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Após vitória, Ceni diz não temer demissão: 'defendo meu estilo de jogo'

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

13/02/2022 22h56

Rogério Ceni voltou a falar sobre seu futuro à frente do São Paulo. Em entrevista coletiva depois da vitória de virada sobre a Ponte Preta por 2 a 1, o treinador disse não ser apaixonado por seu emprego, mas pelo futebol, o que faz com que sua preocupação não seja defender seu cargo, mas a maneira como gosta que suas equipes joguem.

A declaração surgiu quando Ceni foi questionado sobre a mudança de perfil da equipe da temporada passada para a atual. Depois de citar Rafinha e Éder como exemplo de líderes que ajudam a equipe, o treinador afirmou que seu time tem prazer pelo estilo de jogo adotado.

"É um time que tem prazer em ter volume de jogo, a posse de bola, trabalha bem as finalizações, vem crescendo com relação a isso. Esse é o mais importante: um treinador que é apaixonado pelo futebol, não pelo emprego. Ele é apaixonado pelo São Paulo por ter tido toda a vida que teve no São Paulo, mas não defendo meu emprego, defendo a maneira como gosto de jogar", afirmou.

Rogério Ceni vinha sendo contestado por causa do início ruim do São Paulo na temporada, que deixou a equipe na zona de rebaixamento do Paulistão, e por atitudes que incomodaram o elenco e os funcionários do CT da Barra Funda. As vitórias nas duas últimas partidas, contudo, deram respiro ao treinador e colocaram o time do Morumbi na zona de classificação para o mata-mata.

Durante outra resposta, enquanto falava sobre a condição física de seus jogadores, Ceni voltou a deixar seu futuro em aberto.

"Não posso falar tudo que falta, mas com relação à parte física a melhora é constante. A gente já viu contra o Red Bull uma reação que foi até os 42 do segundo tempo. Contra o Santo André, o time batalhando até o minuto 47, quando saiu o gol. Hoje, batalhando até o final também. Ou seja, fisicamente o time vai adquirindo um lastro maior, a gente vai tentando rodar as peças porque eu não quero chegar no começo do Brasileiro com o time arrebentado. Esse não é o intuito. O intuito é tentar no Brasileiro - se eu ainda estiver aqui até lá - fazer com que o time esteja mais inteiro", prosseguiu.

O São Paulo volta a campo na próxima quinta-feira (17), quando recebe a Inter de Limeira no Morumbi, às 21h30 (de Brasília). Será a chance de conseguir a terceira vitória consecutiva, uma sequência que não é atingida desde abril do ano passado.

Confira as respostas de Rogério Ceni na entrevista coletiva:

Qual a importância do Éder para o São Paulo?

Para a gente é importante (vitória no Moisés Lucarelli), na outra passagem joguei aqui e não havia vencido. O São Paulo estava havia sete anos sem ganhar. É um jogo sempre complicado e hoje tivemos total controle do jogo.

Com relação ao Éder, é um jogador que no ano passado não estava na melhor condição física possível e ele trabalhou muito nesse ano. É um cara muito profissional, trabalha bastante todos os dias. Observando os treinamentos, era necessário dar essa oportunidade para ele. O ganho técnico que ele agregou o time... um cara que joga tantos anos na Itália pode fisicamente não estar bem às vezes, mas é um cara com boa condição técnica. Acho que foi um diferencial para essa posse de bola, tabelas próximas à área no dia de hoje. Com certeza ele terá mais oportunidades.

As duas vitórias seguidas mostram uma evolução do time?

Na verdade, o que mostra um bom jogo, acho que não um jogo tão acima, mas um jogo bem melhor que os últimos são os números durante toda a partida. Esses mostram que o time esteve bem no jogo de hoje.

Claro que todo mundo vai fazer uma análise. "Fez dois gols no fim", mas é que o fim faz parte do jogo também, ele está embutido no todo. O gol poderia ter saído mais cedo, poderíamos ter evitado o gol sofrido, novamente em um erro nosso. As principais chances da Ponte foram através de erros nossos, em escolhas erradas na saída de jogo, que isso é uma coisa que temos que melhorar, mas construímos bastante durante todo o jogo e os gols vieram na parte final.

Rodízio no gol chegou ao fim?

