Mercadão, malandragem e deboche: volta do Flamengo agita a capital do samba
Capital carioca do samba e templo do "Baile Charme", Madureira voltou a ser a terra do futebol por uma tarde. Após nove anos, o estádio Aniceto Moscoso recebeu novamente o Flamengo em suas dependências, e a passagem rubro-negra foi suficiente para sacudir um pouco mais a rotina de um dos mais agitados bairros do subúrbio do Rio de Janeiro.
É bem verdade que o preço dos ingressos (R$ 120) afugentou os rubro-negros, que compareceram em baixo número —foram apenas 1.009 pagantes. Mas a presença de craques como Gabigol e companhia fez que o vermelho se espalhasse pelas ruas daquele pedaço do Rio, se juntando ao azul e branco da Portela e ao verde e branco do Império Serrano.
Horas antes de a bola rolar, o movimento de rubro-negros era nítido no Mercadão de Madureira, um dos polos de comércio popular mais famosos da Cidade Maravilhosa. Em meio a centenas de lojas de artigos para festa, brinquedos, acessórios e fantasias de Carnaval, torcedores rubro-negros se misturaram ao vaivém de consumidores e aproveitaram para espiar os preços.
Ainda que o mercado estivesse longe de seus dias cheios, o jogo foi bom para alguns comerciantes. Trajada com uma camisa com o nome de Diego às costas, uma vendedora de uma loja de brinquedos disse que as vendas seguiam fracas. Para Júlio, recepcionista e atendente de um restaurante por quilo, no entanto, o Fla ajudou a engordar o cofre.
"Se fosse sempre assim, melhorava bem. Tem que ser sempre no meio da semana esses jogos contra os grandes, o Vasco veio aqui no domingo. Mas aí não adianta, a gente fecha esse dia", disse ele. O pontapé inicial foi às 15h30, e o Flamengo venceu por 2 a 1.
Apesar da intensa fiscalização na Rua Conselheiro Galvão, o comércio popular também faturou mais um pouquinho. Mais longe dos fiscais da Prefeitura do Rio e da Guarda Municipal, ambulantes que trabalhavam na Avenida Ministro Edgard Romero, a principal de Madureira, vendiam de comida a acessórios para casa e também pegaram uma carona na popularidade do Fla.
"Espuminha do Mengão é R$ 5", gritava um vendedor que vendia um tubo com espuma que é popular no Carnaval.
Churrasquinho na laje
Do lado de dentro da sede social, o clima foi de calmaria, mas a tranquilidade foi interrompida com a chegada do Flamengo a Conselheiro Galvão. O elenco entrou e foi recepcionado por dezenas de torcedores que gritavam por um aceno. Do alto, torcedores de rubro-negros em uma laje curtiam um churrasco e a visão privilegiada que tinham para o campo.
Mascote da malandragem
Na porta do Aniceto Moscoso, o "Seu Madura", mascote que representa a malandragem do bairro, animava a galera na chegada. Em pleno verão carioca, o personagem sofreu um pouquinho com o calor, mas escapou para dentro da sede para tirar a "cabeça" e se refrescar um pouco. Na hora do jogo, nada de sombra e água fresca. Com um pandeiro na mão, Madura agitou o pessoal que estava nas cadeiras sociais e posou para fotos.
"Aqui só se torce para o Madureira?"
Na entrada do setor destinado aos torcedores da casa, uma frase pintada na parede chama a atenção: "Aqui só se torce para o Madureira". Uma torcedora mais desavisada quase que fez o lema ir para o brejo, mas foi impedida por um policial que que avisou que ela estava no setor errado:
Aí já é bagunça demais também. Precisava vir de camisa do Flamengo?"
Lojinha e papagaio
Em dia de Flamengo, a lojinha com produtos do Madureira recebeu mais visitantes, mas as vendas não foram lá essas coisas. O item que mais fez sucesso foi a camisa com alusão à Império Serrano. Também não podemos deixar de notar que, em frente ao auditório do clube, uma gaiola com um papagaio intrigou algumas pessoas.
Paçoca, jacaré e Mister
Em início de trabalho no Flamengo, Paulo Sousa ainda não tinha conhecido nenhum dos alçapões do futebol carioca. Em sua primeira experiência, sofreu com a proximidade do torcedor e teve de lidar com provocações.
"Tá mal, Paulo", debochou um deles.
Mas Diego Alves e Andreas foram os alvos escolhidos pela torcida local. Após o gol tricolor, um torcedor não se conteve e passou boa parte da partida provocando o camisa 1, que fez sua estreia na temporada.
"Sai daí, braço de jacaré. Sou muito mais o Hugo".
Andreas, que fez partida ruim, foi brindado com gritos irônicos de "valeu, Paçoca" e "entregador de paçoca", em referência ao lance na decisão da Libertadores que resultou no gol do título palmeirense.
Era o máximo de mau-humor ou insatisfação que cabia para aquela tarde em Madureira. Após o apito final, alegria em Conselheiro Galvão. Em um lugar que tanto sabe festejar, a vitória do Flamengo deu um pouco mais graça para uma tarde com ares de um Carnaval fora de época.
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