 anos. Ele tem no histórico a capitania na Copa 2014 e em alguns jogos do Mundial de 2018. Na Rússia, Tite, inclusive, mostrou que não vê problemas em rodízio de capitania, pois delegou a função, além de Thiago Silva, para Miranda e Marcelo.
10 - O pior já passou? A seleção está segura diante da disputa por poder na CBF?
O ano da Copa do Mundo chegou. Sabe-se quem será o técnico da seleção no Mundial em novembro. Mas e o presidente da CBF? Não dá para prever.
Em 2020, a estrutura de poder da entidade foi chacoalhada por causa da denúncia de assédio moral e sexual que afastou Rogério Caboclo da presidência. O momento de maior tensão entre a seleção e o "chefe" foi antes da Copa América, quando Caboclo trouxe a competição ao Brasil em um movimento respaldado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. O movimento ríspido gerou um racha na relação com a comissão técnica e jogadores, que chegaram a fazer cobranças em uma reunião na Granja Comary.
Caboclo foi afastado ao fim daquela semana pela Comissão de Ética e o clima ficou mais ameno. Mas o que está por vir? Pelo menos até a Copa do Mundo, o presidente da CBF não será ninguém alheio à gestão atual, já que a eleição que virá após a confirmação da segunda punição a Caboclo só vai ser entre os atuais vice-presidentes.
Hoje, a cadeira é ocupada interinamente por Ednaldo Rodrigues, que tem acompanhado a delegação em todos os jogos desde que assumiu. Vai para o jogo no ônibus e tudo. O vice Gustavo Feijó foi quem mais se aproximou da diretoria de seleções desde que Caboclo foi tirado de cena. A ideia é trocar figurinha de forma mais próxima com o coordenador Juninho Paulista. Feijó, com esse movimento, inclusive aumentou seu capital político.
Entre todos os departamentos da CBF, a engrenagem da comissão técnica da seleção é a que consegue se desvencilhar melhor da briga pelo poder. Até porque Tite, desde que foi levado ao cargo por Marco Polo Del Nero, sempre teve o papel de um escudo diante da opinião pública, em uma CBF mergulhada em escândalos. Trazer o treinador, em 2016, eliminou motivos para criticar a CBF, já que a guinada após a passagem tenebrosa de Dunga foi imediata. Então, mesmo com as idas e vindas na cadeira de presidente, a ameaça de demissão jamais se tornou concreta.
Entre os possíveis candidatos (os atuais vices da CBF), a ressalva anterior era que Tite era insistente com alguns nomes mais rodados e não abria espaço para jovens com momento melhor. A visão mudou quando ele abriu caminho para Raphinha, Antony e, mais recentemente, Vini Jr. Pelo cenário atual e que se desenha, será muito difícil que Tite e a comissão não tenham tudo o que desejam da CBF até a Copa do Mundo.
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