Eu trabalho a cada dia, tenho dois, até três grandes goleiros, com o Thiago. E tenho o Volpi e o Jandrei... o Volpi há três anos no clube, o Jandrei agora jogando bem em todas as partidas que veio. A gente vai analisando dia após dia. Mas, para mim, não importa muito, importa o que cada um produz, o que vale para mim é o grupo, você inserir mais pessoas para ter um grupo maior para ter mais opções a cada jogo.

O time alcançou seu melhor futebol no final da partida?

Não. O final do primeiro tempo foi o melhor momento do jogo que nós tivemos, com muita troca de passe, penetrando, finalizando na área, alguns bons cruzamentos. O começo do segundo tempo foi ruim. Os primeiros 20 minutos nós nos perdemos um pouco no jogo e aí começamos a fazer as trocas e o time melhorou no final da partida.

As pessoas levam muito em consideração a melhora por causa dos gols, aqui a gente só analisa gols, a gente não analisa o todo. Mas para mim o primeiro tempo foi muito bem jogado, mas quando a gente sofre um gol, as pessoas tendem a esquecer o que você tentou construir no primeiro tempo.

O final, também pela pressão, da quantidade de atacantes que colocamos em campo, foi importante. Mais uma vez o time não desistiu, brigamos até o final, lutamos até o final, criamos muitas oportunidades de gols, diferentemente de outros jogos.

Até quando pretende manter o rodízio de atletas?

Eu gostaria que tivesse trocas desses três. Alisson e Sara são jogadores muito importantes porque entregam muito na recomposição, na parte física, eles são jogadores que se doam muito, inclusive foi um prêmio para o Sara esse gol de hoje, pela dedicação, o trabalho dele incansável durante todo o tempo.

Mas agora com o Nikão entrando em melhor forma, vamos pensar nisso para o próximo jogo, conversei bastante com ele. Ele não está acostumado a jogar continuamente nesse início de ano. Estamos tentando melhorar fisicamente. Acho que o Luciano pode voltar em uma semana, 10 dias, o Luan talvez demore um pouco mais pelo condicionamento físico. Mas o importante é que a gente encontre possibilidades e, onde a gente não tem, a gente está atento ao mercado.

As trocas são feitas apenas por questões físicas? Teme que elas atrapalhem a evolução?

Não, não. Eu sempre treino os 20 que vêm para o jogo, tirando os goleiros, lógico. Eu trabalho sempre com 20 fazendo a mesma movimentação no dia anterior ao jogo: 10 contra zero ou 20 contra 0, muitas vezes, dobrando posição. Então, todos eles se conhecem. Hoje mudamos um pouquinho a maneira de jogar dos outros jogos e a gente vai se adaptando ao esquema. Mas todos trabalham juntos, não têm problema nenhum de conhecimento, já vêm desde o ano passado. A diferença talvez seja os jogadores que chegaram, que ainda não têm um conhecimento tão grande dos que permaneceram do ano passado.

O que falta evoluir na equipe para a continuidade do torneio e da temporada?

Não posso falar tudo que falta, mas com relação à parte física a melhora é constante. A gente já viu contra o Red Bull uma reação que foi até os 42 do segundo tempo. Contra o Santo André, o time batalhando até o minuto 47, quando saiu o gol. Hoje, batalhando até o final também. Ou seja, fisicamente o time vai adquirindo um lastro maior, a gente vai tentando rodar as peças porque eu não quero chegar no começo do Brasileiro com o time arrebentado. Esse não é o intuito. O intuito é tentar no Brasileiro - se eu ainda estiver até lá - fazer com que o time esteja mais inteiro.

Hoje jogou o Igor Vinícius, não jogou o Rafinha. Provavelmente a gente faça a troca para o próximo jogo. Em algumas posições a tendência é que a gente vá fazendo assim. Hoje jogou o Éder e não o Calleri, porque eu quero evitar ao máximo o número de lesões e também dar oportunidade para que os jogadores se mostrem, como foi hoje o Éder, uma grata surpresa. Eu via no treinamento, mas desenvolveu um combinado muito melhor, é um jogador técnico.

Esse é um grupo mais vibrante e com mais psicológico do que ano passado?

A chegada do Rafinha é muito importante para isso. É um cara que é excepcional no comportamento diário, seja quando joga ou quando não inicia o jogo. Mas você vê um brilho nos olhos de um cara de 36 anos que ainda tem prazer em servir ao grupo, acho que isso é um exemplo muito positivo.

