Seleção no Equador remete ao início da era Tite, 'chatice' e até choro
Não fazia muito tempo que o segundo treino com a seleção brasileira tinha terminado. Ansioso pela estreia como técnico do Brasil, Tite conversava com o então coordenador de seleções, Edu Gaspar, no estádio Atahualpa, em Quito. No papo, mostrou como estava impressionado com a nova realidade e a capacidade de assimilação dos jogadores às suas ideias recém-transmitidas.
Na noite seguinte, veio a vitória por 3 a 0 sobre a seleção anfitriã e outra conversa serviu para dimensionar o peso daquilo. O Brasil deu fim a um tabu de 33 anos sem vencer em Quito. Em um misto de alegria e alívio, Tite chorou enquanto conversava com sua mulher, Rose.
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Quase cinco anos e meio depois, a seleção brasileira está de volta ao Equador. O ambiente da partida de amanhã (27), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, traz uma sensação de nostalgia. Foi ali, naquele estádio onde a seleção treinou ontem (25) e pode ser visto da janela do hotel onde a delegação está hospedada, que a "aventura" começou.
Mas não se trata de reviver a mesma situação, já que o Brasil não sofre mais pressão por resultados que o levem à Copa do Mundo. A classificação já veio, com seis jogos de antecedência, fazendo com que esse reencontro com gramados equatorianos não tenha o mesmo peso daquele disputado em 1º de setembro de 2016. O jogo, inclusive, vai ser no estádio Casa Blanca, mas o cenário traz à tona uma reflexão sobre a caminhada de Tite neste segundo ciclo, cujo objetivo maior está no Qatar.
O Brasil que hoje se dá ao luxo de transformar jogos de Eliminatórias em amistosos e ocasiões para ajustes era, em 2016, o sexto colocado. Vinha de momentos traumáticos com Dunga e a eliminação na primeira fase da Copa América Centenário. O Equador, por sua vez, liderava a corrida rumo à Copa no continente. Até por isso, a conta para a data Fifa era somar quatro pontos, segundo ouviu o UOL. A projeção da comissão técnica era empatar em Quito e vencer o jogo seguinte em Manaus, contra a Colômbia.
Ainda antes do jogo, a proposta da comissão técnica era preparar o terreno para a implantação da nova filosofia de trabalho. E disso toda a delegação fez parte. Chamou atenção de quem ficava alheio ao processo da seleção o fato de o treinador ter chamado para uma primeira reunião todo o estafe, como integrantes da segurança, do setor de apoio e comunicação. Com Dunga não era assim.
A vitória por 3 a 0 foi muito além do esperado. Como recheio, os dois gols do estreante Gabriel Jesus, então com 19 anos. No jogo seguinte, uma vitória suada por 2 a 1 sobre a Colômbia que deu tranquilidade para o trabalho. A conversa com Edu Gaspar, relatada no início, foi um prenúncio da tônica da campanha nas Eliminatórias. O grupo assimilou muito bem as ideias de Tite e a guinada veio, com um futebol vistoso.
A primeira lembrança, a mais clara, que sempre gosto de lembrar: chegamos ao Equador com muita desconfiança, se íamos classificar ou não, mas conseguimos ter sequência importantíssima, conseguimos encantar, voltar a ter o povo do nosso lado."
Casemiro, um dos capitães da seleção atual e que estava em campo naquele 3 a 0
Dos 12 jogadores que Tite usou naquele jogo contra o Equador, seis estão na convocação atual. Nem todos serão titulares, o esquema tático da seleção não é o mesmo e tampouco seu treinador — até pelo que passou ao longo dos 68 jogos pela seleção. Mas Tite mantém algumas características que se consolidaram a partir daquele jogo contra o Equador.
"Ele está um pouco mais velho, né? (risos) Não só ele, como todos nós. Diria que o que ele mais toca no ponto, o que é mais chato, é o ponto de exigência. É um cara que gosta de trabalhar 100%. Mesmo que sejam amistosos, Eliminatórias, o poder dele de querer vencer, de estar sempre em alto nível, não mudou. Até aumentou. O ponto de concentração, de falar mentalmente forte, mentalmente forte, é o mais importante que ele toca", explica Casemiro.
Mais de cinco anos depois da conversa empolgada com o chefe e da ligação emocionada para a esposa, Tite inicia amanhã o ano que anuncia definir o modo como ele será visto e lembrado como treinador da seleção no futuro.
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