Vítima de Robinho fala pela 1ª vez: 'Não tenham medo de seus agressores'
A mulher albanesa que foi vítima de violência sexual de grupo cometida pelo jogador Robinho e seu amigo Ricardo Falco se pronunciou pela primeira vez após a condenação por estupro do atacante de 37 anos. Em uma mensagem enviada com exclusividade ao UOL Esporte, R. (que não quer ser identificada) pede que as mulheres denunciem seus agressores e não tenham medo.
"Mulheres, denunciem, não tenham medo de seus agressores porque diante de cada agressor há outras dez pessoas boas prontas a te ajudar: um amigo, um familiar, um policial competente, um juiz, mas, sobretudo, a Justiça", disse.
Na mensagem, R. afirma que a Justiça nunca pagará a dor de um crime, mas tem o poder de ajudar outra mulher a não sofrer violência sexual.
"Mesmo que ela (Justiça) não seja totalmente reconfortante, porque nunca pagará a dor, a raiva ou fará você voltar a ser a pessoa que era antes, a Justiça será reconfortante para outra mulher. Uma mulher que pode ser nossa mãe, nossa amiga, nossa irmã ou nossa filha. Só denunciando podemos evitar que isso volte a acontecer", afirma.
Ontem, Robinho e Ricardo Falco foram condenados, em última instância, a nove anos de prisão. O crime aconteceu em uma boate em Milão, na Itália, em 2013. A sentença é definitiva, não cabe mais recurso e a execução de pena é imediata.
Com a condenação, a justiça italiana poderá pedir a extradição de Robinho e Falco, mas dificilmente eles serão mandados para a Itália, pois a Constituição veta a extradição de brasileiros. Desta forma, a Itália poderá pedir que eles cumpram as penas em uma penitenciária brasileira.
A vítima, diferentemente de Robinho, esteve presente em todas as audiências e, em cada uma delas, teve de reviver o horror daquela noite que deveria ser de alegria e virou pesadelo. Após o crime, a mulher procurou o advogado Jacopo Gnocchi e, junto a ele, prestou denúncia na polícia de Milão que, imediatamente, abriu uma investigação sobre o caso.
Entenda o caso
O caso aconteceu em Milão, na boate Sio Cafe, durante a madrugada de 22 de janeiro de 2013. A vítima é uma mulher albanesa que, na época, comemorava seu aniversário de 23 anos. Além de Robinho, que então defendia o Milan, e Ricardo Falco, outros quatro brasileiros foram denunciados por terem participado do ato.
Como já haviam deixado a Itália no decorrer das investigações, eles não foram avisados da conclusão das investigações e por isso não foram processados. O caso contra esses quatro brasileiros está suspenso até o momento, mas pode ser reaberto, principalmente agora que a Corte de Cassação confirmou a condenação de Robinho e Falco.
Robinho admitiu ter mantido relação sexual com a vítima, mas negou as acusações de violência sexual, quando foi interrogado, em 2014. Em entrevista ao UOL Esporte em outubro de 2020, o jogador afirmou que não abusou sexualmente da mulher.
Ele não compareceu a nenhuma das audiências nos quase seis anos de julgamento. O processo, que iniciou em 2016, teve a sentença de primeiro grau proferida em 23 de novembro de 2017. O caso voltou à tona em outubro de 2020 quando o site "Globoesporte.com" publicou trechos de conversas interceptadas pela polícia, nas quais Robinho e os amigos fazem pouco caso da vítima.
"Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu", escreveu o jogador em uma das conversas.
Nova condenação em 2ª instância
Ao longo do processo, a defesa de Robinho alegou que algumas traduções estavam erradas, que algumas transcrições das conversas grampeadas deixavam dúvidas e que era impossível provar que a vítima estava em condição de inferioridade psíquica e física como descrito na sentença de primeiro grau.
Mesmo assim, em dezembro de 2020, a corte de Apelação de Milão, segunda instância da justiça italiana, em audiência única, confirmou a condenação do atacante e de Falco a nove anos de prisão.
De acordo com a juíza italiana Francesca Vitale, que presidiu o julgamento em segunda instância, "a vítima foi humilhada e usada pelo jogador e seus amigos para satisfazer seus instintos sexuais".
"O fato é extremamente grave pela modalidade, número de pessoas envolvidas e o particular desprezo manifestado no confronto da vítima, que foi brutalmente humilhada e usada para o próprio prazer pessoal", escreveu a magistrada.
A defesa do brasileiro, então, apelou à Corte de Cassação, a terceira e última instância italiana, mas teve o recurso rejeitado.
Já o músico Jairo Chagas, que tocava no local naquela noite de 2013 e prestou depoimento como testemunha do caso, foi condenado por falso testemunho. Ele fez um acordo com a justiça para prestar serviço comunitário numa casa de repouso de idosos em Milão. Jairo negou ter visto o crime, mas, nas conversas interceptadas, ele falou com o atacante sobre o que aconteceu naquela madrugada.
Robinho foi anunciado pelo Santos em outubro de 2020, mas o clube suspendeu o contrato do jogador depois da pressão causada por imprensa, torcida e patrocinadores por conta da condenação, então em primeira instância.
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