Condenado definitivamente por estupro, Robinho muda rotina e se isola
Robinho mudou a sua rotina após ser condenado por estupro coletivo na última instância da Justiça italiana, em 19 de janeiro de 2022.
O jogador já vivia um dia a dia mais isolado, mas está ainda mais recluso depois da pena final de nove anos de prisão na Itália. Como não pode ser extraditado, ele está livre no Brasil e fica na maior parte do tempo na sua casa, localizada no luxuoso condomínio Jardim Acapulco, no Guarujá (SP). Por outro lado, agora não pode sair do país, já que a Itália emitiu mandado de prisão internacional.
O atacante de 38 anos tem casa na cidade de Santos, mas opta por Guarujá neste momento pela privacidade. Ele não tem atualizado as redes sociais e evita qualquer aparição pública.
Nos últimos dias, por exemplo, Robinho foi ao seu barbeiro e surpreendeu os presentes no salão pelo silêncio. Ele entrou e saiu do espaço sem conversar e só disse o mínimo.
"Não deu um sorriso", disse um interlocutor, ao UOL Esporte.
Robinho tinha o hábito de jogar futevôlei na praia na altura do Canal 6 de Santos. Nos últimos dias, entretanto, trocou as areias por uma quadra particular na sua casa do Guarujá.
Aposentadoria?
Robinho ainda não admite oficialmente o fim da carreira, mas pessoas próximas a ele acreditam que as chuteiras já foram penduradas. O atacante recusou sondagens recentes de clubes pequenos depois de viver a expectativa de voltar ao Santos.
Antes do último julgamento, o UOL Esporte ouviu de pessoas próximas a Robinho que ele esperava ser inocentado para ter uma nova chance de vestir a camisa do Peixe, seu clube do coração, nem que fosse para uma despedida. Esse sonho ficou inviável com a condenação na última instância.
Com futuro incerto, o jogador treina para manter a forma física em uma academia própria.
Mesmo sem jogar mais, ele não deve ter problemas financeiros. O atleta tem economias, principalmente após a passagem pelo futebol chinês (Evergrande) —ele ainda jogou por Real Madrid, Manchester City e dois clubes da Turquia (Basaksehir e Sivasspor)—, e tem dinheiro aplicado em investimentos.
Um amigo do atacante falou ao UOL Esporte que, sem loucuras, "tem dinheiro para ele, os filhos e os netos".
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Santos sem vínculo
O Peixe terminou de pagar em janeiro deste ano uma dívida com Robinho da época do ex-presidente Modesto Roma (2015/17). O valor total era de R$ 2,3 milhões e foi renegociado para R$ 1,8 milhão. As parcelas foram de R$ 150 mil.
O Santos do ex-presidente Orlando Rollo contratou Robinho em outubro de 2020, mas suspendeu o acordo antes mesmo da reestreia por causa da pressão de patrocinadores. Andres Rueda assumiu o posto de mandatário do Alvinegro em janeiro de 2021 com a esperança de rescindir logo de cara, porém, os custos seriam elevados e a decisão foi de esperar o término do vínculo, em 28 de fevereiro de 2021.
Robinho havia assinado um contrato curto, com possibilidade de renovação, e salário simbólico. À época, o atacante falou sobre a decisão do Santos.
"Estou aqui com tristeza no coração para falar a vocês que tomei a decisão, junto ao presidente, de suspender meu contrato diante desse momento conturbado da minha vida. Meu objetivo sempre foi ajudar o Santos. Se de alguma forma estou atrapalhando, melhor que eu saia e foque nas minhas coisas pessoais. Com certeza vou provar minha inocência", disse.
Na mesma semana, ele afirmou ao UOL Esporte que "o crime foi trair a esposa".
Palavra da vítima
A mulher albanesa que foi vítima de violência sexual de grupo cometida pelo jogador Robinho e seu amigo Ricardo Falco se pronunciou pela primeira vez em mensagem enviada com exclusividade ao UOL Esporte. R. (que não quer ser identificada) pede que as mulheres denunciem seus agressores e não tenham medo.
"Mulheres, denunciem, não tenham medo de seus agressores porque diante de cada agressor há outras dez pessoas boas prontas a te ajudar: um amigo, um familiar, um policial competente, um juiz, mas, sobretudo, a Justiça", disse.
Na mensagem, R. afirma que a Justiça nunca pagará a dor de um crime, mas tem o poder de ajudar outra mulher a não sofrer violência sexual.
"Mesmo que ela [Justiça] não seja totalmente reconfortante, porque nunca pagará a dor, a raiva ou fará você voltar a ser a pessoa que era antes, a Justiça será reconfortante para outra mulher. Uma mulher que pode ser nossa mãe, nossa amiga, nossa irmã ou nossa filha. Só denunciando podemos evitar que isso volte a acontecer", afirma.
A vítima, diferentemente de Robinho, esteve presente em todas as audiências e, em cada uma delas, teve de reviver o horror daquela noite que deveria ser de alegria e virou pesadelo. Após o crime, a mulher procurou o advogado Jacopo Gnocchi e, junto a ele, prestou denúncia na polícia de Milão que, imediatamente, abriu uma investigação sobre o caso.
Entenda o caso
O caso de estupro coletivo aconteceu em Milão, na boate Sio Cafe, durante a madrugada de 22 de janeiro de 2013. A vítima é uma mulher albanesa que, na época, comemorava seu aniversário de 23 anos. Além de Robinho, que então defendia o Milan, e Ricardo Falco, amigo do atleta, outros quatro brasileiros foram denunciados por terem participado do ato.
Como já haviam deixado a Itália no decorrer das investigações, eles não foram avisados da conclusão das investigações e por isso não foram processados. O caso contra esses quatro brasileiros está suspenso até o momento, mas pode ser reaberto, principalmente agora que a última instância da Justiça italiana confirmou a condenação de Robinho e Falco.
Robinho admitiu ter mantido relação sexual com a vítima, mas negou as acusações de violência sexual, quando foi interrogado, em 2014. Em entrevista ao UOL Esporte em outubro de 2020, o jogador afirmou que não abusou sexualmente da mulher.
Ele não compareceu a nenhuma das audiências nos quase seis anos de julgamento. O processo, que iniciou em 2016, teve a sentença de primeiro grau proferida em 23 de novembro de 2017. O caso voltou à tona em outubro de 2020 quando o site "Globoesporte.com" publicou trechos de conversas interceptadas pela polícia, nas quais Robinho e os amigos fazem pouco caso da vítima.
"Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu", escreveu o jogador em uma das conversas.
Novas condenações
Ao longo do processo, a defesa de Robinho alegou que algumas traduções estavam erradas, que transcrições das conversas grampeadas deixavam dúvidas e que era impossível provar que a vítima estava em condição de inferioridade psíquica e física como descrito na sentença de primeiro grau.
Mesmo assim, em dezembro de 2020, a corte de Apelação de Milão, segunda instância da justiça italiana, em audiência única, confirmou a condenação do atacante e de Falco a nove anos de prisão.
De acordo com a juíza italiana Francesca Vitale, que presidiu o julgamento em segunda instância, "a vítima foi humilhada e usada pelo jogador e seus amigos para satisfazer seus instintos sexuais".
"O fato é extremamente grave pela modalidade, número de pessoas envolvidas e o particular desprezo manifestado no confronto da vítima, que foi brutalmente humilhada e usada para o próprio prazer pessoal", escreveu a magistrada.
A defesa do brasileiro, então, apelou à Corte de Cassação, a terceira e última instância italiana, mas teve o recurso rejeitado. E a pena de nove anos foi mantida.
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