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O tempo como aliado: como o Palmeiras reverteu em 2022 o fiasco de 2021

Diego Iwata Lima

Do UOL, em Abu Dhabi (Emirados Árabes)

09/02/2022 04h00

O sucesso do Palmeiras no atual Campeonato Mundial, até o momento, tem vários nomes, como Abel, Dudu e Veiga. Mas tem um sobrenome que permeia o que estes personagens fazem no gramado: planejamento. E isso foi tudo que o clube não teve para a edição anterior do torneio, quando foi eliminado pelo Tigres (MEX) na semifinal, e perdeu até mesmo a disputa de terceiro lugar para o mesmo Al Ahly que bateu na na noite árabe de terça-feira (8), por 2 a 0.

Em que pese o mundo estar no meio de uma pandemia, o calendário ao qual o clube alviverde foi submetido em 2021, na edição de 2020 do torneio, foi uma insanidade. Um time que vence a Libertadores em 30 de janeiro não tem como se planejar, por mais que tente, para estrear em 7 de fevereiro do outro lado do globo.

"Ganhamos a Libertadores, e foi tudo muito rápido, tivemos de viajar logo. Teve gente arrumando terno no dia da viagem, foi algo muito corrido", relembrou o meia Raphael Veiga.

"Se não me engano, teve um jogo, contra o Botafogo", exemplifica o meia, que não se engana: O Palmeiras encarou o Glorioso, à época de Rafael Navarro, no mesmo dia 2 em que embarcou para o Qatar. Houve diferença de horas entre o apito final no Allianz Parque e o aviso de afivelar os cintos, na pista do Aeroporto de Cumbica.

Já em 2022, houve 67 dias entre a conquista do título sul-americano e a viagem para o país sede da competição —incluindo 20 de férias — e 73 para a estreia.

"Neste ano, foi diferente. Desde a nossa preparação pré-viagem, na questão do planejamento que fizemos, de como seria no avião, a alimentação, o sono, a suplementação, os treinos que aconteceram durante a viagem. Tudo isso é importante", afirma.

O Palmeiras conseguiu também se precaver contra desfalques na atual edição. Por não saber se teria condições de inscrever Piquerez e Veron, com covid, que não embarcaram com o grupo, trouxe os campeões da Copinha Vanderlan e Giovani, para ficarem de sobreaviso.

Adaptar a questão sono

Pessoas que estiveram na delegação em 2021 contam que houve jogadores que quase nem mesmo conseguiram dormir durante o período compreendido entre o desembarque no Qatar, no dia 3 de fevereiro, e a estreia na competição, quatro dias depois. A reportagem, que enfrenta fuso de sete horas em Abu Dhabi, já em seu sexto dia —uma hora a mais que no Qatar— , atesta que a adaptação é muito complicada.

Em 2022, para minimizar tais efeitos, o Núcleo de Saúde e Performance do Palmeiras começou a adaptar os horários dos jogadores já no voo para os Emirados Árabes. Inverteu, forçadamente, o horário de alimentação e de sono, por meio de luzes acesas e apagadas de acordo com o modo que a luz externa estaria em Abu Dhabi.

E instituiu, literalmente, o Pijama Training. A expressão cunhada pelo ex-técnico da seleção brasileira Cláudio Coutinho nos anos 1970 significava descansar em vez de treinar. O Palmeiras subverteu a semântica e colocou os jogadores para treinar de pijama no avião.

Já em Abu Dhabi, teve cinco dias para aclimatar o time gradativamente, conforme explicou à TV Palmeiras o auxiliar técnico João Martins. Abarcando até mesmo questões como a alteração do horário de treinamento para que os jogadores fossem se acostumando com a queda de temperatura por vezes brusca que existe o dia e a noite na capital emiradense.

"Sabemos que tudo isso exige tempo, temos alguns dias para o jogo, e devagarinho, dentro desse tempo e dessa calma, vamos conseguir adaptá-los, sabendo que precisam ter muita energia para se adaptarem", avaliou Martins, antes da estreia da equipe.

O Palmeiras terá agora mais quatro dias até a final do Mundial. Terá completado, portanto, dez dias em uma nova realidade de tempo quando a bola começar a rolar no estádio Mohamed Bin Zayed.

Dez dias em que cada momento foi calculado para que houvesse condições máximas para que o título possa vir. Neste ano, ao contrário do que foi em 2021, a importância do que acontece em campo não será minada pelo que aconteceu, ou deixou de acontecer fora dele.