Em 1995, decisão na base entre Palmeiras x SP terminou em morte no Pacaembu
Acostumado a ter em seu gramado grandes jogadores, dribles desconcertantes e gols inesquecíveis, o estádio do Pacaembu teve uma manhã diferente no dia 20 de agosto de 1995. Palmeiras e São Paulo - que se enfrentam neste sábado (22), pela semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior - decidiram em 1995 a Supercopa de Futebol Júnior, torneio que reunia os campeões e vices da Copinha. A comemoração do título do Palmeiras resultou em um dos confrontos mais violentos entre torcidas no país, com um morto e 102 feridos.
Se nos dias atuais o Pacaembu está fechado para reforma, naquele domingo palmeirenses e tricolores lotaram as arquibancadas do estádio municipal. As equipes profissionais dos dois clubes estavam dominando o futebol brasileiro no início dos anos 90. E a decisão da Supercopa era um reflexo do bom momento de ambos.
Pela regra da prorrogação na morte súbita adotada naquela competição, o time que marcasse o gol seria campeão. Pouco mais de 27 anos após aquela final, o gol de Rogério, que decretou o título do Verdão, é um fato menor daquela decisão. O tento, aos 5 min da prorrogação, fez os torcedores alviverdes explodirem em comemoração. A alegria pelo título inédito incentivou os palestrinos a invadirem o gramado do Pacaembu. Alguns torcedores começaram a provocar os são-paulinos que ainda não haviam deixado o estádio. Foi o estopim para que o campo de jogo virasse um campo de guerra.
Os tricolores derrubaram o alambrado do setor em que estavam, invadiram o tobogã, então em obras e, armados de paus, pedras e tudo mais que pudesse servir de arma, revidaram. A partir daí o gramado do Pacaembu virou cenário de guerra medieval.
Os palmeirenses recuaram. Em maior número, contra-atacaram. O efetivo policial era reduzido por ser um jogo de juniores. Assim, o entulho encontrado no estádio virou arsenal na mão dos torcedores. Quem caía, era espancado impiedosamente. Uma das cenas mais impactantes é quando um torcedor recebe pauladas na cabeça e sai cambaleando até desabar no alambrado.
Agredido inúmeras vezes, o são-paulino Márcio Gasparin da Silva, 16, sofreu múltiplos traumatismos cranianos. Morreu oito dias depois da briga no Pacaembu.
O palmeirense Adalberto Benedito dos Santos foi responsabilizado pelo assassinato de Márcio. Em 1998, três anos após o confronto, Adalberto foi julgado e condenado a 12 anos de prisão pela morte de Márcio. Cumpriu aproximadamente quatro em reclusão, e conseguiu progressão para o regime semi-aberto.
A família de Márcio entrou na Justiça contra a Prefeitura de São Paulo, mas o judiciário não concedeu a indenização pretendida e também não considerou o município culpado pela morte do adolescente.
O caso também foi um marco para a regulamentação das torcidas no Estado. O Ministério Público de São Paulo decretou a extinção da Mancha Verde e da Independente, que ressurgiram após mudanças jurídicas e de nome. Na prática, culminou com a decisão de restringir apenas aos torcedores da equipe mandante a presença em clássicos em São Paulo. "Naquela época, o Ministério Público ainda não havia iniciado o controle das organizadas, mas o preço da tranquilidade é a eterna vigilância. O jogo requer atenção", falou ao UOL Fernando Capez, então promotor público que pediu a extinção das organizadas de São Paulo e Palmeiras.
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