Jogo de time da casa no Mundial tem cheerleader, ida forçada e ar amistoso
A torcida uniformizada se espalhava pelas arquibancadas de certa forma vazias do Estádio Mohammed Byn Zayed. Mas o uniforme, no caso, era a tradicional túnica branca, que tanto os sauditas torcedores do Al Hilal, visitantes, quanto os locais do Al Jazira (EAU) vestem tradicionalmente por conta do Islã. E os anfitriões foram goleados, de virada: 6 a 1.
A semelhança entre as roupas dos torcedores casava com o clima quase amistoso da partida. Porque o jogo que decidiria o rival do Chelsea na semifinal do Mundial de Clubes teve muito mais ares de festival do que da competição internacional que os sul-americanos, em especial, tratam como o Santo Graal, o maior dentre todos os títulos possíveis. A disparidade técnica entre os times era gritante.
Havia também as camisas azuis dos visitantes e as vermelhas dos locais pelo estádio. Mas como os assentos são coloridos, estrategicamente, para a impressão do vazio constante das partidas da liga local parecer menor, era difícil entender quem estava torcendo para qual clube, com exceção de uma pequena mancha azul concentrada atrás de um dos gols.
O clima não tinha qualquer semelhança com o que se viu antes e durante Monterrey (MEX) e Al Ahly (EGI), por exemplo. Tampouco com o que certamente haverá no embate entre o mesmo Ahly e o Palmeiras, na próxima terça-feira (8), pela semifinal do torneio.
Com a bola já rolando, uma interminável fileira de ônibus escolares amarelos, emulando os norte-americanos sempre vistos em filmes da Sessão da Tarde e desenhos animados, ainda estacionava na porta do estádio. Deles, crianças mais interessadas em garantir as bandeiras nacionais que estavam sendo distribuídas, desciam e faziam filas organizadas por monitores.
Convite irrecusável e ingressos distribuídos
Pessoas ouvidas pela reportagem, que não quiseram se identificar mesmo sendo entrevistadas por um veículo de imprensa de outro país, afirmaram que empresas fizeram "convites irrecusáveis" para que seus funcionários comparecessem à partida, a fim de evitar estádio vazio.
Mesmo assim, apenas 12 mil dos mais de 43 mil assentos foram preenchidos. Relatos dão conta de que pessoas da organização simplesmente abordavam transeuntes nas ruas distribuindo ingressos que já custavam bem pouco. Os 20 dirhans cobrados por um tíquete equivalem a R$ 30.
A torcida do Al Jazira tinha um chefe dentro do campo, orquestrando os cânticos que eram puxados por alguém com um megafone, ou uma caixa de som, talvez. Tambores batiam no ritmo das tradicionais canções árabes, numa sonoridade bonita e ritmada, que parecia muito a combinação sambista repique + caixa —que destoam do que ouvidos brasileiros estão acostumados num estádio de futebol.
Em lances de ataque de seu time, o cheerleader de túnica parecia estar dizendo algo como "vai, vai, vai", do mesmo jeito que fazem os torcedores de sofá. Gritos ritmados, talvez dizendo "sai, sai, sai", também eram ouvidos quando o seu time era atacado. Já a torcida do Al Hilal parecia mais "real", mas nem tanto. Eles também batucavam tambores, num ritmo parecido com os de seus adversários.
Tudo ali era uma festa. Selada com uma tentativa semi-frustrada de "ola", puxada pelos torcedores derrotados, mas abraçada pelos vencedores.
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