Outros também, como o Éder, que não reclamou em momento nenhum, mesmo quando esteve em situação ruim. Na verdade, eu acho que eles veem um treinador que não tem medo de ser mandado embora, um treinador que joga para frente o tempo todo, dentro de todos os problemas que têm.

Acho que contra o Bragantino e contra o Santo André e no dia de hoje. Não vamos ganhar todos os jogos, mas vamos competir todos os jogos. Isso é um ponto importante, acho que eles ficam felizes de ver um time que tenta jogar para frente.

Todo mundo fala que não temos um primeiro volante, que é um fato, o primeiro volante que temos é o Luan. Infelizmente, eu trabalhei 10 minutos com o Luan desde que eu cheguei. É um time que tem prazer em ter volume de jogo, a posse de bola, trabalha bem as finalizações, vem crescendo com relação a isso. Esse é o mais importante um treinador que é apaixonado pelo futebol, não pelo emprego. Ele é apaixonado pelo São Paulo por ter tido toda a vida no São Paulo, mas não defendo meu emprego, defendo a maneira como gosto de jogar.

Claro que vamos pegar times superiores ao nosso e não vamos conseguir vencer. Sofremos ainda na parte física e na de construção, mas não deixamos de lutar, de trabalhar.

O quão importante é o Sara para o equilíbrio da equipe?

Sara é um cara que joga 120 metros por minuto, é um cara que gira de acordo com o futebol europeu - de força física, vamos deixar bem claro.

Ele e o Alisson são jogadores que a necessidade impõe e eles vêm correspondendo com relação a isso. Mas também vão ter que descansar em algum jogo, tirá-los um de cada jogo porque eles já vêm de bastante... são jogadores que mais minutos jogaram.

Eu entendo às vezes a crítica, mas prestem atenção ao que esse menino se entrega ao jogo. "Ah, a entrega não é tudo". Eu sei, mas o talento não se sobrepõe ao desejo de vencer, a parte de doação. Ele é um adjetivo que você coloca no cara que tem espírito de luta. Então, se ele tem talento e tudo isso, ajuda bastante. Só o talento puro, sem se entregar, sem marcar, ajudar, não adianta.

Vitórias dão tranquilidade para que você mexa no time conforme as necessidades físicas?

Veja bem, eu tento fazer o melhor time que eu posso para cada jogo e tento analisar para que não tenha lesões, principalmente dos jogadores com um pouco de mais lastro. Jogadores um pouco mais velhos nós vamos tentando encaixar, e os mais jovens, que têm mais força, vão tentando suprir as necessidades. Nem sempre você consegue, por exemplo, são jogadores distintos, Igor Vinícius tem força e profundidade, Rafinha tem um cruzamento perfeito, são características diferentes, que você vai tentando mesclar e dar minutagem para cada um, confiança para cada um. Se jogarem uma vez por semana, vão chegar bem no meio da temporada. Você castigar um jogador como a gente está fazendo às vezes com o Sara, pode ser que ele não esteja bem lá. Mas o Alisson e o Sara são necessidades.

O Miranda foi uma opção nesses dois jogos. O Miranda para mim ainda é o melhor no um contra um do Brasil mesmo aos 37 anos. No um contra um defensivo ninguém ganha do Miranda. Mas como meu time fica de 60 a 66% com posse de bola durante todo o jogo, eu preciso da construção, e o Diego desenvolve isso pela juventude, pela energia que ele tem. E pelo nosso time ser relativamente baixo, Diego e Arboleda têm um jogo aéreo bom. Miranda vai jogar, se não jogar o próximo, vai jogar contra o Santos, vai ser o capitão do time, não há problema nenhum. É um ótimo jogador dentro da característica dele.

Qual a importância do Calleri para esse time?

O Calleri é um fazer de gols. O que ele tem de melhor é o último toque dentro da área, a finalização, a briga, um jogo aéreo relativamente bom. A técnica quem reúne é o Éder, que é um jogador muito técnico, entre os 9 com diferentes características.

Calleri é um fazer de gols, por isso tem jogado tanto. Ano passado não vinha jogando tanto, chegamos a preservar um pouco. Ele jogou 90 minutos contra o Guarani, me falou que não esperava ter jogado os 90 minutos. Então vamos de acordo com... ganho técnico é o Éder, Calleri é fazer de gols, um 9.

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